Médica ginecologista especialista em Endoscopia Ginecológica titulada pela FEBRASGO, também professora de Yoga...
iO aborto espontâneo acontece quando uma gravidez termina antes que o feto tenha atingido uma idade gestacional viável. A Organização Mundial de Saúde (OMS) define o acontecimento como a expulsão de um embrião ou feto pesando 500 g ou menos. Isso geralmente corresponde a uma idade gestacional de 20 a 22 semanas ou menos.
O aborto espontâneo é a complicação mais comum da gravidez precoce. A frequência diminui com o aumento da idade gestacional. De 8 a 20% das gestações clinicamente reconhecidas com menos de 20 semanas de gestação sofrerão aborto, sendo 80% destes nas primeiras 12 semanas de gestação. Há ainda a perda do bebê sem que a mãe perceba, que totalizam entre 13 e 26% de todas as gestações.
Vários fatores de risco estão associados com um aumento do risco de perda da gravidez, como:
Idade
A idade materna avançada é o fator de risco mais importante para o aborto espontâneo em mulheres saudáveis. O efeito da idade materna sobre o resultado da gravidez foi ilustrado em uma revisão de mais de um milhão de gestações. A taxa global de aborto foi de 11%. A frequência aproximada de abortos clinicamente reconhecidos de acordo com a idade materna é:
entre 20 a 30 anos - 9 a 17%
35 anos - 20%
40 anos - 40%
45 anos - 80%
Aborto espontâneo anterior
O passado obstétrico é um importante parâmetro de resultado da próxima gravidez. O risco de aborto em gravidez futura é de, aproximadamente, 20% depois de um aborto, 28% depois de dois abortos consecutivos e de 43% por cento depois de três ou mais abortos consecutivos. Em comparação, o aborto ocorreu em apenas 5% das mulheres em sua primeira gravidez ou em que a gravidez anterior foi bem sucedida.
Fumar
O tabagismo pesado (mais de 10 cigarros por dia) está associado a um aumento do risco de perda do bebê, mas o mecanismo não é conhecido. Tabagismo do parceiro também pode aumentar o risco de perda da gravidez. Parar de fumar deve ser recomendado para seus benefícios de saúde em geral.
Álcool
Estudos observacionais, em geral, têm informado - mas não de forma consistente - que a ingestão moderada ou alta de álcool aumenta o risco de aborto. Como exemplo, em um estudo houve um aumento do risco de aborto em mulheres que bebiam mais de três drinques por semana nas primeiras 12 semanas de gravidez.
Mulheres que planejam engravidar devem evitar o consumo de álcool já que o álcool é um teratógeno (causador de malformações) conhecido e pelo fato de ainda não ter sido estabelecido um nível seguro de consumo nesta fase.
Cocaína
O uso de cocaína está associado ao nascimento prematuro e também pode ser um fator de risco para aborto espontâneo.
Antiinflamatórios não-hormonais
O uso de antiinflamatórios não-hormonais pode estar associado a um risco aumentado de aborto espontâneo. O mecanismo proposto é que esses antiinflamatórios agem como inibidores das chamadas prostaglandinas, que desempenham um importante papel na implantação do ovo ao útero no início da gestação, portanto, potencialmente levando a uma implantação anormal. Embora os dados sejam escassos, é razoável sugerir que as mulheres que estão tentando engravidar devam considerar evitar uso de antiinflamatórios não esteróides para minimizar o risco de aborto.
Febre
Febres de 37,8° C ou mais podem aumentar o risco de aborto, mas não há estudos conclusivos a esse respeito.
Cafeína
Estudos controlados têm relatado uma associação entre consumo de cafeína e o aborto espontâneo, principalmente em níveis elevados de consumo. No entanto, esses estudos têm múltiplas limitações, pois o mecanismo para o aumento da taxa de aborto com a ingestão de cafeína pode estar relacionado ao metabolismo materno em relação às substâncias da bebida.
Peso materno
Índice de massa corporal pré-gestacional inferior a 18,5 kg/m² ou acima de 25 tem sido associado a um maior risco de infertilidade e aborto.
Doença celíaca (intolerância ao glúten)
A doença celíaca não tratada pode ser associada a um maior risco de aborto.Anormalidades cromossômicasAnormalidades cromossômicas são responsáveis por aproximadamente 50 por cento de todos os abortos. Quanto mais cedo a idade gestacional no momento do aborto, maior a ocorrência de defeitos genéticos. Os tipos mais frequentes de anormalidades detectadas são:
Trissomias autossômicas - 52%
Monossomia X - 19%
Poliploidias - 22%
Outros - 7%
Trissomia 16 - a mais comum e é sempre letal.
Anomalias congênitas
As anomalias congênitas são causadas por anormalidades genéticas ou cromossômicas e pela exposição a teratógenos. Teratógenos potenciais incluem distúrbios maternos como, por exemplo, o diabetes; drogas, como, a isotretinoína; estresse físico causado, por exemplo, por febre e produtos químicos ambientais, como o mercúrio.
Trauma
Procedimentos invasivos intrauterino, como a biópsia de vilo corial e amniocentese, aumentam o risco de aborto.
Fatores maternos
Anomalias uterinas congênitas ou adquiridas, como, por exemplo, septo uterino, podem interferir com a implantação ideal e crescimento da gravidez.Infecção materna aguda, como, por exemplo, a herpes, pode levar ao aborto.Endocrinopatias maternas, como, por exemplo, a disfunção da tireóide, podem contribuir para um ambiente de acolhimento abaixo do ideal.Um estado de hipercoagulabilidade devido à trombofilia hereditária ou adquirida e anormalidades do sistema imune que levam à rejeição imunológica ou ao dano placentário são áreas ativas de investigação.
Inexplicável
A causa do aborto de embriões cromossomicamente e estruturalmente normais em mulheres aparentemente saudáveis não é clara. Como discutido acima, anormalidades genéticas não detectadas pela análise do cariótipo normal são responsáveis por uma proporção indefinida de abortos espontâneos.
Manifestações do aborto
As mulheres que estão ativamente no processo de um aborto espontâneo geralmente apresentam história de atraso menstrual, sangramento vaginal e dor pélvica.
Ameaça de aborto
Sangramento com o orifício do útero fechado no primeiro semestre de gravidez é bastante comum e é chamado de ameaça de aborto. O sangramento geralmente é indolor, mas pode ser acompanhado por mínima ou leve dor no pé da barriga. Batimentos cardíacos fetais são detectados por ultrassom se a gestação é suficientemente avançada. A etiologia exata da hemorragia muitas vezes não pode ser determinada.
Entre 90 e 96% das gestações de 7 a 11 semanas de gestação com ameaça de aborto irão resultar em uma gravidez normal.
Tratamento
O tratamento deve ser individualizado e levar em conta múltiplos fatores. O mais importante é manter um acompanhamento médico desde antes da gravidez, se possível, para um planejamento adequado da gravidez e seguimento a qualquer ameaça de aborto.
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