Redatora especialista em conteúdos sobre saúde, beleza, família e bem-estar, com foco em qualidade de vida.
O veganismo defende a exclusão total - na medida do possível - de qualquer produto de origem animal na alimentação, vestimenta, cosméticos, etc. Apesar de não ser um movimento recente, visto que, de acordo com a Associação Brasileira de Veganismo, o termo surgiu em 1944, esse modo de vida ainda causa muito estranhamento e dúvidas por causa da dieta estrita, principalmente quando o assunto é veganismo na infância.
Quem é adepto desse movimento não consome carne, frango, peixe ou outros animais marinhos, ovo, leite e derivados, gelatina, mel e corantes de origem animal.
Apesar do cardápio ser mais restrito do que no vegetarianismo, o termo "dieta vegana" não é utilizado pelos profissionais. "Usamos o termo dieta vegetariana estrita quando nos referimos ao regime alimentar sem produtos de origem animal, e veganismo quando nos referimos ao movimento social", explica a nutricionista vegana Sara Ortins.
Sendo assim, a dieta vegetariana estrita deve ser composta, especialmente, por cereais integrais, leguminosas, legumes, verduras, frutas e sementes oleaginosas. Mas será que esses alimentos oferecem os nutrientes que uma criança precisa para se desenvolver?
E a resposta é: sim! Os irmãos Bernardo, de 2 anos, e Beatrice, de 12 anos, por exemplo, são veganos desde o nascimento. A mãe, Cinthya Santos, é vegana desde 2015. Seu interesse pelo veganismo surgiu após ver uma reportagem sobre frigoríficos clandestinos. Atualmente, ela compartilha suas experiências com a maternidade e o veganismo em seu perfil no instagram.
O mesmo acontece com a designer Juliana Barreto, mãe da Nana, de 2 anos e meio. Acostumada com uma alimentação mais orgânica desde a infância, Barreto começou a reduzir o consumo de carne em 2003, virando vegetariana em 2016 e entrando no veganismo dois anos depois. Hoje, ela também compartilha dicas de maternidade e veganismo no seu perfil @vidapraticavegana, com mais de 2 mil seguidores.
Saiba mais: Veganismo na gravidez - cuidados e melhores alimentos para essa fase
"Comecei a compartilhar como uma espécie de diário, para que eu pudesse ter ali registrado as receitas e descobertas que eu ia fazendo, porque tenho uma péssima memória", conta a designer. "Ao mesmo tempo, eu consigo mostrar para as pessoas, principalmente para minha família, o quanto é possível, seguro, tranquilo e normal [ser vegana]", completa.
Cuidados nutricionais
"Uma alimentação vegetariana estrita e balanceada desde a infância reduz o risco de doenças crônicas não transmissíveis na vida adulta, por ser uma alimentação rica em fibras, fitoquímicos e antioxidantes importantes para a imunidade, saúde óssea e saúde cardiovascular", reforça Ortins.
Entretanto, assim como em uma dieta onívora - com vegetais e carnes -, é preciso dar atenção redobrada para nutrientes como ferro, ômega-3, vitamina B12 e vitamina D. Afinal, eles são essenciais para o desenvolvimento infantil.
Isso porque o ferro ajuda na formação das células que transportam o oxigênio pelo organismo. Além de atuar na produção de energia e fortalecimento do sistema imunológico. As leguminosas e as sementes oleaginosas são as principais fontes desse nutriente.
Já o ômega-3 atua no metabolismo, e pode ser encontrado no óleo e na semente de linhaça, na semente de chia e nas nozes trituradas. Enquanto isso, a vitamina D é importante para a manutenção dos níveis de cálcio e fósforos, essenciais para a saúde óssea. A principal fonte de vitamina D é a exposição solar e a suplementação.
Saiba mais: 10 alimentos ricos em cálcio que não contêm leite
A vitamina B12 é fundamental para a formação do sistema nervoso e das células vermelhas. A deficiência dessa vitamina, de forma crônica, pode causar anemia megaloblástica e prejuízos na memória, concentração e aprendizado. A forma ativa desse nutriente, no entanto, é encontrada apenas em alimentos de origem animal.
Nesse caso, é preciso fazer uma avaliação com um profissional especializado para encaminhar a suplementação, quando necessário. E o mesmo vale para as mães veganas, especialmente as lactantes - considerando que o leite materno deve ser fonte exclusiva de nutrientes até o sexto mês de vida.
"Dessa forma, é importante incluir frutas variadas em sobremesas e lanches. Nas refeições principais (almoço e jantar), além de uma variedade de cores de legumes e verduras, vale incluir uma opção de leguminosa, procurando variar com as diversas possibilidades (feijões, grão de bico, lentilha, ervilha, etc.)", orienta a nutricionista.
Na casa da Juliana Barreto, por exemplo, não pode faltar arroz e feijão preto. Esses são os alimentos favoritos da Nana, que sempre pede por essa combinação - até mesmo de manhã. Agora, na Cinthya, o carro-chefe é recriar receitas que remetem a infância, como bolos, pão de queijo e cachorro quente, com muitos grãos, vegetais e frutas.
Desafios do veganismo na infância
Mesmo com os benefícios comprovados, há quem questione a efetividade da dieta vegetariana estrita - inclusive profissionais de saúde. Bernardo, filho da Cinthya, foi diagnosticado com APLV (alergia à proteína do leite de vaca) assim que nasceu, e isso foi motivo de julgamento.
"Fui julgada por não ter consumido derivados de leite de vaca durante a gestação, o que já foi comprovado cientificamente não ter relação alguma. Isso, para uma mãe que está em pleno pico de puerpério, pode gerar até uma depressão pós-parto... E foi extremamente marcante na minha vida", conta Cinthya.
O primeiro julgamento que Juliana recebeu também foi por parte de médicos desatualizados. Por isso, ao decidir oferecer uma dieta vegetariana estrita para seu filho busque profissionais especializados, como a nutricionista Sara Ortins, vegana há 15 anos.
Outro ponto importante para o veganismo na infância é a rede de apoio. Essencial na maternidade como um todo, a rede de apoio de uma mãe vegana - familiares ou escola - deve ser pautada, especialmente, no respeito da escolha da família.
"Afinal de contas os pais têm direitos e deveres sobre uma criança, e conduzir a alimentação e o estilo de vida dela é um direito da família", pondera Barreto.