Jornalista com sete anos de experiência em redação na área de beleza, saúde e bem-estar. Expert em skincare e vivências da maternidade.
iSuperar traumas de infância é um desafio bem difícil, mas quem já passou por isso sabe o quanto é importante evitar que as marcas do passado influenciem a próxima geração: seus filhos. Criar crianças em um ambiente emocionalmente saudável é uma prioridade para quem quer romper ciclos e oferecer uma infância mais feliz para elas.
Existem atitudes quase universais entre essas pessoas, que buscam, muitas vezes de forma inconsciente, garantir que seus filhos não carreguem o mesmo peso que elas. Quer saber quais são? Veja como esses comportamentos podem transformar vidas:
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Como você pode transmitir seu trauma para seus filhos, mesmo sem perceber
A maneira como lidamos com os desafios do passado pode moldar, sem querer, o futuro das próximas gerações. Traumas, mesmo aqueles que não são evidentes ou extremos, como abuso físico ou violência, podem deixar marcas profundas — não apenas em quem viveu essas experiências, mas também nos seus filhos. Esse fenômeno é chamado de trauma intergeracional.
Quando vivemos um trauma e não conseguimos tratá-lo, a resposta emocional que ele gera tende a se repetir de forma inconsciente. Isso significa que o modo como enfrentamos (ou evitamos) determinadas situações é internalizado pelas crianças, que aprendem observando e imitando. Como resultado, elas podem herdar padrões de comportamento que não pertencem originalmente a elas, mas aos pais.
Além dos comportamentos, a ciência explica que o impacto do trauma também pode ser "inscrito" nos genes. Estudos em epigenética mostram que eventos traumáticos podem causar mudanças no funcionamento do DNA, afetando a maneira como os genes são expressos. Isso foi observado, por exemplo, em descendentes de sobreviventes do Holocausto, que herdaram uma visão de mundo marcada pelo medo e pela percepção de que o ambiente é inseguro. Não é a experiência traumática em si que é transmitida, mas os efeitos emocionais dela, como a ansiedade ou uma visão pessimista do mundo.
O impacto do trauma intergeracional é ainda mais evidente em situações como abuso infantil. Um estudo liderado pela cientista Andrea Roberts, da Universidade de Harvard, revelou que mulheres que sofreram violência ou abuso sexual na infância tendem a gerar impactos duradouros nos filhos. A pesquisa apontou que os filhos dessas mulheres tinham uma probabilidade significativamente maior de desenvolver depressão e outros transtornos mentais.
Esses dados reforçam que traumas não resolvidos afetam muito mais do que o indivíduo. Mesmo sem perceber, acabamos transferindo aos nossos filhos os medos, as ansiedades e os comportamentos que o trauma despertou em nós.
Como os pais com traumas evitam repetir padrões com os filhos
Muitas pessoas, antes mesmo de terem filhos, acabam prometendo não repetir os comportamentos que vivenciaram durante a infância. Mas quando chegam à fase adulta, podem se ver reproduzindo exatamente o que juraram evitar, como se fosse um reflexo automático. Isso ocorre porque, como explica Maria Beatrice Alonzi em seu livro “Vocês não são seus pais”, os traumas não resolvidos moldam dinâmicas comportamentais que acabam contradizendo até nossas intenções conscientes.
A repetição de comportamentos muitas vezes está relacionada ao modo como aprendemos na infância, especialmente por modelagem ou aprendizado social. "Quando criança, você aprende imitando. Se sua mãe congelava ao ouvir sua risada, você pode ter internalizado que rir não era seguro. Se seu pai resolvia problemas com raiva, você pode ter normalizado essa reação como padrão", exemplifica Alonzi.
Embora o trauma tenha um impacto muito forte, existe uma boa notícia no meio disso tudo: assim como ele pode ser passado adiante, a resiliência também pode. Para isso, é essencial compreender a origem do trauma e como ele se manifesta no dia a dia. “Observar como reagimos, especialmente nos momentos em que perdemos a paciência, é o primeiro passo para interromper esses padrões", sugere Alonzi.
Quando pais identificam situações recorrentes em que reagem de forma desproporcional, é importante reconhecer que isso pode estar ligado a limitações ou dores não resolvidas. Nesse momento, buscar ajuda profissional se torna um ato de coragem e amor — não apenas por si mesmo, mas pelos filhos. "Um psicoterapeuta é a pessoa mais capacitada para nos ajudar a lidar com essas questões", reforça.
Estratégias para quebrar o ciclo do trauma:
1. Reconheça seus traumas: admitir que você passou por essas experiências difíceis é o primeiro passo. O trauma emocional pode não ser visível, mas ainda assim impacta comportamentos.
2. Busque apoio psicológico: terapia é uma ferramenta poderosa para identificar padrões nocivos e criar novos caminhos.
3. Pratique a autoconsciência: observe como reage a situações desafiadoras com seus filhos e identifique padrões que gostaria de mudar.
4. Cultive a resiliência: concentre-se em transmitir aos filhos ferramentas emocionais saudáveis, como comunicação aberta, empatia e resolução de conflitos sem agressividade.
Romper com padrões traumáticos pode ser desafiador, mas não é impossível. Com esforço, autoconhecimento e apoio, é possível criar um ambiente emocionalmente saudável, onde seus filhos aprendam a agir através do amor e da compreensão — e não de marcas deixadas pelo passado.
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