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Atenção! O conteúdo a seguir pode ser sensível para algumas pessoas. Caso esteja com ideações suicidas, entre em contato com o Centro de Valorização da Vida (CVV) para receber apoio emocional voluntário, gratuito e sob total sigilo por telefone (Ligue 188), e-mail, chat on-line ou nos postos de atendimento.
Diante do Setembro Amarelo, mês de conscientização acerca da prevenção ao suicídio, saber identificar, abordar e encaminhar um conhecido com ideações suicidas para um tratamento adequado é fundamental para prevenir o suicídio.
Para ajudar pessoas em geral, que não são necessariamente profissionais de saúde, pesquisadores brasileiros publicaram, em junho deste ano, um novo documento com diretrizes para prevenção ao suicídio. Nele, os especialistas detalham de forma simples e didática como agir em caso de um conhecido estar com pensamentos suicidas.
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O artigo enfatiza que, na contramão dos países desenvolvidos, o número de suicídios na América Latina e no Brasil tem aumentado nos últimos anos, segundo dados da Organização Mundial da Saúde. Em 2019, as mortes por suicídio aumentaram 81% entre jovens de 15 a 19 anos. Entre 2010 e 2019, 115 mil pessoas morreram por suicídio.
O documento também ressalta que estudos ecológicos realizados no Brasil mostraram que maior desigualdade de renda e maior nível socioeconômico estavam relacionados a um maior risco de suicídio.
Além disso, outro fator relevante para entender a questão na América Latina é a limitação de recursos no sistema de saúde e o estigma associado à busca de ajuda para problemas de saúde mental e prevenção do suicídio. Diante disso, o apoio da comunidade, incluindo família e amigos, pode ser um fator crucial para a proteção da vida. Confira, a seguir, os sinais de alerta e dicas de abordagem enunciados pelo documento:
Sinais de alerta para o suicídio
Nas diretrizes, os especialistas afirmam que o primeiro passo para prevenir o suicídio é reconhecer os sinais de alerta, os fatores de risco e as razões pelas quais uma pessoa pode ter ideações suicidas. Entre os principais sinais de alerta elencados no documento, estão:
- Alguém ameaçando se machucar ou se matar, ou falando em querer morrer;
- Alguém procurando maneiras de tirar a vida, como busca de comprimidos, armas, ou outras formas;
- Alguém falando ou escrevendo sobre morte, morrer, ou suicídio;
- Desesperança;
- Pessoa agindo de forma imprudente ou envolvendo-se em atividades de risco;Aumento do uso de álcool ou drogas;
- Isolamento de amigos, familiares e sociedade em geral;
- Ansiedade, agitação, incapacidade de dormir ou sono em excesso;
- Mudanças drásticas de humor;
- Sensação de falta de propósito na vida.
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Como abordar uma pessoa com pensamentos suicidas?
Além de elencar sinais para identificar uma pessoa com ideações suicidas, as diretrizes brasileiras também trazem dicas essenciais de como se aproximar e tentar ajudar o conhecido que está passando por essa situação.
Um dos primeiros passos citados pelo documento é tentar conversar com a pessoa em um lugar calmo e reservado. Conte à pessoa suas preocupações sobre ela e os seus motivos para estar preocupado. Porém, é importante ter em mente que a pessoa pode não se sentir confortável para falar com você sobre o assunto. Nesse caso, ofereça ajuda para encontrar alguém com quem ela queira desabafar.
O documento também reforça a importância de perguntar diretamente à pessoa se ela está tendo pensamentos suicidas, mas de forma que não demonstre julgamento. Por exemplo, pergunte “Você está tendo pensamentos suicidas?” ou “Você está pensando em se matar?” em vez de “Você não está pensando em fazer alguma coisa estúpida, não é?”.
Saiba mais: O que NÃO fazer quando uma pessoa fala em suicídio?
Como falar com alguém que pensa em suicídio?
Os cientistas brasileiros afirmam que o mais importante na hora de conversar com alguém que esteja com pensamentos suicidas é ser genuinamente atencioso, solidário, compreensivo e, principalmente, oferecer escuta. Algumas dicas elencadas no documento são:
- Perguntar à pessoa o que ela está pensando e sentindo;
- Oferecer-se para escutá-la sem julgamentos;
- Perguntar à pessoa com quem ela gosta de conversar;
- Permitir que a pessoa fale sobre seus pensamentos e sentimentos, deixando-a saber que não há problema em falar sobre o assunto;
- Permitir à pessoa a expressar seus sentimentos através de choro, raiva ou gritos;
- Validar o sentimento da pessoa, como “você deve estar sofrendo muito” ou “deve estar sendo muito difícil este momento”, pontuando que o sofrimento que deve desaparecer, não a vida;
- Agradeça a pessoa por compartilhar com você seus sentimentos.
O próximo passo, segundo o documento, é manter a pessoa segura, evitando que ela fique sozinha e conversando com familiares para tentar ajudá-la, acompanhá-la e não deixá-la se sentir sozinha. Além disso, é importante incentivar a pessoa a obter ajuda profissional apropriada o mais rápido possível, fornecendo às pessoas opções e locais em que ela pode buscar esse apoio.
Como o documento foi criado?
O documento brasileiro foi criado a partir da tradução e adaptação das diretrizes do programa “Mental Health First Aid” (MHFA), que existe na Austrália desde 2000. A versão brasileira é resultado de uma parceria que existe desde 2018 entre pesquisadores brasileiros e australianos.
No Brasil, os cientistas trabalharam para chegar em uma interpretação nacional do modelo, de acordo com a cultura e as particularidades de cada país. Por aqui, o documento recebeu o nome de “Diretrizes para pensamentos e comportamentos suicidas no Brasil”.
Antes de publicado, o texto original foi avaliado por um grupo de 60 brasileiros, sendo 30 profissionais da saúde e 30 pessoas com experiências anteriores associadas ao suicídio (sejam experiências próprias, com sobrevivência à tentativa, ou como acompanhamento de um conhecido).
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“É muito comum que as pessoas que suspeitam de que alguém esteja em risco [de tirar a própria vida] não saibam como agir, não saibam como abordar, não saibam onde buscar ajuda. Até os profissionais de saúde encontram dificuldades num primeiro momento. Por isso, esse manual foi organizado e pensado também por quem já passou por essa situação para que ele proponha a melhor conduta possível”, explicou o psiquiatra Alexandre Andrade Loch, professor de pós-graduação do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (IPq-FMUSP) e um dos especialistas que participaram da elaboração das diretrizes brasileiras.
Apesar de já estar publicado em revista científica, o documento ainda não está acessível ao público e a expectativa é que isso ocorra no começo do ano que vem. O objetivo é que o treinamento possa ser aplicado em escolas, escritórios e empresas.