Médico infectologista, formado pelo Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais, com experiência na ár...
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A higiene é uma das principais preocupações quando o assunto é sexo anal. Para evitar situações constrangedoras, muitas pessoas adotam métodos de higienização dessa região, como é o caso da famosa “chuca”.
Conhecida também como enema, a chuca é uma técnica de limpeza que consiste na introdução de uma pequena quantidade de água dentro do reto e do ânus, com o objetivo de impedir a saída de fezes durante a relação sexual. Em algumas situações, a chuca também pode ser adotada antes de alguns procedimentos proctológicos.
“Geralmente as pessoas fazem isso pelo medo de se sujarem ou de sujarem o parceiro durante o ato sexual, o que pode gerar constrangimento ou algum desconforto”, explica o médico infectologista Vinicius Borges.
Apesar de popular, a chuca é vista com ressalva em diversos aspectos e sua prática deve ser realizada a partir de alguns cuidados a fim de evitar possíveis riscos à saúde.
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Como fazer a chuca de forma segura?
Para fazer a chuca de maneira segura, a primeira orientação é não compartilhar os equipamentos. O ideal é que a pessoa tenha a própria ducha exclusiva e mantenha-a sempre higienizada antes e após a lavagem, se o material não for descartável.
Além disso, não é necessário usar muita água no processo. Para fazer a chuca, 150ml de água em temperatura ambiente já são suficientes para limpar e fazer a evacuação das fezes presentes no reto. Segundo Vinícius, o excesso pode acelerar o trânsito intestinal — liberando mais fezes de outras partes do intestino.
“O canal anal mede em torno de 3cm e o reto em torno de 14cm, totalizando 17cm, e é geralmente onde a penetração acontece. Portanto, pensando na média de tamanho dos pênis, não há necessidade de se lavar uma extensão maior que isso”, acrescenta o infectologista.
Equipamentos indicados para fazer a chuca
Entre os materiais, os mais indicados são as duchas higiênicas, que podem ser tanto descartáveis como reutilizáveis. A partir da bomba de sucção, o equipamento consegue realizar a lavagem de forma segura e em um fluxo de água capaz de ser controlado.
Nesse contexto, a ducha de chuveiro não deve ser utilizada para realizar a limpeza interna, uma vez que não é possível controlar a pressão e a quantidade de água.
Nunca utilize garrafa pet ou objetos pontiagudos como substitutos das duchas. Segundo a ginecologista e obstetra Aline Ambrósio, o uso de materiais rígidos e inadequados pode lesar o revestimento interno do intestino, levando a sangramentos e infecções.
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Existe frequência ideal para fazer a chuca?
Não existe uma regra, mas se a chuca for feita antes de todo ato e a prática de sexo anal for constante, a lavagem pode trazer alguns problemas à saúde. Conforme explica Vinícius, a frequência da chuca pode retirar o muco que protege o intestino, causando o ressecamento das fezes. Com o tempo, a tendência é ficar cada vez mais dependente da lavagem para evacuar.
Nesses casos, uma dica interessante é conhecer o próprio corpo e os hábitos intestinais. Enquanto algumas pessoas vão ao banheiro duas vezes por dia, outras costumam evacuar a cada três dias, por exemplo. Conhecendo essas particularidades do corpo, é possível se programar antes da relação.
Fazer a chuca é realmente necessário?
A prática da chuca não é obrigatória ou necessária antes da relação sexual, sendo algo pessoal de cada um. Estar atento aos próprios hábitos intestinais, como já mencionado, é uma forma interessante de diminuir ou dispensar a lavagem anal.
De acordo com Vinícius, normalmente as fezes ficam concentradas no cólon sigmoide e, quando chegam no reto, a pessoa sentirá vontade de defecar. Após a evacuação, ela não precisaria realizar uma lavagem, uma vez que o reto estará tecnicamente vazio. É possível utilizar uma ducha de chuveiro para fazer somente a lavagem externa do muco restante.
“Uma dieta rica em fibras, muita água e exercícios são os maiores aliados em quem quer praticar sexo anal, pois evacuando diariamente você passa a ter um controle maior da quantidade de fezes acumuladas e pode evacuar quando pretende ter uma relação”, elucida o infectologista.
Quais os riscos da chuca para a saúde?
O principal risco da chuca para a saúde envolve o compartilhamento dos equipamentos utilizados durante a limpeza, o que pode provocar contaminação.
“Compartilhar duchas pode transmitir HPV, gonorreia, clamídia e até verminoses. Portanto, lembre-se de ter seu equipamento individual e exclusivo. Se houver sangramento, teoricamente pode haver transmissão de HIV e hepatites também”, explica Vinícius.
Além disso, a realização inadequada pode atrapalhar o funcionamento do intestino e da flora intestinal. Com os materiais errados, é possível lesar a mucosa do reto e provocar sangramentos e infecções. Por isso, garrafas pet e outros objetos não devem ser utilizados para esse fim.
Contraindicações da chuca
Segundo Aline Ambrósio, a chuca é uma técnica que deve ser evitada por pessoas que apresentam algum problema intestinal, como doenças crônicas, inflamatórias ou divertículos nessa região do intestino. A prática pode causar uma piora no quadro e guiar para outros problemas, como hemorroidas, doenças anorretais e fissuras anais.
No surgimento de qualquer sintoma que indique lesões na região, como sangramento e coceira, é importante buscar auxílio de um especialista, que poderá averiguar o problema e indicar a melhor forma de abordagem. "Respeite os limites do seu corpo. Dor não é legal, se machucar não é legal. Com consciência, você terá prazer e muita saúde", finaliza Vinícius.