Médica ginecologista especialista em Endoscopia Ginecológica titulada pela FEBRASGO, também professora de Yoga...
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A infecção urinária, também conhecida como infecção do trato urinário, é uma doença infecciosa que ocorre em partes do sistema urinário, como rins, bexiga, ureteres e uretra. Embora não seja uma doença restrita às mulheres, o grupo apresenta 50 vezes mais chance de ter o problema — com sua incidência sendo muito comum, especialmente, durante a gravidez.
No período, as alterações fisiológicas da gestação favorecem a colonização do trato urinário, normalmente causada por bactérias como a Escherichia coli. Alterações metabólicas e endócrinas, além do outras infecções vaginais, como candidíase, também podem ser fatores de risco para o desenvolvimento da infecção urinária.
A infecção está associada a complicações graves, como sepse materna, que pode colocar a vida da mãe e do bebê em risco. Ainda que possa aparecer em qualquer período da gravidez, ela é mais comum na segunda metade da gestação.
De acordo com a ginecologista Bárbara Murayama, em entrevista prévia ao MinhaVida, a infecção urinária pode se manifestar de três maneiras:
- Bacteriúria assintomática: é quando a gestante apresenta bactérias na urina, mas não manifesta sintomas;
- Cistite: é uma infecção do trato urinário baixo que acomete a bexiga e ocorre em aproximadamente 1% a 2% das grávidas. Todas as pessoas com vagina estão em risco de cistite por causa de sua anatomia — especificamente por conta da curta distância da uretra ao ânus e da abertura uretral à bexiga.
- Pielonefrite: trata-se de uma infecção do trato urinário superior e ocorre quando as bactérias presentes no trato urinário sobem pelos ureteres e chegam aos rins, causando desconforto e dor nas costas ao urinar. A maioria dos casos de pielonefrite acontece durante o segundo e terceiro trimestre.
Infecção urinária na gravidez é perigoso?
Sem o tratamento adequado, a infecção urinária na gravidez está associada a complicações graves, como aumento do risco de parto prematuro, baixo peso ao nascer e mortalidade perinatal. Além disso, existe um potencial das bactérias acometerem os rins, o que pode evoluir para uma sepse materna — uma infecção generalizada que aumenta o risco de morbidade materna e fetal.
Fatores de risco para infecção urinária na gravidez
A imunidade baixa é um dos principais fatores de risco associados à proliferação de bactérias no trato urinário durante a gestação e pode ocorrer em decorrência de diversas causas — sendo a gravidez em si um fator de risco para o problema.
Segundo Lilian Fiorelli, médica ginecologista especialista em sexualidade feminina e uroginecologia pela Universidade de São Paulo (USP), as causas incluem:
- Diabetes gestacional;
- Diarreia;
- Infecções vaginais, como a candidíase de repetição;
- Alterações hormonais;
- Disfunções de assoalho pélvico;
- Pedras nos rins.
Sintomas da infecção urinária na gravidez
De acordo com Lilian, a infecção urinária na gestação pode se manifestar de diversas formas. Em alguns casos, é possível que a gestante seja assintomática, isto é, não apresente os sintomas do problema. No geral, assim como em pessoas não grávidas, os sinais da infecção urinária podem incluir:
- Dor ou queimação ao urinar;
- Vontade frequente e repentina de urinar em pouca quantidade;
- Sensação de peso ou desconforto na região da barriga;
- Urina escura, cheiro forte ou com presença de sangue;
- Febre baixa persistente.
“A grávida é uma situação especial em que você tem uma imunidade um pouco acometida, que facilita ela ter infecções, mascara sintomas e podem ser infecções potencialmente graves", explica a especialista. Por esse motivo, alguns sintomas, como a vontade frequente de urinar ou sensação de peso na bexiga, são comuns durante a gravidez e, por esse motivo, podem ser disfarçados.
Diagnóstico de infecção urinária na gravidez
O diagnóstico de infecção urinária durante a gravidez é feito através de um exame laboratorial de urocultura, ou cultura de urina, que é capaz de confirmar a infecção e identificar qual o micro-organismo responsável.
Como o exame demora cerca de três dias para ficar pronto, Lilian explica que também é solicitado o exame de urina 1, que avalia o número de leucócitos no organismo da grávida e se há a presença de nitrito, substância produzida pelas bactérias que causam a infecção urinária. Esse exame serve apenas como diagnóstico indireto, sendo apenas o antibiograma capaz de dar o resultado final do problema.
Normalmente, juntamente com a urocultura, é solicitada a realização de um antibiograma, que só é realizado quando o resultado da urocultura é positivo. Segundo Lilian, por meio desse exame é possível saber quais os melhores antibióticos para tratar aquela bactéria.
A especialista também aponta que o exame de urina deve ser realizado regularmente pela gestante, de preferência uma vez ao mês, ou após qualquer sintoma suspeito ou mesmo os sinais comuns do período, como dor lombar e dor no baixo ventre.
Como é feito o tratamento?
O tratamento de infecção urinária na gravidez é feito através da administração de antibióticos, como a cefalexina, durante um tempo prolongado — normalmente entre sete a 14 dias. Também é essencial que a grávida adote alguns hábitos, como beber bastante água, não segurar o xixi e esvaziar completamente a bexiga cada vez que for urinar.
Caso a gestante apresente o problema pela segunda vez na mesma gestação, além do tratamento tradicional, Lilian aponta que ela será submetida a profilaxia, a partir do uso de antibióticos em doses baixas, todos os dias, até o dia do parto. “Em casos mais graves podem ser necessários mais exames e até a internação da paciente”, acrescenta Bárbara Murayama em entrevista prévia.
Tratamento caseiro para infecção urinária
Nenhum tratamento caseiro, quando feito isoladamente, é eficiente contra a infecção urinária. O ideal é que, no surgimento de qualquer sintoma suspeito, a gestante busque ajuda de um especialista para realizar o tratamento adequado.
Todavia, a gestante pode utilizar de métodos caseiros específicos, como o consumo de chás, para aliviar os sintomas da infecção urinária, desde que eles não substituam o tratamento clínico com antibióticos. O tipo de chá também deve ser avaliado por um especialista, uma vez que existem substâncias contraindicadas na gravidez e que podem causar complicações — incluindo o aborto espontâneo.
Saiba mais: 9 formas de aliviar os sintomas da infecção urinária
É possível prevenir a infecção urinária na gravidez?
A adoção de alguns hábitos de vida pode ajudar a prevenir quadros de infecção urinária, especialmente aqueles relacionados aos fatores de risco do problema, como a imunidade baixa.
No geral, o consumo de água em abundância é fundamental para expelir bactérias e impurezas da bexiga e da uretra. Caso a pessoa apresente infecções genitais existentes ou obstipação, o tratamento deve ser realizado para diminuir os riscos da infecção urinária.
Outros métodos incluem:
- Limpar-se após urinar, para evitar que as bactérias se acumulem no local e entrem no trato urinário;
- Urinar logo após a relação sexual para esvaziar a bexiga;
- Não utilizar nenhum produto que contenha perfumes na área genital;
- Não utilizar calças muito apertadas;
- Manter a região da vulva e do ânus sempre limpa;
- Usar calcinhas e meia-calça de algodão e trocá-las pelo menos uma vez por dia.