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Fatores como cor, idade e escolaridade podem diferenciar a forma como as gestantes são tratadas ao adentrarem a maternidade. É o que indica um estudo publicado nesta quarta-feira (25) na revista Cadernos de Saúde Pública.
Enquanto puérperas com mais idade e escolaridade tiveram a percepção de serem bem acolhidas nos serviços de saúde, mulheres negras se sentiram menos acolhidas pelos profissionais de saúde na maternidade.
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Como o estudo foi realizado?
Pesquisadores da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) analisaram 606 serviços com dados de 10.540 puérperas em maternidades da Rede Cegonha, com atendimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O estudo abrange todo o Brasil, com dados da Avaliação da Atenção ao Parto e Nascimento em Maternidades da Rede Cegonha, realizada em 2017.
Para chegar aos resultados, os cientistas analisaram cinco questões principais sobre o acolhimento nas maternidades:
- Apresentação dos profissionais com nome e função;
- Tratamento da gestante pelo nome;
- Facilidade da gestante de compreender as informações dadas;
- Sensação da gestante de ter sido bem tratada e respeitada;
- Ter as necessidades respondidas pela equipe.
“Cruzamos estes indicadores com algumas características pessoais das mulheres entrevistadas, como idade, escolaridade, cor da pele, situação conjugal, tipo de parto, paridade, assim como a peregrinação, ou seja, quando a gestante precisa ir a mais de uma maternidade”, explica Ana Lúcia Nunes, mestre em Saúde Coletiva pela UFMA e principal autora do estudo.
Os resultados da pesquisa indicaram que a maioria das mulheres tinha entre 20 e 34 anos quando passou pela Rede Cegonha. De acordo com Ana Lúcia, as puérperas com mais idade e escolaridade tiveram uma percepção mais positiva de acolhimento nos serviços de saúde. Além disso, as gestantes que passaram pelo parto vaginal se sentiram mais bem tratada do que aquelas que realizam cesariana.
Os menores índices de acolhimento foram para as mulheres negras que, na maioria dos casos, não se sentiram acolhidas nas maternidades da Rede Cegonha. Segundo Ana Lúcia, o estudo é importante para reunir informações de como as mulheres brasileiras se sentem ao adentrarem para o parto dentro das maternidades da Rede Cegonha.
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Além disso, os resultados da pesquisa podem servir como instrumento para que sejam revistos os fluxos e os processos de trabalho e de acolhimento das puérperas. “Esperamos que o resultado venha a influir e a contribuir na melhoria das condições de trabalho dos funcionários, na qualidade no atendimento dessas mulheres, no acesso a informação de qualidade e no acolhimento às mulheres, independente de suas características”, conclui a pesquisadora.
Mulheres negras também sofrem mais com violência obstétrica
Segundo estatísticas, uma em cada quatro brasileiras vivencia um ou mais episódios de violência obstétrica, termo usado para definir abusos, desrepeitos e maus-tratos pelas mulheres durante o parto, pós-parto e também em casos de aborto. Desse total, 65,9% são negras.
De acordo com o Ministério da Saúde, as mulheres negras também recebem menos consultas pré-natais e têm acesso a menos informações sobre os riscos na gravidez quando comparadas às mulheres brancas.