Está mais do que comprovado que ter uma vida sexual ativa traz, além do prazer físico, benefícios que reverberam para o todo o corpo mesmo depois do sexo. Males como enxaqueca, estresse, cólicas e a TPM, por exemplo, perdem terreno com a relação sexual. A pele fica mais bonita, e os músculos, mais relaxados. Do mesmo modo, é perfeitamente possível existir os desprezares do sexo, incluindo-se aí o vício. Quando o hábito foge ao controle e gera atitudes autodestrutivas e, assim como a dependência por drogas ou por jogos de azar, necessite de tratamento. Um exemplo de que a doença pode desestruturar a vida de alguém é o premiado (e bilionário) golfista norte-americano Tiger Woods. Há algumas semanas, o atleta pediu desculpas à familia publicamente, após escândalos envolvendo mais de dez amantes, a esposa e um acidente de carro. Durante 45 dias, Woods ficou internado em uma clínica de reabilitação. "É difícil admitir, mas preciso de ajuda. Ainda tenho um longo caminho a percorrer", declarou. Antes dele, outras personalidades, como os atores Michael Douglas e David Duchovny, já confessaram a dependência por sexo. Mas o que provoca o quadro de compulsão? E esta doença tem cura?
Para o psiquiatra Aderbal Vieira Jr., coordenador do Ambulatório de Tratamento do Sexo Patológico do Proad (Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes), o dependente de sexo não tem as mesmas características dos pacientes com transtornos psiquiátricos, em que alguma área do cérebro foi afetada. Os compulsivos, em geral, viveram situações que desencadearam a busca excessiva por sexo, masturbação ou por fantasias sexuais. "A pessoa busca uma forma de acertar uma pendência com seu passado ou, tendo dificuldade de se relacionar e criar laços afetivos, acaba vendo no sexo uma compensação".
De acordo com a psicóloga e terapeuta sexual do ISEXP, (Instituto Brasileiro Interdisciplinar de Sexologia e Medicina Psicossomática) Arlete Gavranic, as origens dessa compulsão podem estar na infância. "Crianças que apanharam muito, têm maiores chances de desenvolver a dependência por sexo, como uma busca de um prazer que não tiveram. Da mesma forma, aquelas que não recebem carinho nenhum, podem tornar-se dependentes de sexo, buscando inconscientemente uma compensação."
Saiba mais: O que acontece com a vagina na hora do sexo
Sintomas da compulsão
Uma das características dos viciados em sexo é a de estar sempre pensando ou fantasiando algo relacionado a sexualidade. "São pensamentos constantes, que deixam a pessoa inquieta", explica Arlete Gavranic. Mas como saber se seu comportamento é inofensivo ou caracteriza compulsão? A terapeuta esclarece que o sexo patológico fica evidente quando esse desejo passa a atrapalhar a vida da pessoa, impedindo-a de fazer atividades normais, (trabalhar, estudar, ir a eventos sociais, praticar esportes, ter um lazer) que exigem concentração e dedicação.
Além disso, dificilmente o dependente consegue se concentrar em algo que não esteja relacionado ao sexo. Sendo assim, não só as pessoas que fazem muito sexo podem ser viciadas, mas também as que fantasiam ou se masturbam excessivamente. No caso da masturbação, em casos extremos de dependência, a pessoa pode chegar a machucar o pênis ou a vagina de tanto estimular a região. Outro indício é quando a pessoa interrompe o que está fazendo - trabalho ou estudo, por exemplo - para se masturbar.
A compulsão também é conhecida por outros nomes: erotomania (para os homens) e a ninfomania (no caso das mulheres). Em geral, quando há a busca de parceiros, acontece uma ansiedade no momento da pré-atividade sexual e, após o orgasmo, segue-se uma sensação de culpa ou de vazio com bastante frequência.
Quem possuiu parafilias não é necessariamente um compulsivo. Elas são um tipo de comportamento sexual em que a fonte de prazer não está no ato sexual em si, mas em objetos, situações ou tipos específicos de parceiro. É o caso do masoquismo, fetiche por pés, por animais, entre inúmeros outros exemplos. "As parafilias existem aos montes e não são necessariamente indício de dependência em sexo. Acontece que, os compulsivos, não têm o controle sobre esse tipo de comportamento, às vezes, colocando-se em situações arriscadas", diz Arlete.
