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Ao menos 12 países registraram casos de hepatite aguda de causa desconhecida em crianças e adolescentes. O maior número de ocorrências está no Reino Unido, com 114 casos, mas também há registros na Espanha, na Dinamarca, na Irlanda, na Holanda, na Itália, na França, na Noruega, na Romênia, na Bélgica e nos Estados Unidos, totalizando 169 casos.
A hepatite é uma doença caracterizada pela degeneração do fígado. Ela pode ser causada tanto por infecções virais (do tipo A, B, C, D e E), quanto pelo consumo excessivo de álcool e pelo uso contínuo de medicamentos com substância tóxicas para o organismo.
Os primeiros casos foram registrados no Reino Unido em janeiro, mas o surto foi relatado apenas em abril. No mesmo mês, o Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças (ECDC) anunciou casos em outros países da Europa. No último dia 15 de abril, a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou que está monitorando o surto e emitiu um alerta. Até então, 17 crianças precisaram de transplante de fígado e uma morte foi registrada.
Segundo a Organização, as crianças afetadas têm de um mês a 16 anos, porém, a maioria tem entre cinco e 10 anos. Segundo o ECDC, a doença está sendo investigada, já que a causa ainda é desconhecida. Isso porque não foi detectado nenhum caso de infecção pelos vírus que causam hepatite viral aguda (de A a E).
Ainda de acordo com a OMS, a maioria dos casos manifestou sintomas gastrointestinais, como dor abdominal, diarreia, náuseas e vômitos. Posteriormente, foram apresentados sinais de hepatite aguda grave, como o aumento de enzimas hepáticas e icterícia - quando os olhos e pele ficam amarelados.
Teorias científicas para os casos misteriosos de hepatite
Entre as principais teorias para a causa dos casos de hepatite aguda está o adenovírus, que foi detectado em pelo menos 74 casos. "O adenovírus é uma família de vírus de transmissão respiratória que, normalmente, provoca em crianças pequenos quadros gripais e de resfriado e pode provocar, também, bronquiolite", explica Marcelo Neubauer de Paula, infectologista e médico acupunturista do Colégio Médico Brasileiro de Acupuntura (CMBA).
"Esse é um vírus que, como qualquer outro, tem capacidade mutante. O que tem sido dito é que pode ter surgido uma nova cepa que tenha tropismo (fenômeno biológico que orienta o crescimento de um organismo) pelo fígado, gerando um quadro de hepatite", comenta o especialista.
Essa é uma das teorias dos cientistas, mas não a única. Em briefing técnico, a Agência de Segurança em Saúde do Reino Unido disse acreditar que "pode haver um cofator fazendo com que um adenovírus normal produza uma apresentação clínica mais grave em crianças pequenas". Um exemplo, citado pelos especialistas, é o aumento da suscetibilidade devido à exposição reduzida a este vírus durante a pandemia.
O pediatra Pedro Cavalcante, especializado pelo Instituto da Criança da Universidade de São Paulo (USP) e médico de família, acrescenta, ainda, que o adenovírus pode comprometer o sistema gastrointestinal, o que poderia causar toxicidade hepática. "Porém, é muito raro de acontecer, então é difícil afirmar que a hepatite está sendo causada pelo adenovírus", afirma.
Outra hipótese é que a inflamação do fígado esteja sendo causada pela COVID-19, já que a doença foi detectada em 20 crianças e outros 19 casos apresentaram coinfecção de COVID e de adenovírus. Porém, especialistas argumentam que é uma realidade pouco provável, já que os casos seriam mais numerosos devido ao grande potencial de circulação do coronavírus. Além disso, não há relação conhecida entre COVID-19 e alterações hepáticas.
"Até então, esse não é um vírus que causa algum problema no fígado, pelo menos não em sua forma pura", explica Marcelo. "Nós vemos alguns pacientes com COVID longa com problemas no fígado, mas são alterações muito discretas, não chegam a configurar uma hepatite", completa.
Também não é correto afirmar que esses casos novos de hepatite tenham relação com a vacinação contra a COVID-19 porque, segundo os órgãos oficiais que investigam o surto, as crianças infectadas não estavam vacinadas com imunizante contra a doença.
Saiba como proteger os pequenos contra a hepatite
Apesar de os casos se concentrarem na Europa, é importante conhecer os principais sintomas e formas de prevenção contra a hepatite. Entre os sinais de hepatite estão icterícia, fadiga, fraqueza muscular, apetite reduzido, enjoo, vômito, dor abdominal, fezes esbranquiçadas (acolia fecal) e colúria (escurecimento da urina). Ao notar esses sintomas, é importante procurar uma avaliação médica.
Como prevenção dos novos casos de hepatite, apesar da causa ainda desconhecida, é interessante manter as medidas básicas de higiene, como lavar as mãos frequentemente.
"Se pensarmos que os novos casos de hepatite aguda grave estão sendo causados pelo adenovírus, a transmissão é através do contato das gotículas, da tosse e dos espirros", explica Pedro. "Então, a prevenção é usar máscara, lavar as mãos e não ficar perto de quem está com sintomas gripais", esclarece.
Em relação aos casos já conhecidos e mais comuns de doença, existe a vacina para hepatite A e a vacina para hepatite B como medida preventiva, que estão disponibilizados gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) nas unidades básicas de saúde (UBS). A primeira deve ser tomada em duas doses com intervalo de seis meses para todas as pessoas a partir de 12 meses de vida. A segunda vacina deve ser tomada em quatro doses: a primeira ao nascimento e o restante aos dois, quatro e seis meses de vida.
"No caso da hepatite A, que é bem comum em crianças, a transmissão é via fecal-oral, ou seja, quando há o contato com fezes contaminadas", acrescenta Marcelo. "Não é preciso haver contato direto. Se uma criança com hepatite vai ao banheiro, se limpa e não lava as mãos corretamente, encosta em outro amiguinho, é possível haver uma transmissão", explica.