Especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental, Doutora em Psicologia e colaboradora no AMBULIM.
Jornalista com sete anos de experiência em redação na área de beleza, saúde e bem-estar. Expert em skincare e vivências da maternidade.
iA gordofobia é uma forma de preconceito que, muitas vezes, passa despercebida, especialmente em conversas do dia a dia. A verdade é que, mesmo com boas intenções, podemos acabar reproduzindo comentários que reforçam estigmas em relação ao corpo das pessoas. Frases que parecem inofensivas, mas que, sob um olhar mais atento, têm implicações gordofóbicas e podem causar desconforto.
O MinhaVida listou quatro frases que podem parecer comuns e até bem-intencionadas, mas que valem a pena repensar. A ideia aqui não é apontar o dedo, mas ajudar a perceber como nossas palavras podem ter um impacto maior do que imaginamos — e, assim, evitar que boas intenções se transformem em constrangimentos desnecessários.
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1. "Eu me sinto tão gordo"
Reclamar do próprio corpo pode parecer algo inocente, mas frases como essa reforçam a ideia de que ser gordo é algo errado. Caroline Burkholder, especialista em distúrbios alimentares, explica que dizer isso pode fazer com que pessoas gordas sintam que seu corpo é "fundamentalmente errado". Além disso, gordura não é uma emoção. Quando dizemos isso, não estamos descrevendo um sentimento real, mas associando um desconforto físico ou emocional à gordura de forma negativa.
O que dizer em vez disso: em vez de falar sobre o peso, tente identificar e verbalizar o que você realmente está sentindo. Talvez você esteja desconfortável, inchado ou ansioso. Expressar esses sentimentos diretamente é mais preciso e não estigmatiza corpos gordos.
2. "Você não é gorda, você é linda!"
Essa frase, apesar de parecer um elogio, sugere que ser gordo e ser bonito são coisas opostas — o que está longe da verdade. A beleza é subjetiva e pode coexistir com qualquer tipo de corpo. Ao separar esses dois conceitos, a frase reforça o estigma de que corpos magros são superiores aos corpos gordos.
O que dizer em vez disso: se quiser elogiar alguém, vá direto ao ponto: “Acho você linda!” Assim, você evita associar a beleza ao peso e foca na individualidade da pessoa.
3. "Você está incrível! Perdeu peso?"
Quantas vezes você já ouviu ou até falou isso? Embora seja comum, associar a perda de peso a uma aparência "incrível" pode ser muito prejudicial. A pessoa pode ter emagrecido por vários motivos, inclusive por doença ou estresse. E, mesmo que a perda de peso seja intencional, ao elogiar isso, você reforça a ideia de que corpos magros são mais valiosos que corpos maiores.
O que dizer em vez disso: é melhor evitar comentários sobre o peso ou o tamanho do corpo. Concentre-se em outros aspectos: “Você parece tão feliz hoje!” ou “Adoro sua energia!” Esses elogios são mais saudáveis e menos focados em padrões estéticos.
4. "Estou tão fora de forma"
Essa frase é outra que, apesar de parecer inofensiva, está carregada de idealizações. Associar estar "em forma" a uma determinada aparência física pode ser prejudicial. Estar em forma tem mais a ver com funcionalidade e saúde do que com padrões estéticos. O condicionamento físico vai além da aparência e envolve aspectos como força, mobilidade e bem-estar.
O que dizer em vez disso: se você quiser falar sobre seu nível de condicionamento físico, seja mais específico. Diga algo como: “Não estou tão em forma quanto costumava estar” ou “Fazer exercícios tem sido mais difícil para mim ultimamente”. Dessa forma, você foca na sua experiência pessoal sem promover um padrão estético.
O primeiro passo para não ser gordofóbico é praticar a autoaceitação
Praticar a autoaceitação do corpo pode ser um verdadeiro divisor de águas para muitas pessoas. Em entrevista anterior ao MinhaVida, a psicóloga Amanda Gallo explica que, ao aceitarmos quem somos, deixamos de lado os chamados "pensamentos mágicos", aquela ideia de que só seremos felizes quando atingirmos um certo padrão — como emagrecer ou ter o corpo “perfeito”.
Muitas pessoas acreditam que a felicidade está sempre ligada a uma mudança externa, mas, segundo Amanda, o bem-estar e o conforto podem ser encontrados no presente, aqui e agora. “Isso não significa, de forma alguma, conformismo. Na verdade, trata-se de aprender a respeitar sua individualidade e as características únicas que fazem de você quem é. O corpo não é uma massa de modelar”, ressalta a psicóloga.
A nutricionista Nathália Petry, em entrevista prévia ao MinhaVida, também reforça que autoaceitação não significa amar cada detalhe do corpo. Em vez disso, é sobre desenvolver uma relação neutra com ele, sem enxergá-lo como um obstáculo para a felicidade. “Aceitar o corpo é entender que este é o corpo que você tem, e, a partir desse reconhecimento, cuidar dele. Quando a gente gosta, a gente cuida”, explica. Afinal, criar um vínculo de cuidado e respeito pelo seu corpo é o primeiro passo para viver de maneira mais leve e saudável.
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