Graduada em Psicologia pela Universidade Bandeirante de São Paulo (UNIBAN), Lizandra Arita é psicóloga institucional e c...
iJornalista especializado na cobertura de temas relacionados à saúde, bem-estar, estilo de vida saudável e à pratica esportiva desde 2008.
iA rivalidade entre irmãos capaz de gerar brigas frequentes é uma ocorrência comum em muitas famílias, especialmente durante a infância, quando os pequenos disputam a atenção dos pais e lutam por espaço e reconhecimento.
Além da competição pela atenção parental, as diferenças de personalidade também podem levar a desentendimentos frequentes, especialmente se os irmãos têm interesses e preferências opostos, conforme explica Lizandra Arita, psicóloga da Clínica Mantelli.
“Em primeiro lugar, é importante reconhecer que os irmãos são indivíduos únicos, com personalidades, temperamentos e necessidades diferentes".
Consequentemente, conflitos podem surgir naturalmente devido a diferenças de opinião, competição por recursos ou simplesmente pela proximidade constante!, explica.
“Além disso, o desenvolvimento emocional e social de cada criança pode afetar a forma como elas lidam com situações de conflito”, completa.
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Motivos comuns para brigas entre irmãos:
- Competição por atenção dos pais: às vezes, irmãos brigam para chamar a atenção dos pais, especialmente se um deles está recebendo mais atenção do que o outro
- Diferenças de personalidade: personalidades distintas podem levar a desentendimentos frequentes, especialmente se os irmãos têm interesses e preferências opostos
- Rivalidade por recursos limitados: quando há recursos limitados, como brinquedos, roupas ou até mesmo o amor dos pais, os irmãos podem competir entre si para obter sua parcela justa
- Questões de poder e controle: a busca pelo controle ou pela liderança na dinâmica familiar pode desencadear conflitos entre irmãos, especialmente se um deles tenta dominar o outro
A ciência tenta entender esses conflitos com base em suas origens. “Como seres humanos, somos orientados para a comparação”, explicou Shawn D. Whitehead, professor de desenvolvimento humano e estudos da família na Universidade Estadual de Utah, nos EUA, em entrevista à BBC.
“Os irmãos fornecem um ponto natural de comparação. Eles estão em sua casa, crescendo com você, geralmente com alguns anos de diferença de idade. Eles estão no mesmo ambiente e na mesma casa, então nos fornecem uma boa medida comparativa.”
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A questão da comparação
É comum que irmãos se vejam em uma competição constante, seja comparando seus sucessos acadêmicos, atléticos ou até mesmo disputando o título de "filho favorito". Isso acontece frequentemente devido às experiências semelhantes que compartilham, como frequentar as mesmas escolas, o que intensifica a rivalidade, especialmente quando há pouca diferença de idade entre eles.
Essa propensão natural para nos compararmos com os outros pode alimentar a competição entre irmãos, principalmente porque passamos a maior parte de nossa infância ao lado deles, compartilhando momentos e experiências que nos tornam muito familiarizados com suas habilidades e conquistas.
“As crianças têm muito menos capacidade do que os adultos para refletir sobre o que as perturba ou para manter os seus impulsos sob controle. Então, elas brigam muito, como todos sabemos”, disse Raymond Raad, cofundador do RIVIA Mind, um centro de saúde mental na cidade de Nova York, em entrevista à BBC.
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Ambiente familiar
Além das características individuais, o ambiente familiar desempenha um papel significativo para que irmãos briguem tanto.
“Comparações e conflitos entre os pais podem criar um contexto propício para a manifestação de conflitos entre irmãos. Quando as crianças testemunham modelos de comunicação inadequados ou conflitos não resolvidos entre os pais, elas podem internalizar esses padrões e replicá-los em suas próprias interações”, continua a especialista.
Outro fator a ser considerado é a ordem de nascimento, segundo a psicóloga. “Estudos sugerem que a posição na ordem de nascimento pode influenciar as interações entre irmãos, com o irmão mais velho muitas vezes assumindo papéis de liderança e responsabilidade, enquanto os irmãos mais novos podem se sentir desafiados a encontrar seu lugar dentro da dinâmica familiar”.
Brigas que seguem na vida adulta
A rivalidade entre irmãos pode persistir e até mesmo intensificar na vida adulta, muitas vezes devido a questões não resolvidas do passado e mudanças na dinâmica familiar. Alguns dos motivos pelos quais essa rivalidade pode persistir incluem:
- Competição por sucesso e reconhecimento: irmãos podem continuar a competir por sucesso acadêmico, profissional e social, buscando constantemente superar um ao outro
- Ressentimento acumulado: se os conflitos na infância não foram resolvidos adequadamente, o ressentimento pode se acumular ao longo dos anos, alimentando a rivalidade na vida adulta
- Divergências ideológicas ou valores conflitantes: à medida que os irmãos crescem, podem surgir diferenças significativas em termos de valores, crenças e objetivos de vida, o que pode levar a conflitos contínuos
- Papéis familiares estabelecidos: irmãos podem se sentir presos em papéis familiares estabelecidos na infância, o que pode resultar em tensão e rivalidade ao longo da vida
Embora a rivalidade entre irmãos seja uma parte natural e inevitável da vida familiar, é importante reconhecer suas causas subjacentes e buscar maneiras construtivas de lidar com ela para promover relacionamentos saudáveis e harmoniosos ao longo da vida.
“É importante ressaltar que conflitos entre irmãos não são necessariamente prejudiciais e podem, na verdade, desempenhar um papel no desenvolvimento de habilidades sociais e emocionais, como negociação, empatia e resolução de problemas. Como tal, o foco não deve ser eliminar completamente os conflitos, mas sim ensinar estratégias saudáveis de resolução de conflitos e promover um ambiente familiar que valorize o respeito mútuo e a comunicação aberta”, ensina Lizandra.
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Portanto, as brigas entre irmãos podem ser atribuídas a uma combinação complexa de fatores individuais e contextuais, incluindo diferenças de personalidade, influências familiares e dinâmicas de relacionamento. "Ao abordar esses fatores, podemos ajudar os irmãos a desenvolverem relacionamentos mais saudáveis e respeitosos ao longo do tempo”, finaliza a psicóloga.