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Quem gosta de viajar para praias no Verão já deve ter visto bandeiras vermelhas ou outras indicações na areia que informam que a água do mar está imprópria para banho. Há quem ignore o alerta e aproveite para dar um mergulho ou levar as crianças para brincar na água mesmo assim. Porém, essa atitude pode ser bastante perigosa.
Semanalmente, os órgãos ambientais ligados aos governos dos estados divulgam boletins que indicam a qualidade das mais de duas mil praias brasileiras. Elas podem ser classificadas como próprias e impróprias e servem para alertar os banhistas e turistas sobre se é seguro ou não entrar em contato com essas águas.
“As principais doenças e infecções que são reportadas pelo contato com a água imprópria, normalmente, são infecções do trato gastrointestinal, principalmente, seguido de infecções de pele e, em terceiro lugar, infecções respiratórias”, explica Mirian Dal Ben, infectologista do Hospital Sírio Libanês.
O que significa uma praia que está imprópria para banho?
Mas, afinal, o que significa dizer que uma praia está imprópria para banho? Essa é uma classificação feita de acordo com o critério estabelecido pela Resolução 274 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), de 29 de novembro de 2000. Segundo a resolução, alguns indicadores de micropoluição são os coliformes termotolerantes (coliformes fecais), bactéria E. coli, enterococos fecais e floração (proliferação excessiva de micro-organismos aquáticos, principalmente algas, que podem mudar a coloração da água).
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Com isso, as águas são consideradas impróprias para banho, de acordo com a Resolução, quando for verificada uma das seguintes ocorrências no trecho avaliado:
- Valor superior a 2500 coliformes fecais por 100 mL de água;
- Valor superior a 2000 de E. coli por 100 mL de água;
- Valor superior a 400 enterococos por 100 mL de água;
- Incidência elevada ou anormal, na região avaliada, de enfermidades transmissíveis pelo contato da água, indicada pelas autoridades sanitárias;
- Presença de resíduos ou despejos, sólidos ou líquidos, incluindo esgoto sanitário, óleos, graxas e outras substâncias capazes de oferecer riscos à saúde ou tornar desagradável a recreação;
- Floração de algas ou de outros organismos até que se comprove que não há risco à saúde humana.
Quais doenças se pode contrair ao tomar banho em uma água imprópria?
Ao entrar em contato com as bactérias presentes em águas impróprias (e isso vale tanto para água do mar quanto para água doce e piscinas que podem estar contaminadas) existe o risco de contrair infecções que afetam, principalmente o trato gastrointestinal.
Os coliformes fecais, incluindo a E. coli, estão relacionados a doenças como colite e a sintomas como diarreia, cólicas abdominais, náusea e vômitos e, em alguns casos, febre. Já os enterococos podem causar infecções como endocardite, prostatite e infecção intra-abdominal.
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“Outro tipo de infecção que pode acontecer no contato com a água imprópria é a infecção de pele”, explica Mirian. Entre as infecções cutâneas causadas por bactérias, alguns exemplos são: celulite infecciosa, impetigo e erisipela, causadas pelas bactérias do tipo Streptococcus.
De acordo com a infectologista, também é possível contrair uma infecção respiratória, como a pneumonia, através do contato com bactérias presentes em águas contaminadas. Entre os principais agentes causadores de pneumonia bacteriana estão: Streptococcus pneumoniae; Haemophilus influenzae; Klebsiella pneumoniae; Pseudomonas aeruginosa; Staphylococcus aureus.
“Assim que a pessoa teve contato com a água contaminada, ela precisa ficar atenta aos sinais”, alerta Mirian. “Sintomas como diarreia, dor abdominal, perda de apetite, náuseas são alguns sinais importantes que podem se manifestar em menos de 24 horas do contato”, elenca a especialista.
Como prevenir infecções em águas contaminadas?
Vai viajar para uma praia que está imprópria para banho? Tem como tomar alguns cuidados para evitar que a contaminação aconteça. Em primeiro lugar, é claro, procure não nadar no mar. Caso aconteça, evite levar a água à boca - e esse alerta serve, principalmente, para as crianças.
“Temos que ensinar aos pequenos que eles não devem colocar água da piscina ou do mar na boca. Tem muita criança que, na hora que está mergulhando ou brincando, coloca água na boca e cospe, ou, até mesmo, engole. Isso é perigoso”, alerta a infectologista.
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Caso você tenha uma piscina em casa, é importante mantê-la sempre bem tratada e limpa, com os níveis de cloro ideais para o uso. “Isso ajuda a prevenir os principais bichinhos que podem dar infecção gastrointestinal, como a giardíase e a criptosporidiose”, completa.
Além disso, crianças que já apresentem sintomas, como diarreia ou vômitos, não devem entrar no mar ou na piscina, a fim de evitar que contaminem outras pessoas. “Existem germes que podem viver até sete dias na água, contaminando o local na sua forma ativa”, explica Mirian. “Também é preciso orientar sempre as crianças a não evacuarem na água e, no caso de uma criança pequena que ainda use fraldinhas de natação, os pais devem estar atentos para que ela não evacue enquanto está na água”, acrescenta.
Como saber se a praia está imprópria para banho?
É possível acompanhar a qualidade da água de uma praia através dos boletins semanais publicados pelas entidades ambientais de cada estado. Essas informações são facilmente encontradas na internet e estão sempre atualizadas.
Até a publicação desta reportagem,15 praias do litoral do estado de São Paulo estavam classificadas como impróprias, segundo a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb). Já em Salvador, na Bahia, esse número foi de 36 praias contaminadas, de acordo com o Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema).
Em Florianópolis, o último boletim registrou 34 pontos impróprios e a praia alargada de Balneário Camboriú, em Santa Catarina, também estava totalmente imprópria para banho, segundo o Instituto do Meio Ambiente do Estado de Santa Catarina (IMA).
Vitória, no Espírito Santo, somava 20 praias contaminadas, segundo a Secretaria do Meio Ambiente de Vitória. Por fim, até o final de semana do Natal, o estado do Rio de Janeiro contava com sete praias impróprias para uso, segundo o Instituto Estadual do Ambiente (Inea).