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O que é gravidez tardia?
É considerada uma gravidez tardia aquela que ocorre após o período classificado como ideal pela medicina para uma mulher ter um bebê, normalmente após os 35 anos de idade.
Essa gestação é classificada como uma gravidez de risco, devido às maiores chances de complicações obstétricas e riscos fetais relacionados tanto ao envelhecimento ovariano quanto à presença de doenças crônicas pré-existentes na mulher, que tendem a aumentar com o decorrer da idade.
Existe uma idade ideal para engravidar?
A queda da fertilidade feminina com o avanço da idade é um fator biológico. Desse ponto de vista, estudos científicos apontam que o período entre 20 e 29 anos é considerado o ideal para engravidar, uma vez que mulheres acima ou abaixo dessa faixa etária estão mais suscetíveis a complicações obstétricas e problemas que podem prejudicar a saúde do bebê.
Todavia, enquanto esse período pode ser considerado tarde para algumas, ele também pode ser visto como muito precoce para outras. "Apesar da gravidez ser um processo fisiológico, ela também envolve outros campos da vida feminina, que também devem ser levados em consideração", explica Carla Iaconelli, médica ginecologista, obstetra e especialista em Reprodução Humana.
Por consequência, a maternidade não se trata somente de uma questão de fertilidade, mas de fatores sociais e econômicos, que também têm um papel importante na vida de mulheres que escolhem adiar a gravidez em função de outros projetos de vida.
Por que as mulheres estão escolhendo ter filhos mais tarde?
Uma das principais razões para as mulheres adiarem o sonho da maternidade é a carreira profissional. Para se consolidar no mercado de trabalho, a mulher tem deixado cada vez mais os projetos pessoais de lado, tornando a gravidez tardia um fenômeno no mundo inteiro.
Além disso, muitas mulheres adiam a gravidez com o objetivo de conseguirem estabilidade financeira e um ambiente mais cômodo para ter um bebê.
"As mulheres estão priorizando a carreira e estudos antes de ter filhos. Hoje temos uma grande parte das mulheres engravidando após os 35 anos de idade, e com as melhorias das técnicas de reprodução assistida, mulheres que jamais teriam um bebê estão engravidando aos 50 anos ou mais", esclarece o médico Gustavo Teles, especialista em reprodução assistida na Huntington Medicina Reprodutiva.
De acordo com Carla Iaconelli, o conceito de "idade ideal" para ter filhos sofreu modificações ao longo do tempo, especialmente devido às mudanças dos hábitos sociais - mas também devido aos avanços da medicina.
Quais os riscos de uma gravidez tardia?
A idade biológica é um fator que afeta diretamente a capacidade reprodutiva feminina e os riscos de complicações durante a gestação aumentam gradativamente conforme a mulher envelhece - principalmente devido a diminuição no número e na qualidade dos óvulos. A mulher, que já nasce com uma quantidade delimitada de gametas, descarta milhares deles ao longo da vida, principalmente durante o período menstrual.
Naturalmente, a condição dos óvulos também muda de acordo com a idade, já que eles envelhecem junto com o corpo - fato que aumenta o risco de alterações genéticas. Por consequência, um óvulo com alterações cromossômicas que é fertilizado tem uma possibilidade menor de sobreviver. Caso sobreviva, a incidência de doenças e outras condições que afetam o bebê aumenta.
Riscos para o bebê
O aborto espontâneo é um dos principais riscos de uma gravidez tardia, já que está relacionado também às alterações genéticas da idade. Aos 35 anos, as chances de uma mulher sofrer um aborto é em torno de 20%. Aos 40 anos, essa taxa sobe para 40%. Quando a mulher completa 45 anos, a estimativa chega a 80%.
Segundo Carla Iaconelli, o bebê também está sujeito a outros problemas, como:
- Parto prematuro
- Morte fetal (natimorto)
- Síndrome de Down
- Restrição de crescimento intrauterino.
Riscos para a mãe
Quanto mais velha for a gestante, mais suscetível ela está de desenvolver doenças crônicas, que podem afetar diretamente a saúde materna e fetal durante a gravidez. Entre os principais riscos para a mulher estão:
- Pré-eclâmpsia
- Diabetes gestacional
- Síndrome de HELLP
- Obesidade.
Vantagens da gravidez tardia
É importante ressaltar que uma gravidez tardia não se resume somente a complicações obstétricas. Segundo Carla Iaconelli, a maturidade é o maior benefício de quem escolhe ser mãe mais tarde.
"Geralmente, as mulheres se encontram com uma maior estabilidade financeira e têm mais maturidade para lidar com as situações. Nessa fase, também será possível dedicar um pouco mais de tempo para o filho do que o habitual", explica a especialista em Reprodução Humana.
O médico Gustavo Teles acrescenta ainda que, embora essas sejam as maiores vantagens da mulher dessa faixa etária, "cada indivíduo é único e sua maturidade não depende apenas da idade, mas, sim, de vivências e experiências vividas".
Cuidados no pré-natal de uma gravidez tardia
Assim como em qualquer situação, o pré-natal de uma gravidez tardia deve ser iniciado assim que a gestação é confirmada. Embora não existam muitas diferenças entre o acompanhamento de uma gravidez de risco e aquela de baixo risco, a médica Carla Iaconelli ressalta que é de extrema importância realizar um pré-natal de muita qualidade, uma vez que isso pode diminuir os possíveis riscos oferecidos pela gestação.
Por isso, a primeira consulta de planejamento é primordial para que o especialista solicite os exames necessários e inicie a administração de qualquer medicação necessária. Ao contrário de um acompanhamento comum, as consultas devem ser feitas a cada quinze dias, para que o médico possa realizar o controle clínico para doenças pré-existentes.
