Ana Paula de Araujo foi redatora do site Minha Vida no período de abril de 2011 até fevereiro de 2012. Jornalista formada pela Pontifícia Universidade
iVocê já deve ter escutado a frase "antes tarde do que nunca". O famoso dito popular se aplica a diversas situações, inclusive à vida saudável. Se você tem mais de 40 anos e pensa que é tarde para começar a se exercitar, ou, talvez, que seu corpo já está fraco para suportar a carga de exercícios, é hora de repensar o assunto.
O fisiologista Raul Santo de Oliveira esclarece que a saúde só tem a agradecer quando se começa a praticar um exercício físico, mesmo se você nunca praticou nada. Ele explica que, nessa fase da vida, é comum que exista perda de massa muscular e óssea, tanto para homens quanto para mulheres.
Para homens, elas acontecem por causa da redução dos níveis hormonais, em especial da testosterona e, para mulheres, isso é bem comum no climatério e na menopausa - fase onde os níveis de hormônios femininos são reduzidos no organismo da mulher, o que ocasiona uma série de mudanças, como perdas ósseas. Além dessas reduções, depois dos 40, a condição cardiorrespiratória costuma piorar.
Raul Santo acrescenta que, nessa fase, são comuns doenças oportunistas e crônico-degenerativas, como hipertensão, diabetes, mau colesterol (LDL) elevado e até mesmo osteoporose - que, ressalta ele, também é consequência de hábitos trazidos pela vida toda, desde a infância. O exercício físico contribuirá com a melhora desses e outros quadros.
Desempenho nos exercícios
Claro que essas perdas prejudicam o desempenho atlético, mas essa não deve ser uma preocupação. "Não há problema se houver perda de desempenho, porque o objetivo é o completo bem-estar físico, mental e social", diz o fisiologista.
Optar por uma vida ativa - com a orientação correta de um profissional - traz melhoria e fortalecimento de toda a aparelhagem cardiorrespiratória (o que inclui coração e pulmões), fortalecimento muscular, melhoria da coordenação motora, melhor flexibilidade e melhor controle de composição corporal, colesterol, glicemia e pressão arterial.
Robson de Bem, médico fisiatra, também lembra que a prática de exercícios físicos tem o poder de prevenir câncer e processos artrósicos. Além disso, há progressos em todos os fatores adjacentes, o que significa que estresse, depressão e ansiedade passarão bem longe, já que haverá melhora do humor e da interação social.
Exames necessários
Para começar a praticar uma atividade, é sempre importante procurar um profissional. "O indivíduo tem que ter uma condição de aptidão para realizar o exercício, então deve procurar um médico a princípio, independente do exercício", aconselha Raul Santo.
Esse médico realizará uma avaliação clínica, que declarará se você é apto ou não para o exercício escolhido. O clínico geral realizará testes, como glicemia, hemograma, níveis de colesterol etc. Caso seja detectada alguma doença, o clínico poderá encaminhá-lo a um médico especializado.
Depois dessa avaliação, é preciso fazer o chamado teste ergoespirométrico. Ele consiste em um exame realizado em laboratório - em esteira ou bicicleta ergométrica -, onde a carga do exercício será gradativamente aumentada. Aqui, serão observadas as reações fisiológicas de acordo com a intensidade da atividade, como frequência cardíaca, pressão arterial e consumo de oxigênio, até chegar no consumo máximo de oxigênio que esse indivíduo suportou. Santo explica que esse é o principal parâmetro na hora de definir qual o limite do treino da pessoa.
Aeróbico ou anaeróbico?
Depois de testar a sua aptidão, está na hora de se mexer. O aconselhado é uma combinação de exercícios aeróbicos e anaeróbicos, que deverão proporcionar prazer. Embora você tenha preferência por uma atividade específica, diz o fisiologista, não é aconselhável que se restrinja apenas a ela. Por exemplo: se a caminhada lhe agrada, você deve tê-la como modalidade principal, mas também agregar outras, alternando entre esportes aquáticos, coletivos, exercícios com peso etc.
A base dos exercícios, nessa fase da vida, deve ser aeróbica, já que pode ser que o corpo não aguente uma carga mais pesada. Mas como diferenciar uma atividade aeróbica de uma anaeróbica? Ao contrário do pregado pelo senso comum, uma caminhada, por exemplo, não é necessariamente aeróbica, assim como um exercício com pesos não tem obrigação de ser anaeróbico.
"O que determina não é a modalidade, mas a intensidade aplicada em relação à frequência cardíaca", esclarece o fisiologista Raul. Assim, uma caminhada leve é um exercício aeróbico - e utiliza o metabolismo aeróbio, ou seja, demanda oxigênio para obter energia -, já uma corrida intensa pode ser considerada anaeróbica - utilizando o metabolismo anaeróbio, processo que não pede oxigênio para a obtenção de energia para a realização do exercício. O ideal, então, é que não se busque apenas uma modalidade, e sim várias, para que sejam trabalhadas várias valências físicas.
A caminhada é uma das mais democráticas, mas ainda assim exige um teste de aptidão física. No caso da corrida, as articulações e a coluna devem estar em dia. Já a natação é um treino mais introspectivo, que não exige grandes interações sociais. Para coletivos, vale prestar atenção em futebol ou vôlei, mas sempre tomando cuidado com as articulações e os possíveis impactos do esporte. O fisiatra Robson de Bem também acrescenta nessa lista Pilates, hidroginástica e ioga como boas atividades.
Cuidado com as lesões
Para evitar lesões, é de suma importância respeitar limites do corpo, usar roupas e acessórios corretos, alimentar-se corretamente, não exagerar na carga do exercício e nunca se esquecer de aquecimento e alongamento. Quando esses cuidados não são tomados, é comum que ocorram lesões de articulações e coluna vertebral - e isso se refletirá na qualidade de vida. Por isso, as recomendações do médico e do profissional de educação física devem ser respeitadas.
Pensando nos inúmeros benefícios da atividade física, ainda mais depois dos 40 anos, fica difícil arranjar desculpas. Que tal começar a sua hoje?
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