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O que é Síndrome de Reiter?
A Síndrome de Reiter é uma doença reumática que pertence ao grupo das espondiloartrites, caracterizada por uma inflamação nas vértebras e articulações que se desenvolve após um evento infeccioso do trato gastrintestinal ou do trato geniturinário (relacionados à excreção da urina).
Todavia, o termo entrou em desuso e, atualmente, a nomenclatura correta é Artrite Reativa - por ser um tipo de doença que ocorre como consequência de uma infecção. Além das articulações, essa doença também pode acometer os olhos, a pele e o trato gastrointestinal.
"A resposta do hospedeiro resulta em acometimento inflamatório de estruturas osteoarticulares, de olhos e pele, mediados por componentes da resposta imune", esclarece Nilton Salles, reumatologista e professor do curso de Medicina da Universidade Santo Amaro (Unisa).
A artrite reativa, também conhecida como artrite pós-infecciosa, afeta entre 1% a 4% dos pacientes que passaram por um episódio de infecção, sendo mais comum em homens entre vinte e quarenta anos de idade.
O que causa a Síndrome de Reiter?
A artrite reativa é causada como consequência de um processo inflamatório que acomete o trato geniturinário, mais comumente provocado pela bactéria sexualmente transmissível Chlamydia trachomatis.
A doença também pode ocorrer após um episódio de infecção do trato gastrointestinal (gastroenterite), normalmente causado por bactérias adquiridas por alimentos contaminados. Segundo Nilton Salles, são elas:
- Salmonella
- Shigella
- Yersinia
- Campylobacter
- Clostridioses.
"A evolução [da artrite reativa] pode ser autolimitada, ou seja, a doença acaba após certo tempo. Ou pode acontecer a cronificação, com necessidade de tratamento e acompanhamento por longo prazo", explica Salles.
Fatores de risco da Síndrome de Reiter
Existem alguns fatores que podem contribuir para o aumento dos riscos do paciente desenvolver a artrite reativa. Segundo Nilton Salles, são eles:
- Em casos de infecção genital, pacientes homens costumam apresentar a doença mais frequentemente
- A presença do fator genético HLA-B27 pode aumentar as chances de ter a doença, mas não é necessário ter este fator para que a doença ocorra
- O consumo de alimentos sem adequada cocção ou cuidados na manipulação pode aumentar o risco de contaminação por bactérias patogênicas que podem resultar em infecções intestinais
- O comportamento sexual inseguro aumenta o risco de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), incluindo a por Chlamydia trachomatis.
Sintomas da Síndrome de Reiter
Dor, edema e rigidez de articulações, mais frequentemente joelhos e tornozelos, são os principais sintomas da artrite reativa. A dor também pode acometer os pés, quadris e coluna lombar.
Segundo Salles, as inserções de tendões e ligamentos, conhecidas como enteses, também podem ser afetadas, em especial o tendão de Aquiles e a fáscia plantar. Outros sintomas podem incluir:
- Dactilite: condição em que os dedos inteiros ficam inflamados como se parecessem salsichas
- Conjuntivite
- Dor para urinar
- Inflamação do colo do útero ou da próstata
- Ceratodermia (ou queratoderma), caracterizada pelo espessamento anormal da pele das palmas, plantas e dorso de mãos e pés
- Lesões avermelhadas na glande, conhecidas como balanite circinada
- Aftas orais.
"As queixas articulares são bem marcantes, e costumam responder inicialmente a anti-inflamatórios. Entretanto, a automedicação pode atrasar o tratamento correto e o paciente deve se consultar com o reumatologista tão logo identifique os sintomas", recomenda Salles.
Diagnóstico da Síndrome de Reiter
O diagnóstico da artrite reativa é clínico e deve ser realizado por um médico reumatologista, especializado no cuidado da doença.
"É preciso identificar o acometimento articular, o padrão de rigidez condizente com a presença de inflamação e relacionar com o episódio de infecção que antecede o aparecimento dos sintomas em 1 a 4 semanas. A presença de alterações dos olhos e pele é menos frequente, mas chama mais a atenção para a artrite reativa", elucida o reumatologista Nilton Salles.
Segundo o especialista, o episódio infeccioso intestinal não costuma estar ativo no momento do diagnóstico da artrite reativa, então a pesquisa das bactérias não gera resultados positivos. "Já o quadro de infecção por Chlamydia pode apresentar ou não sintomas, então sempre é necessária a pesquisa da infecção", acrescenta.
Tratamento de Síndrome de Reiter
O tratamento da artrite reativa irá depender dos sintomas e da infecção que originou o problema. Nesses casos, o uso de antibióticos pode ser indicado para tratar o quadro infeccioso ativo, especialmente por Chlamydia. "É importante lembrar que, nestas situações de infecção sexualmente transmissível, o parceiro precisa de avaliação e tratamento", acrescenta Nilton Salles.
A princípio, as manifestações articulares costumam ser tratadas com a administração de analgésicos e anti-inflamatórios. Em situações de refratariedade, menos comuns, podem ser usadas medicações imunossupressoras como sulfassalazina ou metotrexato, ou mesmo imunobiológicos, segundo Salles.
Quando a resposta a esses medicamentos não é satisfatória, o uso de corticoides orais ou intra-articulares pode ser recomendado para reduzir a inflamação de alguns locais do corpo.
"É importante discutir com seu médico sobre os cuidados com o uso das medicações. A adesão ao tratamento, retornos frequentes às consultas, boas práticas de higiene na alimentação, prática de atividades físicas são fundamentais para o bom prognóstico", aponta Salles.
Fisioterapia para tratar a Síndrome de Reiter
Como complemento do tratamento medicamentoso, o especialista pode recomendar a realização de fisioterapia, a fim de manter a mobilidade das articulações e evitar seu enrijecimento. Além disso, os exercícios ajudam a aliviar os sintomas e prevenir as deformações que podem ocorrer como consequência da doença.
Além da fisioterapia, a realização de exercícios físicos, alongamentos e o uso de órteses, como palmilhas e calcanheiras, também podem ser indicados.
Complicações da Síndrome de Reiter
A maioria dos casos de artrite reativa tem resolução espontânea em até 12 meses e normalmente não resulta em sequelas. Para os casos crônicos, a ausência de tratamento adequado leva à incapacidade funcional e perda de qualidade de vida, conforme explica Nilton Salles. Eventualmente, o paciente pode apresentar sequelas articulares.
Como prevenir a Síndrome de Reiter?
Uma vez que a doença se desenvolve como consequência de evento infeccioso, a principal forma de prevenção é evitar a infecção, adotando hábitos mais saudáveis. "O consumo de alimentos sem garantia de higiene ou inspeção sanitária devem ser evitados para não ocorrer infecção intestinal", explica Nilton Salles.
Além disso, o uso de preservativo durante a relação sexual é essencial para evitar a infecção por Chlamydia e outras ISTs.
A Síndrome de Reiter tem cura?
Na maioria dos casos de artrite reativa, com um tratamento adequado, o paciente apresenta uma melhora após um período de 3 a 5 meses.
Todavia, é possível que a condição evolua para uma artrite crônica, doença grave que provoca inflamação e dor nas articulações afetadas, podendo incapacitar o paciente. Em casos como esse, será necessário um tratamento e acompanhamento a longo prazo.
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