Conforme acrescenta Carla, a mulher deve ingerir ácido fólico durante o período gestacional, seguindo as orientações médicas adequadas. A vitamina, além de ajudar na prevenção de doenças como a pré-eclâmpsia e a anemia, também previne lesões no tubo neural do bebê - estrutura fundamental para o desenvolvimento completo de seu sistema nervoso.
"Além disso, também é importante a gestante manter uma alimentação saudável e a prática de atividades físicas regulares e sob orientações, evitando sempre o consumo de tabaco e álcool", acrescenta.
Como se determina o tempo da gravidez
De acordo com a médica, a idade gestacional para mulheres com o ciclo menstrual regular pode ser calculada de acordo com a última menstruação, pois é pressuposto que a ovulação e a concepção aconteceram cerca de 14 dias após a última menstruação.
Contudo, para mulheres que não possuem o ciclo menstrual regular, é essencial realizar o exame de ultrassom da gravidez o mais rápido possível, pois quanto mais precoce for o exame, menores as margens de erro.
Como é o parto de uma gravidez tardia?
Não existem contraindicações para a realização de partos normais em mulheres com uma gravidez tardia, segundo Carla Iaconelli. No entanto, em alguns casos, a cesárea é o procedimento mais indicado e escolhido pelas gestantes, devido às dores e à duração de um parto normal.
"Devemos lembrar que se trata, na maioria das vezes, de gestações supervalorizadas. Então, todo cuidado é pouco", afirma Gustavo Teles, médico especialista em reprodução assistida da clínica Huntington Medicina Reprodutiva.
Índice de sucesso de uma gravidez tardia
Em geral, é difícil saber com exatidão o índice de sucesso de uma gravidez tardia, tendo em vista que ela varia de acordo com o índice de fertilidade e a forma que a mulher engravidou. Porém, de acordo com o médico Gustavo Teles, é possível fazer uma pequena comparação.
Segundo o especialista, uma mulher de 25 anos tem cerca de 25% de chance de gravidez por ciclo. Já uma mulher de 40 anos possui aproximadamente 8%. Em casos de gravidez ocorrida graças a tratamento de fertilização in vitro, por exemplo, as taxas podem variar de 30% a 50%, dependendo do caso.
Cuidados para conseguir engravidar após os 35 anos
O mais indicado para as mulheres com mais de 35 anos que desejam engravidar é buscar um aconselhamento médico especializado, de preferência três meses antes de começar com as tentativas naturais - uma vez que isso irá auxiliar o médico a identificar possíveis fatores de risco.
Em casos de doenças pré-existentes, como hipertensão e diabetes, Carla acrescenta que é de extrema importância que essa mulher seja assistida, para que não acarrete ainda mais riscos para ela e para o bebê.
"Se pensarmos mais friamente, uma gestação ao redor dos 30 anos gera complicações ainda pequenas. Após os 40, além de se saber sobre esse status de saúde, provavelmente esse casal precisará de ajuda para engravidar, pois quanto maior a idade, maiores as taxas de infertilidade", explica Gustavo Teles.
Hoje em dia, existem diversos tratamentos que ajudam as mulheres a alcançarem o sonho da maternidade, principalmente para as que adiaram a gravidez e não conseguiram ter um bebê posteriormente. Segundo especialistas, seis meses é o tempo máximo para tentativas naturais. Após isso, os médicos podem recomendar alguma técnica de reprodução assistida, como:
Coito programado
O coito programado é um método de fertilização que consiste na administração de medicamentos indutores da ovulação, de modo a aumentar as chances de gravidez. Após o procedimento, o casal é orientado sobre o melhor período para ter relações sexuais e conseguir a gestação. A taxa de sucesso varia de 10% a 12% e o preço do procedimento gira em torno de R$ 1.500.
Fertilização in Vitro (FIV)
Apesar do custo alto, a Fertilização in Vitro é a técnica de reprodução assistida de alta complexidade que apresenta a maior taxa de sucesso, girando em torno de 30% a 50%, dependendo do caso. No geral, ela consiste na coleta de gametas para que a fecundação seja feita em laboratório, para que, posteriormente, esses embriões resultantes sejam transferidos para o útero da mulher. O preço do procedimento é de, em média, R$ 15 a 25 mil por ciclo ou tentativa.
Inseminação Intrauterina
Também chamada de inseminação artificial, a técnica consiste na injeção de espermatozóides previamente selecionados em laboratório dentro do útero da mulher durante seu período fértil, facilitando a fertilização do óvulo. A taxa de sucesso, porém, não é tão alta e gira em torno de 15% a 20% dos casos. O preço do procedimento é de, em média, R$ 5.000 por ciclo ou tentativa.
Congelamento dos óvulos: como funciona?
A busca por congelar os óvulos é outro método que vem ganhando cada dia mais espaço entre as mulheres que desejam postergar a gravidez. Mesmo com o avanço da medicina, ainda não foi encontrada uma forma de rejuvenescer os óvulos femininos. Por isso, o congelamento é uma alternativa que permite conservá-los, mesmo que a mulher envelheça.
Porém, mesmo com a escolha pelo congelamento de óvulos, o mais indicado é que a mulher realize o procedimento até os 35 anos de idade, uma vez que ela possui as melhores expectativas em relação a qualidade dos óvulos nessa faixa etária.
Ainda que não exista idade limite para congelar os óvulos, quanto mais cedo isso é feito, maiores são as chances de sucesso de ter uma gestação no futuro.