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As buscas por "drogas digitais" ou "drogas sonoras" têm aumentado entre os jovens e causado preocupação de médicos e pais. Tudo começou quando um influencer viralizou no TikTok ao compartilhar que alguns áudios específicos poderiam oferecer efeitos relaxantes ou, até mesmo, psicodélicos, assim como drogas alucinógenas.
Uma das plataformas que comercializa esses tipos de áudios é a i-Doser. Mas especialistas alertam que, apesar de não haver comprovação científica de que essas "drogas sonoras" realmente tenham efeitos alucinógenos ou que gerem dependência, é preciso ter cautela para não prejudicar a audição.
Esses são áudios com frequências e intensidades variadas vendidos em plataformas on-line ou disponibilizados gratuitamente em redes sociais como o YouTube. Eles se baseiam em uma ilusão auditiva chamada "batida binaural", descoberta no século 19.
A ideia é que esses sons sejam reproduzidos em fones de ouvido. Em cada lado do fone, são tocados sons de frequências diferentes, gerando uma percepção de um "terceiro" som, ou seja, uma frequência intermediária. A promessa é de que essas batidas binaurais tragam efeitos relaxantes, ajudem na concentração e, em alguns casos, gerem novas experiências sensoriais.
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Alguns usuários, principalmente os mais jovens, dizem, ainda, que os áudios podem trazer efeitos de entorpecentes sem de fato consumi-los. Uma pesquisa australiana, publicada no periódico "Drug and Alcohol Review" em março deste ano identificou que parte dos ouvintes busca obter efeito semelhante ao de outras drogas.
Segundo o levantamento, feito com 30,8 mil pessoas em 22 países - incluindo o Brasil -, 5,3% dos entrevistados escutaram batidas binaurais para vivenciar estados alterados nos 12 meses anteriores. Desses, 11,7% relataram usar os áudios para simular a experiência com drogas. A frequência de consumo desses sons é maior na faixa etária entre 16 e 20 anos, ainda de acordo com o estudo.
Porém, não há evidências científicas de que as batidas binaurais possam simular os efeitos de drogas ou mudar o humor de quem as ouve. O que pode acontecer, segundo especialistas, é um efeito placebo: os jovens ouvem os sons já querendo entrar em outro estado mental, fazendo com que eles se sintam mais relaxados.
Pediatras fazem alerta sobre os riscos das "drogas digitais" para a audição
Após o assunto viralizar no TikTok, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), por meio do Grupo de Trabalho Saúde na Era Digital, publicou um documento acerca do tema, alertando sobre os principais riscos do uso de batidas binaurais. Segundo os especialistas, além de gerarem dependência psicológica, esses áudios podem causar danos auditivos importantes, incluindo a surdez.
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Segundo a SBP, a estimulação externa e contínua de ruídos pode provocar alterações na neuroplasticidade, que é a capacidade do cérebro de crescer, desenvolver e alterar sua estrutura. Consequentemente, as conexões para o desenvolvimento mental e cerebral saudável são afetadas.
"Quando o som se torna um ruído alto, estridente, agudo e constante, como sirenes ou o som de explosivos, as pessoas estão sujeitas a desenvolver desde um simples estado de neurotização passageira até lesões irreversíveis no aparelho auditivo, com marcadas consequências, principalmente em crianças e adolescentes, que são sempre mais vulneráveis", destaca o artigo.
Além disso, os especialistas também alertam para o uso contínuo e prolongado de fones de ouvido de alta potência, que podem levar a perdas auditivas e, até mesmo, à surdez. "O nível confortável de ruídos para adultos é de 80 dB. Para crianças e adolescentes o nível seguro é de no máximo 70 dB. Ruídos acima de 80 dB são considerados nocividade auditiva, enquanto o limiar da dor auditiva é estimado em torno de 120 a 140 dB", ressalta o documento.
A SBP ainda elencou alguns dos principais sintomas de perda da audição:
- Dificuldades para perceber sons agudos
- Presença de zumbidos
- Transtornos de comunicação, gerando isolamento social, dificuldade de interação em nível familiar, no lazer, na escola e na vida social
- Alterações no sono
- Alucinações auditivas em pessoas mais sensíveis.