Nas reuniões da escola ou na festinha infantil dá para perceber: cresceu o número de pais e mães que criam os seus filhos sozinhos, hoje, aproximadamente há mais de 1 milhão de famílias formadas apenas pela mãe. As informações são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Quando o pai ou a mãe criam o filho sem a companhia do cônjuge, entretanto, alguns conflitos emocionais tendem a surgir, interferindo no equilíbrio psicológico da criança se não forem observados desde cedo. "O erro mais comum é permitir que os desentendimentos amorosos façam parte da rotina da criança e se reflitam na vida delas, com dificuldades para visitas ou críticas a quem não mora com ela", afirma a psicóloga Raquel Baldo, especialista no estudo psicanalítico contínuo, com base em Winnicott.
Para vencer este e outros desafios relacionados à educação infantil quando falta o cônjuge para dividir as responsabilidades diárias, veja as dicas dos especialistas.
Devo fazer o papel do outro?
A questão é unânime entre os especialistas no assunto, não existe como o pai fazer o papel da mãe ou vice-versa. "A criança vai sentir falta da outra parte e a melhor maneira de aliviar este sentimento é mostrar carinho, estar presente na rotina da criança", afirma o psicanalista Mauro Hegenberg, professor do Instituto Sedes Sapientiae, em São Paulo.
Mas nem por isso significa que a criança terá uma educação inferior àquela de quem cresceu com pai e mãe em casa. Uma boa forma de preencher esse espaço é o apoio da família de origem, como um parente que pode representar a pessoa ausente. "Mas caso a criança se apegue de forma exagerada, é sinal de que algo não vai bem", afirma Mauro Hegenberg.
Devo responder as perguntas do meu filho?
Não tem como fugir, uma hora o seu filho vai te perguntar sobre a pessoa ausente, vai querer saber quem ela é, o que ela faz e outras perguntas sobre a origem familiar dele. "Por mais que não exista a presença da outra pessoa, a figura dela sempre existirá, mesmo que ausente ou morta, e justamente por isso, há necessidade de uma explicação", afirma a psicóloga e doutora Denise Pará Diniz, coordenadora do Setor de Gerenciamento de Estresse e Qualidade de Vida da Unifesp.
Portanto, ao iniciar os questionamentos existem dois caminhos, um para a criança e outro para o adolescente. "Não devemos nunca mentir ou esconder nada da criança, apesar de pequena, ela precisa saber de forma objetiva a sua origem e o motivo da ausência do pai ou da mãe." Segundo Denise, quando o filho entra na adolescência a explicação pode ser mais detalhada sobre os motivos da separação, porém, sem que as suas emoções ou seus traumas sejam despejados em quem ouve.
Como faço para evitar julgamentos?
O modelo de família em que a criança é criada por apenas um responsável é cada vez mais comum. "normalmente, o problema aparece quando a família esconde parte da história, sem revelar por que o pai ou a mãe está ausente", afirma a psicóloga Raquel Baldo. Isso mexe com a cabeça da criança porque ela fica sem referências frente aos colegas, uma situação mais comum quando tem início a vida escolar.
É necessário oferecer mais carinho?
Filhos devem receber carinho, isso nunca é demais. O exagero acontece quando o carinho vira mimo e você perde a capacidade de impor limites. De acordo com o psicanalista Mauro Hegenberg, se uma criança entende que tem regalias porque o pai ou a mãe não mora com ela, surge uma versão alterada da realidade. "A mensagem por trás desse comportamento é que ela seria uma pessoa prejudicada, a quem o mundo deve", afirma. Segredos na família, como problemas judiciais e traição conjugal, devem ser abordados somente quando a criança tiver condições de entender do que se trata e avaliar o cenário por conta própria.
A psicóloga Raquel completa que o pai ou a mãe responsável pela criança precisa dar atenção na medida do possível. "Pequenas atividades já representam o convívio, como ler histórias ou ter uma conversa pela manhã, reserve uma hora para brincar com a criança no final de semana, mas nunca dedique todo o seu tempo livre para dar atenção." Ela afirma que o carinho exagerado desmerece o outro, como se ele dependesse disso para compensar alguma carência irreversível.
O que fazer no caso de eu conhecer outra pessoa?
Muitas pessoas, após a separação, ficam carentes e transformam seus filhos em "namorados". Neste caso, os ciúmes serão inevitáveis. A psicóloga Maria Elisangela Nunes Carneiro, do Instituto Maternar Vida, explica que não há nada de errado com este sentimento desde que o adulto explique o que está acontecendo. "Continue dando amor e atenção para que seu filho sinta-se seguro com as mudanças", afirma. Quando a nova relação é saudável, a tendência é que este sentimento diminua com o passar do tempo e com a adaptação da criança a uma pessoa na rotina. "Mas apresente seu filho somente quando a relação já estiver mais estável, protegendo a criança do trauma de mais uma separação, de mais uma perda".