Dr. André atende no ambulatório de neuropediatria e neurocirurgia do Hospital São Francisco, unidade de Osasco. Comprome...
iA desigualdade social é um fator crítico que compromete o desenvolvimento infantil no Brasil, afetando especialmente crianças diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC), Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) e Transtorno Opositivo Desafiador (TOD).
Muitas vezes, essas condições não são diagnosticadas corretamente, e essas barreiras impostas pela pobreza dificultam o acesso a tratamentos adequados, criando um ciclo de desvantagens que pode afetar a vida adulta dessas crianças.
A educação em crise
Um dos setores mais afetados pela desigualdade social é a educação. Crianças de famílias de baixa renda frequentemente têm um acesso limitado a escolas de qualidade. A falta de infraestrutura, materiais didáticos e professores capacitados resulta em um aprendizado com déficit.
Uma pesquisa do Itaú Social indicou que, no Brasil, crianças de famílias de alta renda recebem até 7.124 horas a mais de aprendizado ao final do 9º ano escolar em comparação com aquelas de famílias de baixa renda. Esse diferencial educacional impacta não apenas o desempenho acadêmico, mas também a saúde emocional das crianças.
Ambientes estressantes, marcados pela violência e pela insegurança alimentar, aumentam a probabilidade de transtornos emocionais, como ansiedade e depressão. Esses transtornos frequentemente se manifestam como fobias, ataques de pânico e evitação de situações sociais, prejudicando ainda mais a vida escolar e as interações sociais.
Outro fato é a falta de espaços seguros para brincadeiras e atividades físicas, nas periferias existe um limite de oportunidades no desenvolvimento motor. Essa privação de experiências que estimulem a exploração e o movimento resulta em obstáculo nas habilidades motoras, essenciais para a interação social e para o aprendizado.
E qual o papel das políticas públicas?
O desenvolvimento infantil nos primeiros anos é fundamental para o bem-estar no futuro. Porém, em muitas regiões vulneráveis, o acesso é precário à saúde e à educação, somado nessas ausências de políticas públicas, resultando em atrasos para as soluções. O acesso a profissionais de saúde mental e serviços terapêuticos é bastante limitado, e muitas famílias enfrentam dificuldades financeiras que dificultam diagnósticos e tratamentos adequados.
Nos últimos 20 anos, o Brasil observou um aumento nos diagnósticos de TEA, impulsionado pela maior conscientização pública. No entanto, existe a falta de suporte nessas áreas vulneráveis e continua sendo um obstáculo.
Mas afinal, existe uma solução?
Uma possível solução para enfrentar a desigualdade no desenvolvimento infantil é a criação de métricas dedicadas, como o Índice de Potencial Infantil (IPI) e o Índice de Desenvolvimento Infantil (IDI). Essas métricas podem fornecer uma base mais precisa para avaliar como diferentes comunidades estão garantindo ambientes adequados para o desenvolvimento infantil.
O IPI, por exemplo, foca em áreas como acesso a serviços de saúde, qualidade da educação infantil, suporte familiar e políticas públicas voltadas para crianças. Ao medir o potencial e o desenvolvimento infantil, essas métricas permitem que esforços sejam direcionados para onde são mais necessários, assegurando que nenhuma criança seja deixada para trás.
O Índice de Potencial Infantil (IPI) é uma métrica que avalia o ambiente das crianças e como ele apoia seu desenvolvimento, considerando quatro áreas principais:
- Acesso a serviços de saúde infantil: avalia a disponibilidade de cuidados pré-natais, pediátricos, vacinação e saúde mental, essenciais para o desenvolvimento físico e neurológico saudável.
- Qualidade da educação infantil: mede a qualidade de creches e pré-escolas, além da capacitação dos profissionais. Uma educação de qualidade está ligada a melhores resultados cognitivos e sociais.
- Suporte familiar e comunitário: serve para analisar o envolvimento dos pais e das redes de apoio social, incluindo políticas de licença parental e suporte financeiro, fundamentais para o desenvolvimento emocional e social.
- Políticas públicas para a primeira infância: avalia a eficácia de iniciativas como programas de nutrição e proteção contra trabalho infantil.
O IPI fornece uma visão geral sobre o potencial de cada região em oferecer condições adequadas para o desenvolvimento infantil. Ele facilita a identificação de áreas onde os recursos precisam ser mais concentrados, especialmente em comunidades vulneráveis.
Por outro lado, o Índice de Desenvolvimento Infantil (IDI) mede o progresso das crianças em marcos de desenvolvimento, como cognição e habilidades motoras. O IDI utiliza amostragens da população infantil para determinar como as condições locais impactam o desenvolvimento, identificando atrasos causados pela falta de acesso a serviços ou falhas nas políticas.