Jornalista com sete anos de experiência em redação na área de beleza, saúde e bem-estar. Expert em skincare e vivências da maternidade.
iMuitas experiências que vivenciamos durante os primeiros anos de vida têm efeitos a longo prazo. Um exemplo claro disso são os traumas que, como explicou o psicólogo Manuel Hernández Pacheco ao Infosalud, nos acompanham na vida adulta.
“Mesmo sendo adultos, ainda temos dentro de nós uma criança que sofreu medos ou inseguranças, por exemplo. Essa criança ainda está conosco, e os traumas que não foram superados continuarão a nos afetar na vida adulta”, explicou o especialista.
Crescer na pobreza é outro exemplo. Quando crescemos em um ambiente pobre, isso pode nos moldar profundamente e deixar vestígios que duram a vida toda. Pode até mudar nosso cérebro.
A pobreza, ou a escassez de recursos, pode ser causa ou consequência do desenvolvimento de comportamentos que nos acompanham na vida adulta. Quando uma criança cresce com menos recursos, não precisa estar em extrema pobreza, mas com dificuldades, pode desenvolver certas características que a acompanham até a idade adulta.
Eles valorizam a simplicidade
A repórter Anabel Palomares do site Trendencias conta em um artigo que sua mãe cresceu em uma época difícil, quando a pobreza era comum. Isso a fez perceber o valor da simplicidade e, diante dos luxos que agora podia pagar, ela sempre optava pela praticidade.
"O fato de, quando criança, ela ter apenas o suficiente, e às vezes nem isso, fez com que ela agora valorizasse muito mais o que tem", afirmou. E não, não queremos romantizar o crescimento na pobreza, longe disso. Como bem explicou o filósofo Francisco Checa, “O empobrecimento, em suma, não é bonito em lugar nenhum, nem em momento algum. A pobreza não é ética nem estética.”
Essa característica, aliás, pode ser ensinada a uma criança sem a necessidade de privá-la de nada. Por exemplo, é aconselhável evitar a síndrome da criança superprotegida, pois, embora tenhamos recursos suficientes para dar dezenas de presentes aos nossos filhos, o excesso os estimula excessivamente e reduz seu nível de tolerância à frustração.
Como destacou María Gómez, terapeuta infantil, isso limita sua fantasia, faz com que percam a esperança e desenvolvam antivalores que podem provocar comportamentos egoístas e consumistas.
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Eles desenvolvem engenhosidade
Há um famoso ditado que afirma que “a fome aguça a engenhosidade”. Gostaria que a engenhosidade não tivesse que ser cultivada por necessidade. Quando Anabel era criança, ela conta que seu pai consertava os seus brinquedos quebrados em vez de comprar novos. Minha mãe fazia guisados, e de uma só refeição ela criava vários pratos, como croquetes.
"Essas experiências me ensinaram que é possível conviver com o que já temos, que sempre podemos usar algo de uma forma diferente e que, com um pouco de imaginação (e engenhosidade), podemos prolongar a vida útil do que possuímos sem entrar em um ciclo de consumismo que nos devora", afirmou a repórter.
A engenhosidade está relacionada à imaginação na hora de resolver problemas do dia a dia. A verdade é que não importa se temos recursos ou não, porque podemos ensinar e cultivar isso nas crianças, mesmo que tenhamos seis dígitos na conta bancária.
O mais simples é, por exemplo, reduzir o número de brinquedos com os quais nossos filhos podem brincar. De acordo com a Psychology Today, “se houver menos brinquedos, as crianças brincam com eles por mais tempo e com mais imaginação.” Menos brinquedos, mais engenhosidade.
Eles são empáticos
Este estudo da Universidade de Berkeley descobriu que as pessoas que cresceram em famílias de baixa renda são melhores na leitura das emoções dos outros em comparação com pessoas de origens mais ricas. Ou seja, as crianças menos afortunadas tornaram-se adultos mais empáticos.
A empatia é a capacidade de compreender e compartilhar sentimentos, algo vital na hora de se relacionar, mas também está relacionada à solidariedade. Ser solidário significa ser generoso e compassivo com aqueles que precisam de ajuda. Quando você precisou de ajuda na infância, e mesmo depois de adulto, você entende a situação dessas pessoas melhor do que ninguém.
Eles demonstram gratidão
Quem já passou por dificuldades tende a valorizar o que tem, por menor ou insignificante que possa parecer aos outros. "Minha mãe sabe disso e agradece todos os dias por tudo", disse Anabel. E atenção, porque quando falamos de gratidão, não estamos apenas falando de agradecer por ter um emprego que nos permite comer frango assado aos domingos. Falamos sobre gratidão no sentido mais amplo da palavra.
A gratidão não consiste apenas em agradecer pelas coisas materiais, mas por todas as pequenas coisas do dia a dia, como a possibilidade de jantar com a família, o seu gato, ou o fato de ter saúde para seguir em frente. Essa apreciação da vida sob o prisma do positivismo é algo que todos devemos valorizar, porque ser grato traz felicidade.
Eles têm uma forte ética de trabalho
Quando você começa a trabalhar cedo porque precisa, aprende desde cedo o valor do trabalho duro e da determinação. Você sabe que nada é de graça, que é preciso trabalhar muito para conseguir qualquer coisa. Desde crianças, é importante que os pais ensinem não só a ética de trabalho, mas também a ideia de que é preciso esforço para alcançar qualquer objetivo.
O sucesso é alcançado por meio de esforço, perseverança e determinação, por isso é importante deixar as crianças terem autonomia para que compreendam o valor do próprio esforço, ensiná-las a lidar com a frustração e garantir que não desistam à primeira dificuldade.
Eles são resilientes
A vida não é um mar de rosas para ninguém, mas aqueles que passaram pela pobreza muitas vezes desenvolvem uma resiliência excepcional porque tiveram de enfrentar adversidades desde a infância. E eu gostaria que eles não tivessem aprendido tanto e que seus pais pudessem tê-los ensinado a cultivar a resiliência como fazem os pais nórdicos.
Essa resiliência muitas vezes persiste até a idade adulta e se manifesta como uma capacidade de enfrentar os desafios da vida e de se recuperar dos contratempos. É uma força profundamente enraizada que serve como testemunho da capacidade das pessoas de suportar e superar obstáculos.
Eles têm uma perspectiva diferente sobre a riqueza
A riqueza é uma coisa diferente para cada pessoa. Para quem cresceu sem recursos, a riqueza significa algo diferente do que para aquelas crianças que cresceram com babás, viagens aos Alpes e escolas caras.
No caso daqueles com menos recursos, a riqueza não está apenas no dinheiro; a riqueza também está no sentimento de segurança e estabilidade, nas oportunidades que se apresentam e na liberdade.
Se você cresceu com o mínimo, quando se torna adulto, busca não ter estresse financeiro, e sua felicidade financeira é muito mais simples de alcançar, porque você sabe que a riqueza também significa que o dinheiro (ou a falta dele) não roube a sua paz de espírito.
Eles praticam a frugalidade
Quando você cresce com recursos limitados, aprende rapidamente a importância de administrar o dinheiro com sabedoria. Você se torna mais consciente dos seus gastos, economiza mais e tende a ser mais cuidadoso com as finanças.
E não se trata de ser econômico ao extremo, mas de tomar decisões informadas que priorizem as necessidades em detrimento dos desejos e os benefícios a longo prazo em vez das gratificações imediatas.