Ginecologista e obstetra da Pineapple Medicina Integrativa. Graduada pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janei...
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A ciência tem descoberto que a exposição a produtos comuns utilizados no cotidiano pode causar alterações no funcionamento do corpo. Embora o nome seja complicado, os disruptores endócrinos já são classificados como problema de saúde pública.
Os disruptores, ou desreguladores endócrinos, são agentes e substâncias químicas, orgânicas e inorgânicas, capazes de modificar o funcionamento do sistema endócrino. Podem causar efeitos adversos no desenvolvimento, na reprodução e em funções neurológicas e imunológicas dos seres vivos.
Eles podem ainda interferir na produção, na liberação, no metabolismo ou na eliminação dos hormônios do corpo humano. Como consequência, os disruptores endócrinos alteram efetivamente as funções endócrinas, permitindo a instalação de variadas doenças no organismo ou até gerando patologias ainda não compreendidas pela ciência.
Mesmo níveis baixos de exposição podem provocar anormalidades no sistema hormonal e reprodutivo, porém, seus efeitos podem variar de acordo com a fase em que a pessoa é exposta. Acredita-se que o maior impacto dos disruptores ocorra na fase perinatal, na infância e na adolescência - períodos em que as alterações metabólicas são mais acentuadas.
"Os disruptores endócrinos são um risco à saúde pública, uma vez que estas substâncias exógenas podem se acumular nos seres vivos, podem ser secretadas pelo do leite materno, ultrapassar a barreira placentária de gestantes e causar danos nas próximas gerações", aponta a Endocrine Society em um guia de Conscientização Global sobre a ação dos disruptores endócrinos.
Exposição aos disruptores endócrinos
O organismo é diariamente exposto à ação de desreguladores endócrinos, seja pela ingestão de alimentos ou pelo contato com água, solo e ar contaminados.
Todavia, considerando que diversos compostos sintéticos são originários de diferentes tipos de indústrias, a exposição também pode ocorrer pelo contato dérmico com produtos contaminados, como:
- Materiais de construção
- Carpetes e estofamento
- Recipientes de alimentos
- Garrafas plásticas
- Brinquedos infantis
- Papéis termolábeis
- Mamadeiras
- Cosméticos
- Vestuário têxtil
- Material eletrónico
- Produtos de limpeza pessoal.
As substâncias capazes de afetar o sistema endócrino são inúmeras, desde substâncias sintéticas a substâncias naturais. Segundo Isabella Albuquerque, ginecologista da Pineapple Medicina Integrada, algumas dessas substâncias incluem:
- Bisfenol A
- Alquilfenóis
- Pesticidas
- Ftalatos
- Policlorados de bifenilas
- Substâncias farmacêuticas
- Estrogênios naturais
- Fitoestrogênios.
"Das centenas de milhares de substâncias químicas fabricadas, estima-se que cerca de 1.000 podem ter propriedades de ação endócrina. A bio-monitoria, medida de substâncias químicas em fluidos e em tecidos corporais, mostra que quase 100% dos seres humanos têm uma carga química corporal", aponta Carla Iaconelli, médica ginecologista, obstetra e especialista em Reprodução Humana,
Como os disruptores endócrinos agem no organismo?
Cada disruptor endócrino pode ter uma ação diferente no organismo. Segundo Albuquerque, eles podem interferir na síntese, na secreção, no transporte, na ligação, na ação ou na eliminação de hormônio natural do corpo. Consequentemente, podem alterar diversas funções endócrinas que regem nossos sistemas orgânicos.
De acordo com Iaconelli, o corpo humano possui órgãos responsáveis pela fabricação e secreção de hormônios que agem e reagem de acordo com a necessidade do organismo. Para que ele desenvolva todas as funções, os hormônios devem estar alinhados e em sintonia.
"Os disruptores agem por mecanismos fisiológicos pelos quais bloqueiam a ação natural dos hormônios do nosso corpo, fazendo-se passar por um hormônio, ou seja, mimetizando a ação hormonal, levando a consequências sérias, como o aumento ou diminuição da quantidade que seria ideal", explica a ginecologista.
Estima-se que em torno de 24% das doenças e distúrbios humanos são atribuíveis a fatores ambientais, assim como em 80% das doenças mais graves, tais como doenças cardiovasculares, respiratórias e câncer, acrescenta Iaconelli.
Complicações causadas pela exposição aos disruptores endócrinos
Embora não se saiba a quantidade necessária de disruptores endócrinos para trazer problemas à saúde humana, alguns estudos observaram que quantidades íntimas já poderiam causar danos ao organismo.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), existem indícios que a exposição aos disruptores endócrinos ao longo do tempo aumenta a chance de algumas doenças. As mais comuns incluem:
- Alterações neurológicas e na tireoide
- Câncer de mama
- Câncer de testículo e de próstata
- TDAH
- Mal de Parkinson
- Alterações metabólicas e puberais
- Alterações na qualidade do esperma e da fertilidade
- Defeitos congênitos urogenitais
- Endometriose
- Hipotireoidismo
- Bebê natimorto
- Puberdade precoce
- Obesidade
- Aleitamento materno deficiente
- Diabetes do tipo 2.
Conforme acrescenta Isabella Albuquerque, o estudo dos disruptores endócrinos ganhou notoriedade com a associação do aparecimento de câncer no sistema reprodutivo de filhas de mulheres que usaram disruptores endócrinos (dietilestilbestrol) na gravidez, entre os anos de 1940 a 1970.
Desde então, diversas substâncias são estudadas para avaliar sua interferência nos sistemas orgânicos, não somente de seres humanos.
É possível evitar os disruptores endócrinos?
Segundo a ginecologista Isabella Albuquerque, diversos compostos sintéticos são lançados no mercado anualmente sem o devido estudo em relação aos efeitos nos organismos e no meio ambiente. Assim, somos diariamente expostos a novas substâncias que podem atuar como desreguladores hormonais.
Por isso, é praticamente impossível evitar completamente os disruptores na sociedade de hoje. Todavia, conforme finaliza a especialista, "podemos reduzir nosso contato com eles ao reduzir o consumo de plástico, de alimentos processados ou de origem duvidosa, aumentar o consumo de produtos orgânicos livres de pesticidas e aditivos químicos".