Graduado em Medicina pela Faculdade de Medicina do ABC (1978) e doutorado em Psiquiatria pela Faculdade de Medicina da U...
iO ato de beber foi integrado a tradições culturais e até mesmo religiosas em diferentes sociedades, fazendo parte da cultura humana há milhares de anos. Por outro lado, uma parcela da população usa essa substância de forma nociva, e é este padrão de consumo que está relacionado a maior risco de danos à saúde ou à ocorrência de consequências sociais, sendo atrelado a mais de 200 tipos de doenças e lesões.
O órgão mais afetado pelo uso nocivo é o fígado, como comentei em outra oportunidade, mas ele não é o único: os rins também podem sofrer as consequências deste tipo de exposição ao álcool. A ingestão de bebidas alcoólicas acima dos limites da moderação pode aumentar o risco de doença renal crônica.
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O álcool em excesso, associado aos produtos de sua metabolização, pode causar alterações na função renal, diminuindo a capacidade dos rins de filtrar o sangue. O álcool também inibe o hormônio antidiurético (ADH), que regula a quantidade de água eliminada, afetando assim a capacidade de manter a quantidade certa de água no corpo.
No entanto, é quando o consumo se torna crônico, como nos casos de dependência, que os impactos à saúde renal são mais prejudiciais. Isso ocorre porque esse tipo de uso induz lesões profundas em vários outros órgãos, que, por sua vez, podem afetar e agravar o efeito negativo do álcool nos rins. Outro efeito indireto é que esse mesmo padrão de consumo está associado à hipertensão arterial, um fator de risco comum para o desenvolvimento da doença renal.
Interessante que, em relação ao consumo moderado de bebidas alcoólicas, não há consenso na literatura científica acerca dos malefícios aos rins. Pelo contrário, alguns estudos sugerem, inclusive, uma associação entre a ingestão moderada de álcool e a diminuição dos riscos de insuficiência renal ou de doença renal crônica.
De qualquer forma, os resultados dessas pesquisas não devem ser usados para encorajar o uso de álcool para a saúde renal, visto que esse é um ponto de discordância na ciência. Além disso, os efeitos do álcool também não podem ser generalizados e dependem da constituição do indivíduo.
Agora, se você tem problemas renais e quer saber se pode beber, minha recomendação é consultar diretamente o seu médico. Além de o impacto do álcool na saúde ser complexo, envolvendo, por exemplo, fatores individuais e ambientais, alguns medicamentos podem interagir com o álcool, o que poderia prejudicar sua busca por uma melhor qualidade de vida. Não tenha vergonha de perguntar, seu médico é a pessoa mais indicada para essa avaliação.