Jornalista com sete anos de experiência em redação na área de beleza, saúde e bem-estar. Expert em skincare e vivências da maternidade.
iFalar com crianças sobre temas complicados pode ser um grande desafio para os pais. Assuntos difíceis que vão desde a troca de escola por conta de uma mudança, a doença ou até a perda de alguém da família. Segundo a psicóloga Jaqueline Quintero, abordar esses temas com crianças e adolescentes “requer paciência, empatia e clareza”. Mas, como podemos fazer isso na prática? De forma resumida, o ideal é usar a inteligência emocional para normalizar esse tipo de conversa.
Para tornar esse processo um pouco mais fácil, recorremos a um especialista em desenvolvimento infantil cujo trabalho é apoiar pais, famílias e comunidades em momentos delicados, como luto, estresse e doenças. Kelsey Mora explicou à CNBC que algumas frases podem ajudar a fortalecer a confiança entre pais e filhos, além de facilitar o gerenciamento das emoções durante conversas difíceis.
1. “Tenho algo importante para conversar com você.”
Kelsey explica que avisar a criança antes de iniciar uma conversa difícil pode ajudá-la a se preparar emocionalmente. O objetivo é deixar claro que não se trata de um bate-papo corriqueiro, como os que acontecem durante o jantar ou depois da escola. Para tornar esse momento mais confortável, é importante escolher a hora certa para falar (quando a criança estiver calma e em um ambiente seguro) e garantir que ela se sinta à vontade para se expressar.
Outro ponto essencial é que os pais estejam atentos ao próprio estado emocional. Se ficarem muito abalados durante a conversa, não há necessidade de esconder os sentimentos, mas contar com o apoio de outro adulto pode ajudar a conduzir melhor a situação.
Kelsey também sugere fazer perguntas para entender o que a criança já sabe sobre o assunto e o que precisa ser esclarecido, como: “O que você já ouviu falar sobre isso?” ou “Você percebeu alguma mudança?”. Muitas vezes, a criança já tem uma noção do que está acontecendo.
2. “Quero que você saiba que podemos conversar sobre isso.”
Apoiar uma criança não significa esconder suas próprias emoções ou tentar fazer com que ela “fique forte”. É essencial estar disponível para responder dúvidas e ajudar no gerenciamento dos sentimentos. Para isso, a co-regulação — quando os pais ajudam os filhos a lidar com as emoções — pode ser uma excelente estratégia.
Mora explica que o principal objetivo dessas conversas é promover uma comunicação aberta e honesta. Para isso, os pais devem se tornar uma presença constante e compreensiva, incentivando a criança a fazer perguntas sempre que precisar. Caso contrário, ela pode interpretar o assunto como um tabu e evitar falar sobre ele no futuro.
O psicólogo e doutor em educação Rafael Guerrero reforça, em seu livro Educação emocional e apego, que identificar e nomear emoções pode ser um grande apoio nesse processo. Recursos como livros, jogos ou exercícios podem ajudar a criança a expressar seus sentimentos e esclarecer dúvidas. No entanto, caso os pais não saibam como conduzir o assunto, buscar ajuda profissional pode ser uma boa alternativa.
3. “Todas as emoções são válidas.”
Todas as emoções têm um papel importante e precisam ser reconhecidas. A psicóloga Iria Reguera explica que não existem emoções “negativas” ou “positivas” — todas são naturais e fazem parte da experiência humana.
No caso das crianças, é fundamental que elas saibam que não há problema em sentir, expressar e processar diferentes emoções, sejam elas agradáveis ou difíceis. Em situações desafiadoras, isso significa que está tudo bem chorar, assim como está tudo bem sorrir, mesmo em meio a um momento difícil.
“Os pais têm uma oportunidade única de dar aos filhos um exemplo de como lidar com emoções desafiadoras”, explica Mora. A melhor maneira de ensinar inteligência emocional é demonstrando na prática. Se os pais reconhecem suas próprias emoções e adotam estratégias saudáveis para enfrentá-las, as crianças aprendem a fazer o mesmo.
4. “Vamos enfrentar isso juntos.”
É essencial que a criança não se sinta sozinha em momentos difíceis. No entanto, é importante não confundir a promessa de “estamos juntos nisso” com a garantia de que “tudo vai ficar bem”. Nem sempre é possível garantir um desfecho positivo, mas a criança precisa saber que será amada e apoiada, independentemente do que acontecer.
Kelsey recomenda focar na criação de memórias positivas que estimulem a resiliência e o bem-estar emocional. Atividades como brincadeiras, contato com a natureza, exercícios físicos e momentos de lazer podem ser fundamentais nesse processo.
5. “Podemos escolher entre isto ou aquilo.”
Embora algumas situações sejam inevitáveis, é possível oferecer às crianças uma sensação de controle e participação, permitindo que façam escolhas dentro do possível.
Kelsey sugere o uso de palavras que reforcem a ideia de unidade, como “vamos” e “nós”. Por exemplo, se a família vai se mudar e a criança resiste a fazer as malas, os pais podem dizer: “Precisamos arrumar nossas coisas, mas você pode escolher a música que vamos ouvir enquanto fazemos isso”. Dessa forma, a criança sente que sua opinião é levada em conta e se envolve mais ativamente no processo, dentro de suas possibilidades.
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