Tratamento
O tratamento psicoterapêutico é a indicação eficaz para aqueles que aceitam a ideia de que estão com dificuldades e que sozinhos dificilmente conseguirão resolver esse problema. O mais comum é que o paciente receba auxílio de um médico em conjunto com um psicólogo. Em alguns casos, mais extremos, haverá necessidade também de medicação receitada por um psiquiatra.
No Brasil, o maior grupo de terapia para dependentes de sexo é o DASA (Dependentes de Amor e Sexo Anônimos). A entidade tem como base o tratamento fundamentado nos 12 passos, assim como os Alcoólicos Anônimos, atuando em diversos estados do País. Qualquer pessoa pode frequentar as reuniões, que são gratuitas. Outra referência no tratamento da dependência em sexo é a clínica Instituto Paulista de Sexualidade (InPaSex), na cidade de São Paulo. Aderbal Vieira explica ainda que muitos dos métodos utilizados para a cura dessa dependência propõem a abstinência de sexo como uma forma de o paciente conseguir se libertar da compulsão.
O psiquiatra, entretanto, discorda que a abstinência seja algo recomendável. "Quando falamos em drogas, faz sentido falarmos em abstenção, porque as drogas não são algo natural para o organismo como o sexo. O sexo em si é algo necessário à boa saúde e ao bem-estar e, sendo assim, geralmente, aqueles que tentam a abstinência, não conseguem mantê-la por muito tempo e acabam frustrados pensando que nunca se libertarão da dependência", aponta Aderbal.
O teste a seguir é utilizado no diagnóstico da doença pelo PROAD, a partir da tradução de um teste desenvolvido por Patrick Carnes, nos Estados Unidos, Ph.D em dependência de sexo . Caso você responda "sim" a mais de seis questões, há uma maior probabilidade de ter dependência de sexo. Entretanto, o diagnóstico deve ser feito por outros meios, com ajuda profissional.
Saiba mais: Os homens só pensam naquilo?
O PROAD atua na prevenção, pesquisa, ensino e assistência a dependências químicas e não-químicas (como o vício em jogos de azar e o próprio vício em sexo).
1. Você sofreu abuso sexual quando criança ou na adolescência?
2. Você tem assinado ou comprado regularmente revistas pornográficas?
3. Seus pais tiveram problemas de ordem sexual?
4. Você frequentemente se percebe preocupado com questões sexuais?
5. Você acha que seu comportamento sexual não é normal?
6. Sua(seu) esposa(o) ou companheira(o) se preocupa ou até mesmo reclama de seu comportamento sexual?
7. Para você é difícil interromper seu comportamento sexual mesmo sabendo que é inadequado?
8. Você chega a se sentir mal por causa de sua conduta sexual?
9. Sua conduta sexual já causou problemas a você ou à sua família?
10. Você alguma vez buscou ajuda para lidar com comportamentos sexuais de que não gostava?
11. Você já chegou a se preocupar com o fato das pessoas descobrirem a respeito de suas atividades sexuais?
12. Alguém já se feriu emocionalmente devido à sua conduta sexual?
13. Alguma de suas atividades sexuais é ilegal?
14. Você ja se prometeu deixar de fazer alguma coisa relacionada ao seu comportamento sexual?
15. Você ja fez alguma tentativa de interromper algum aspecto de sua conduta sexual e acabou não conseguindo?
16. Você tem que esconder dos outros algum aspecto de seu comportamento sexual?17. Você já tentou parar de fazer alguma coisa relacionada a sua atividade sexual?
18. Você já achou que o seu comportamento sexual era degradante?19. Sexo é para você uma forma de escapar de seus problemas?
20. Você se sente deprimido após fazer sexo?
21. Você já sentiu necessidade de deixar de praticar alguma forma de comportamento sexual?
22. Sua atividade sexual interfere com sua vida familiar?
23. Você já manteve práticas sexuais com menores de idade?
24. Você sente que é controlado por seu desejo sexual?
25. Você sente que seu desejo sexual é mais forte do que você?