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Ao contrário do meio profissional, não há experiência de "estágio" para quem deseja se tornar pai. No caso de quem opta pela adoção, então, o desafio pode parecer ainda mais intimidador. Entretanto, segundo a psicóloga Cintia Liana Reis de Silva, especializada em casos conjugais e familiares, "quanto mais preparados os pais estiverem, maiores serão as chances de rápida adaptação e de a adoção ter 100% de sucesso".
A receita parece simples, mas será que você está realmente seguro para lidar com as principais questões da adoção?
Criando uma identidade
Grandes mudanças sempre sugerem a ideia de poder "começar do zero". No caso da adoção, essa virada de página pode ter como ato simbólico a mudança do nome da criança. Entretanto, segundo a psicóloga, a decisão deve levar em conta a idade do adotado e os vínculos de identidade que ele já desenvolveu com o nome. Iniciar uma nova jornada não justifica tentar apagar o passado de um indivíduo. "Eu sempre aconselho acrescentar mais um nome sem apagar o anterior", conta Cintia.
Contar ou não contar, eis a questão
Para os psicólogos, não há dúvidas: dizer a verdade é a melhor alternativa. Cintia explica que guardar segredos pode ser um peso desnecessário para a família e pode trazer grandes prejuízos no futuro. Além disso, se a criança souber que é amada e está segura, não terá razão para se sentir menosprezada por sua condição.
A psicóloga clínica Denise Mondejar Molino acrescenta que, mesmo inconscientemente, algumas crianças demonstram um conhecimento da verdade. Em casos de adoção tardia, ela passa por um longo período de adaptação aos novos pais, lar, irmãos e hábitos, o que desperta um questionamento interno. Já no caso de crianças menores, a psicóloga afirma ser possível identificar traços dessa percepção em desenhos ou mesmo brincadeiras.
Quando contar
"A palavra adoção deve ser falada em casa desde que a criança é ainda bebê. Não importa se ela entende ou não", afirma Cintia. Foi o que Vera Lúcia, de 57 anos, fez. A mãe de dois meninos, filhos biológicos, e de uma menina, adotada aos 17 meses, criou como que um lembrete para trazer o assunto à tona. Sempre que via uma mulher grávida aproveitava para tocar no assunto e explicar a diferença entre a filha adotiva e os irmãos. Dessa maneira, a adoção passou a ser tratada com tanta naturalidade quanto a gravidez.
A família biológica
A família biológica do adotado não deve ser um assunto tabu. Para a psicóloga Denise, é importante que a criança saiba sobre a sua origem e história pessoal. Mesmo que não seja possível resgatar todas as informações, é fundamental que a família compreenda a vontade do filho adotivo.
A psicóloga Cintia lembra que saber sobre o próprio passado é um direito do adotado. Neste caso, porém, ela aconselha que os pais esperem que o interesse por detalhes parta da criança. Mais importante que saber ou não sobre a sua história é a criança estar ciente de que o canal está aberto para diálogo.
Filho biológico x filho adotivo
É inevitável que um filho se sinta inseguro ao descobrir que vai ter um irmão e isso independe de laços consanguíneos. Mas uma maneira fácil de lidar com o problema é fazer com que o filho biológico participe de todo o processo de habilitação e adoção. "Ele é um membro muito importante que deve acompanhar tudo, emitindo sua opinião e sendo respeitado" explica a psicóloga Cintia. Embora exista uma hierarquia a ser respeitada, prevalecendo a decisão dos pais, o filho biológico deve reconhecer que tem seu espaço.
Casais homossexuais
Antes de tudo, a orientação sexual dos pais deve ser um assunto tratado com respeito e sinceridade dentro e fora do lar. Como observa Cintia, a sociedade está repleta de pensamentos ignorantes e, por isso, não custa nada preparar a criança adotiva para lidar com possíveis preconceitos. Se preparadas com antecedência, elas acabam enfrentando muito bem essas dificuldades. "O que não se pode fazer é deixar de adotar para deixar de encarar o preconceito dos outros. Quem deve se sentir mal é o preconceituoso, não quem quer ter um filho", afirma.
Divórcio
O divórcio dos pais sempre é impactante na vida dos filhos, independente de ele ser ou não adotivo. Nesse momento, o que deve ficar claro para a criança é que de forma alguma ela será abandonada. Por isso, os pais devem fazer de tudo para manter a convivência, conservando, assim, os vínculos de afetividade. Se ainda assim for notada alguma diferença no comportamento do filho, o ideal é buscar ajuda profissional para saber como lidar com o caso.