Anaisa Raddo, do Fleury Medicina e Saúde, é médica dermatologista desde 2017, possui especializações em Tricologia e Cir...
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Populares pela praticidade e aspecto natural, as unhas em gel têm se tornado uma alternativa cada vez mais comum para pessoas com desejo de unhas longas e fortes, uma vez que possuem durabilidade maior que outros tipos de unhas.
No entanto, mesmo proporcionando um resultado bonito, o alongamento não está livre de riscos para a saúde: à longo prazo, a luz emitida pela câmara de luz UV, usada na secagem da unha e esmaltação, está associada a um risco maior de câncer de pele.
Mas como isso acontece? O MinhaVida conversou com a dermatologista do Fleury Medicina e Saúde, Anaisa Raddo, e reuniu o principal risco associado às unhas em gel, se é possível prevenir e como identificar um câncer de pele.
Quais os riscos da unha em gel?
Durante o procedimento de secagem da unha em gel, é utilizada uma câmara que emite raios ultravioleta (UV) — os mesmos emitidos pela luz do sol, embora em intensidade muito menor.
O espectro de radiação ultravioleta, de acordo com Anaisa, imita ondas emitidas pelo sol com comprimentos menores que 400 nanômetros. Elas não são visíveis ao olho humano, mas provocam danos já conhecidos para a pele, cabelos, unhas e olhos — induzindo, inclusive, mutações cancerígenas.
“As câmaras de LED/ UV são luzes compreendidas dentro do espectro de radiação ultravioleta. Portanto, o uso a longo prazo, de forma recorrente, pode acelerar o envelhecimento da pele, causar surgimentos de manchas e, também, induzir o aparecimento de cânceres de pele, incluindo o melanoma maligno”, explica Anaisa.
Pesquisas apontam relação entre secadores de unha UV e câncer
A Food and Drug Administration, agência federal do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, considera os secadores de unhas UV de baixo risco quando utilizados conforme as instruções. Não existem evidências suficientes de que elas causem câncer, mas algumas pesquisas já mostraram os danos causados pela exposição prolongada à radiação emitida por esses aparelhos.
Em um estudo recente, publicado no periódico Nature Communications, pesquisadores da Universidade da Califórnia em São Diego, nos Estados Unidos, debruçaram-se especificamente sobre os efeitos da radiação emitida pelas câmaras UV em células de humanos e camundongos.
Os resultados da pesquisa apontaram que uma única exposição de 20 minutos resultou em cerca de 20% a 30% de morte celular. Três exposições consecutivas aumentaram a letalidade celular: de 65% a 70% das células morreram e, entre as sobreviventes, algumas desenvolveram danos no material genético.
Os pesquisadores observaram padrões semelhantes aos de pessoas com melanoma, de acordo com Maria Zhivaghi, co-autora do estudo e pós-doutoranda em genômica do câncer e saúde pública na UC-São Diego, em reportagem do The New York Post. O melanoma é considerado o tipo mais grave de câncer de pele, capaz de se espalhar por outros órgãos do corpo, criando metástases.
Ao The Washington Post, o cientista que liderou a pesquisa e professor associado de medicina celular e molecular na UC-São Diego, Ludmil Alexanderdrov, afirmou que não é possível concluir, com base no estudo, que essas câmaras UV aumentam a possibilidade de desenvolver câncer. Seriam necessários levantamentos epidemiológicos de maior escala para estabelecer uma relação de causa e efeito.
“Mas vemos claramente que isso afeta negativamente as células e danifica o DNA”, concluiu o pesquisador ao jornal estadunidense.
É possível prevenir?
A melhor maneira de se proteger é aplicar um filtro solar acima de 50 FPS, pelo menos 20 minutos antes da exposição. Ele pode ser associado ao uso de luvas com proteção UV, sem a cobertura dos dedos, mas que protejam o dorso das mãos.
Outro ponto importante é o intervalo entre as esmaltações. Se feitas com muita frequência, tendem a desidratar e enfraquecer a unha, tornando-a mais propensa a quebrar.
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Por fim, fique atenta quanto à fragilidade e o possível surgimento de manchas escuras na unha. Em caso de suspeita, o ideal é remover o alongamento e consultar um dermatologista para uma investigação adequada.
Como identificar um câncer de pele?
O câncer de pele é o tumor mais frequente no Brasil e no mundo e, para identificá-lo, é preciso ficar atento a alguns sinais. Segundo o Ministério da Saúde, são eles:
- Manchas pruriginosas (que coçam), descamativas ou que sangram
- Sinais ou pintas que mudam de tamanho, forma ou cor
- Feridas que não cicatrizam em quatro semanas
Um câncer na unha pode se manifestar a partir de manchas listradas escuras, e é um sinal de alerta especialmente quando a listra está presente em apenas uma das unhas e se alarga rapidamente. Se você notar o surgimento de qualquer um dos sintomas, procure um médico.
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Referências
Zhivagui, M., Hoda, A., Valenzuela, N. et al. DNA damage and somatic mutations in mammalian cells after irradiation with a nail polish dryer. Nat Commun 14 , 276 (2023). Disponível em <https://doi.org/10.1038/s41467-023-35876-8> Acesso em 10 de abril de 2024.
Lindsey Bever., Marlene Cimons. UV dryers for gel nails can harm DNA, study says. Should I use them?. The Washington Post. 2023. Disponível em <https://www.washingtonpost.com/wellness/2023/01/20/gel-nail-polish-uv-lamps-safety-dermatologists/> Acesso em 10 de abril de 2024.
Julia Curtis, MD. Paul Tanner, CCA. Cambria Judd, MD. Brandos Childs, BS. Christopher Hull, MD. Sancy Leachman, MD, PhD. Acrylic nail curing UV lamps: High-intensity exposure warrants further research of skin cancer risk Journal of the American Academy of Dermatology. 2013. Disponível em <https://doi.org/10.1016/j.jaad.2013.08.032> Acesso em 10 de abril de 2024.