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Uma única dose da vacina contra HPV (papilomavírus humano), vírus causador do câncer de colo do útero, é eficaz para imunizar jovens entre nove e 20 anos, segundo o Grupo Consultivo Estratégico de Especialistas em Imunização (SAGE) da Organização Mundial da Saúde (OMS).
De acordo com a entidade, o comitê avaliou evidências de diversos estudos feitos nos últimos anos e concluiu que uma vacina de dose única oferece proteção sólida contra o HPV, comparável ao esquema feito com duas doses. A vacinação contra o papilomavírus humano existe desde 2006, mas até agora são recomendadas duas doses.
O HPV é o vírus sexualmente transmissível causador da maior parte dos casos de câncer de colo do útero, quarto tipo de câncer mais comum entre as mulheres de todo o mundo. A nova recomendação da SAGE, segundo a OMS, é sustentada pela preocupação da entidade com a lenta introdução da vacina contra o HPV nos programas de imunização.
Além disso, segundo a OMS, a cobertura vacinal contra o HPV com duas doses chegou a apenas 13% das mulheres no planeta em 2020. No mesmo ano, 340 mil pessoas morreram com a doença, sendo 90% dos novos casos e óbitos em países de baixa ou média renda.
De acordo com Alejandro Cravioto, presidente da SAGE, a nova recomendação "permitirá que mais meninas e mulheres sejam vacinadas e, assim, evitará que tenham câncer de colo do útero e todas as suas consequências ao longo de suas vidas". O líder do comitê também afirmou que os planos nacionais de vacinação poderão continuar aplicando duas doses caso julguem necessário.
Porém, a recomendação para aplicação de duas doses com seis meses de intervalo entre elas segue valendo para mulheres com mais de 21 anos. Já para pessoas imunossuprimidas, a orientação é que sejam administradas três doses da vacina contra o vírus. Dessa forma, o esquema vacinal recomendado pela SAGE passa a ser:
- Uma ou duas doses para o alvo primário de meninas de nove a 14 anos
- Uma ou duas doses para mulheres jovens de 15 a 20 anos
- Duas doses com intervalo de seis meses para mulheres com mais de 21 anos.
Dose única da vacina contra HPV poderá ampliar cobertura vacinal no mundo
Para Edson Moreira, pesquisador da Fiocruz - BA e chefe do Centro de Pesquisas das Obras Sociais Irmã Dulce, a decisão é relevante diante dos desafios crescentes enfrentados pelos programas de vacinas contra o HPV. "Uma vacina de dose única simplificaria a logística, reduziria os custos e tornaria a meta da OMS de ter 90% das meninas de 15 anos vacinadas contra o HPV até 2030 mais viável", afirmou em entrevista ao Minha Vida.
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O pesquisador reforça que, desde 2006, a vacinação tem reduzido o número de casos de infecção, de lesões precursoras e de câncer cervical. Porém, nove em cada 10 casos de câncer do colo do útero são diagnosticados em países de baixa ou média renda. "O uso de esquema vacinal com uma dose irá aumentar o acesso e ajudar a diminuir desigualdades", afirma.
Como funciona a vacinação contra HPV no Brasil hoje?
Atualmente, existem duas vacinas profiláticas contra o HPV aprovadas e registradas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa): a quadrivalente, que protege contra HPV 6, 11, 16 e 18, e a bivalente, que protege contra HPV 18 e 16.
Pelo menos 13 tipos de HPV são considerados oncogênicos, ou seja, apresentam maior risco ou probabilidade de causar câncer. Entre eles, os tipos 16 e 18 estão presentes em 70% dos casos de câncer de colo do útero.
Desde 2017, o Ministério implementa a vacinação gratuita contra HPV no Sistema Único de Saúde (SUS) para meninas de nove a 14 anos, com a vacina quadrivalente, e meninos entre 11 a 14 anos e de 9 a 26 anos vivendo com HIV/Aids. Mulheres imunossuprimidas de 26 a 45 anos também foram incluídas no plano de vacinação gratuito. Para pessoas imunocompetentes acima de 14 anos, a vacinação não está disponível no SUS.