Marcos Abdo Arbex possui graduação em Medicina pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro e doutorado em Ciências (Pa...
iRedatora de conteúdos sobre beleza, família e bem-estar.
Nesta terça-feira (10), a qualidade do ar na cidade de São Paulo é considerada a pior do mundo pelo segundo dia consecutivo, segundo a agência suíça IQAir. Devido a esta poluição atípica, que está ocorrendo também em outros municípios do Brasil, vem sendo comum o aparecimento de sintomas como ardor nos olhos, nariz e garganta, tosse seca e cansaço.
Em especial nas grandes metrópoles, a má qualidade do ar que respiramos é bem preocupante. Especialistas a indicam como uma das grandes vilãs responsáveis por doenças não apenas respiratórias, mas também cardiovasculares.
A queima de combustíveis fósseis libera uma série de partículas prejudiciais à saúde e, quanto menor elas são, mais perigosas. Ao MinhaVida, o pneumologista Marcos Abdo Arbex, da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, explica que são elas que atravessam os pulmões, chegam aos alvéolos e, finalmente, à corrente sanguínea. Como resultado, essas partículas finas produzem processos inflamatórios no organismo inteiro.
Quando a umidade relativa do ar é considerada baixa, o perigo também aumenta. Com pouca umidade, os gases pairam por mais tempo na atmosfera, que fica com grande concentração de poluentes — como no atual céu de São Paulo.
Leia também: Umidificar o ar previne crises de alergia
Complicações vão de doenças até aborto
Quem mais sofre com o ar ruim são os portadores de doenças respiratórias, como asma e bronquite, pois, neste cenário, as crises tendem a aparecer com maior frequência. Além disso, a poluição também tem relação com o aumento da ocorrência de outras doenças cardiorrespiratórias, como arritmia cardíaca, aumento das crises de hipertensão, infarto do miocárdio, arteriosclerose, angina, AVC e outros males ligados à diminuição da circulação sanguínea.
A poluição tem relação incidência de câncer de pulmão e pode afetar a quantidade de abortos espontâneos.
"O aborto acontece por causa da diminuição da circulação sanguínea na região do útero, por conta dos processos inflamatórios provocados pelas partículas de poluição", explica Arbex.
Já os bebês que sobrevivem, podem nascer com peso baixo pelo mesmo motivo. Há, ainda, o prejuízo estético. O dermatologista Claudio Mutti conta que o ato de respirar ar de má qualidade aumenta a produção de radicais livres no organismo, o que é fator importante no envelhecimento precoce.
O ar poluído também aumenta a incidência de acne, uma vez que obstrui os poros e favorece a proliferação de bactérias. Para reduzir a produção de radicais livres, o dermatologista aconselha a ingestão de antioxidantes e vitaminas C e E, que podem ser obtidos tanto na alimentação quanto em suplementos alimentares.
Leia também: Por que a poluição do ar acelera o envelhecimento da pele?
Perigo também vem de dentro de casa
Infelizmente, nem o conforto do lar pode garantir um ar de boa qualidade. Em casos específicos de pessoas que moram ao lado de vias movimentadas, o ar externo acaba invadindo o meio interno e a quantidade de ar nocivo respirada equivale a três cigarros fumados por dia, segundo Arbex.
Ao mesmo tempo, o sistema de refrigeração, que permite que o ar interno seja totalmente diferente do externo, pode ser prejudicial da mesma forma. Isso acontece quando o sistema de ventilação falha na troca de ar externo e interno e, sem renovação de ar suficiente, acumula substâncias químicas e biológicas, como o formaldeído - gás presente em tintas, colas, verniz e até impressoras-, fungos e o próprio gás carbônico resultante da respiração.
Nesse caso, não somente as pessoas podem adoecer, mas o próprio prédio: a chamada "Síndrome do Edifício Doente", batizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 1982. Quando o edifício "adoece", quem está nele sofre as consequências.
"Muitas vezes, a pessoa sente uma série de sintomas sem causa específica, como fraqueza, dificuldade de concentração, dor de cabeça, irritação de olho e nariz, falta de ar e redução da produtividade, mas nenhum exame laboratorial detecta doença alguma. Ela não está doente, é o edifício", elucida Arbex.
Amenize os efeitos da poluição em sua saúde
Para um prédio doente, basta consertar o sistema de ventilação. E para um cidadão doente, ou melhor, milhões deles? "Ou o governo investe massivamente em transporte público ou esses níveis de poluição aumentam e continuam matando pessoas", alerta Arbex.
Sua declaração é justificada pelo fato de os grandes vilões do ar serem os veículos que usam combustíveis fósseis, como gasolina. Ao diminuir o número de carros na rua, haverá diminuição de poluentes na atmosfera.
Hábitos diários também podem amenizar os efeitos da poluição do ar em seu organismo. A dica de Arbex é evitar fazer exercícios físicos perto de grandes vias, onde o tráfego de veículos é intenso.
Se você for adepto da atividade física ao ar livre, evite praticá-la em dias muito ensolarados e secos, em especial das 10h às 16h, quando os poluentes são mais abundantes na atmosfera.
Saiba mais: OMS alerta que 99% da população mundial respira ar poluído