Médica formada pela Universidade Federal do Paraná. Residência Médica em Ginecologia e Obstetrícia pelo Hospital das Clí...
iO planejamento familiar é um direito de todo cidadão brasileiro, segundo a lei federal 9.263/96, e simboliza a escolha do melhor momento para a chegada do(s) filho(s). Porém, é importante lembrar que existem diferentes modelos de família e os tratamentos de fertilidade podem ajudá-las a crescer. Neste sentido, a reprodução assistida transforma esse sonho em vida auxiliando quem, por algum motivo, não consegue engravidar.
Dados recentes da Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (PNAD), do IBGE, apontam que atualmente seis de cada dez lares brasileiros abrigam novas configurações familiares, formadas por mulheres que se divorciaram e criam seus filhos sozinhas, que optaram por uma produção independente, casais homoafetivos, com ou sem filhos, e diferentes tipos de famílias monoparentais.
Deste modo, é importante saber que existe uma técnica de reprodução assistida mais adequada para cada caso. As particularidades de cada família devem ser consideradas para que o atendimento seja personalizado e o procedimento proposto tenha mais chances de sucesso.
Vale complementar que a medicina reprodutiva está aí para fornecer alternativas eficazes e seguras, de maior ou menor complexidade, e com distintas taxas de êxito para que o desejo de todos seja realizado. Além disso, durante todo o tratamento, é de suma importância o acompanhamento médico especializado.
Casais heteronormativos
O tratamento mais adequado dependerá da causa da infertilidade do casal. Uma técnica menos complexa é o coito programado, no qual a ovulação é induzida e estimulada após a ingestão de medicamentos específicos e, por meio do ultrassom, é feito o acompanhamento do crescimento dos folículos ovarianos.
Então, o casal é orientado sobre o melhor momento para ter relações sexuais, próximo ao dia da ovulação, aumentando as chances de êxito. Esse procedimento é indicado principalmente para mulheres que tenham alterações de ovulação - como pela síndrome do ovário policístico ou outra alteração hormonal - com trompas e úteros normais, e homens com espermatozoides em número e qualidade normais.
Outro tratamento que possibilita a fecundação natural é a inseminação intrauterina, popularmente conhecida como inseminação artificial. Diferente do coito programado, nesse procedimento, é inserido, no período ovulatório, o sêmen processado (ou seja, com mais concentração e número de espermatozoides) por meio de um cateter no interior do útero - semelhante a um exame ginecológico comum.
É um tratamento sugerido principalmente para homens com alterações leves de espermograma e mulheres que tenham endometriose leve. Vale também para casais que já tenham feito o coito programado sem sucesso ou sem motivo identificado para não conseguirem engravidar.
Outra opção é a Fertilização In Vitro (FIV), tratamento onde é realizada a retirada de óvulos diretamente do ovário, analisada a qualidade deles e feita a união com o espermatozoide em laboratório para a posterior transferência do embrião para o útero.
Trata-se da única técnica que permite a análise mais detalhada dos óvulos e espermatozoides e é recomendada para quem possui alteração nas trompas (seja por doença infecciosa ou endometriose profunda), e para mulheres acima de 38 anos (gravidez tardia), quando normalmente existe qualidade e quantidade ovariana mais baixas.
A FIV também é recomendada para casais que tenham doenças genéticas que necessitem de uma pesquisa genética no embrião ou se o homem tem alteração grave de espermatozoides que impossibilita uma fertilização natural. É sugerida ainda para quem sofreu aborto de repetição e para casais que já fizeram outros tratamentos de reprodução assistida e não tiveram êxito ou que têm infertilidade sem causa aparente.
Produção independente
Nesse caso, a mulher precisa recorrer a um banco de sêmen para escolher um doador e, dependendo da sua idade, da reserva ovariana e da função da trompa, pode optar junto ao especialista pela inseminação intrauterina ou pela fertilização in vitro.
Até os 35 anos com esses quesitos citados normais, a inseminação traz excelentes resultados, sendo uma técnica mais simples. Já para quem possui baixa reserva ovariana, principalmente após os 38 anos, e com alterações nas atividades das trompas ou endometriose profunda, o mais recomendado é a fertilização in vitro, pelas maiores chances de êxito.
Casais homoafetivos masculinos
Para fazer a fertilização in vitro nesses casos, são necessários os óvulos de uma doadora e uma candidata a ser o útero de substituição. Dessa maneira, é feita a formação do embrião em laboratório com o sêmen de um dos parceiros e a transferência para o útero da voluntária.
A ovodoação no Brasil é anônima e não remunerada. Segundo a nova resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM), a doação de óvulos, assim como o útero de substituição, pode ser realizada por uma pessoa conhecida, desde que seja parente de até 4° grau de um dos membros do casal e que seja excluída a consanguinidade para a formação do embrião.
Se for a mesma mulher para ambos os processos, pode ser feita a inseminação intrauterina com sêmen de um dos parceiros, desde que a análise do sêmen seja normal. Já se for por uma doação anônima, tem que ser realizada a fertilização in vitro.
Casais homoafetivos femininos
Para esses casais, é possível realizar a inseminação intrauterina injetando o sêmen de um doador no útero de uma das parceiras. Outra alternativa é a fertilização in vitro, com a fertilização do óvulo em laboratório e transferência do embrião para o útero. Pode ser na mesma mulher que forneceu o óvulo ou na sua parceira e, assim, uma seria responsável pelo gameta e a outra, por gestar.
Maternidade tardia
Nos últimos dez anos, o número de mulheres que têm filhos mais tarde cresceu. Mas é importante saber que o envelhecimento natural afeta a qualidade dos óvulos, principalmente após os 35 anos e acentuadamente depois dos 38 e 40 anos.
A escolha por ter uma gravidez tardia deve ser munida de informações sobre as chances de concepção, para que as mulheres entendam os riscos e opções que possuem para otimizar a oportunidade de se tornarem mães. Essa possibilidade de adiar a gravidez deve-se ao avanço de técnicas de congelamento de óvulos e embriões, assim como das técnicas de fertilização in vitro.
Entretanto, é necessário sempre considerar que, para conservar uma boa perspectiva reprodutiva, o ideal é que os óvulos sejam congelados quando a mulher é mais jovem - de preferência até os 35 anos. Lembrando que isso não representa uma garantia de gravidez, mas pode melhorar as taxas de sucesso futuras.
Por isso, é importante conversar com especialistas para um bom aconselhamento e tomar uma decisão mais adequada e segura. Devem ser realizados exames para monitorar a reserva ovariana, assim como para entender os riscos obstétricos que também aumentam com a idade, questões de saúde geral e uso de medicamentos.