Bacharela em Fonoaudiologia pela PUC-SP desde 1987. Atua no Conselho Regional de Fonoaudiologia: 4348/5-SP. Pós-graduada...
i Certa vez, um leitor do Minha Vida me enviou a seguinte dúvida:
"Dra. Solange, preciso muita da sua ajuda. Estou prestes a entrar na faculdade e tenho vergonha da minha fala, pois tenho dificuldades em pronunciar ´L` ´F` ´R`, e as vezes me confundo nas palavras e acabo falando tudo errado. Minha mãe me levou, quando eu era pequena, a uma fono, que disse que o meu caso não precisava de cirurgia, com os exercícios eu ficaria boa, só que o consultório acabou fechando [...]"
Aqui vai a minha resposta, que pode ajudar também a outras pessoas, que tenham o mesmo problema.
A fala que usamos é a oral, soma de duas funções que usamos para sobreviver: a alimentação e a respiração. Assim, ao falarmos, usamos o som gerado pelas cordas vocais, que é produzido pelo ar dos pulmões, e modificamos com os dentes, língua e formato dos lábios. Essa modificação é chamada de articulação. Cada som é diferente do outro, pois o ponto de articulação varia, mesmo que minimamente.
Quando somos bebês, essa diferença quase não é percebida, mas com o passar dos anos e amadurecimento da audição, aprendemos a discriminar mesmo os sons mais parecidos, como o T do D, que no caso tem o ponto e modo de articulação iguais e a diferença é o traço de sonoridade.
Assim acontece com todos os sons. O amadurecimento auditivo é concluído por volta dos seis anos, quando nosso cérebro "estoca" padrões sonoros. Após essa idade, o processo de aperfeiçoamento auditivo é mais lento e limitado. Por isso temos tanta dificuldade em aprender um novo idioma ou tentar falar sem muito sotaque - já que nossa audição acaba não detectando diferenças importantes entre sons com significados totalmente diferentes para falantes de outra língua, como por exemplo Bill (de nome) e bill ( de conta), que para nós parecem iguais.
No caso do português, por ser você brasileiro (a) e ter crescido aqui, tem "estocado" em seu cérebro lembranças de sons falados aqui.
Por que surgem as alterações na fala?
Eles podem ocorrer por uma pequena perda auditiva na época de aquisição de linguagem, por problemas motores relacionados a padrões de respiração e obtenção de alimentos, modelos inadequados, pouca estimulação, entre outros.
No caso os sons alterados são: /L/, /F/, e /R/. No caso do leitor, não sabemos se esse /R/ é o apical (de baRata) ou gutural ( de baRRo).Vamos supor que é o primeiro tipo.
No processo de terapia, o primeiro passo é conhecer os pontos articulatórios, portanto:
/L/ e /R/: a ponta da língua se eleva e toca na papila, região logo atrás dos dentes de cima. A iferença entre eles é a velocidade, o /L/ é um som "lento" a língua meio que "cola" na região antes de disparar o som.
Já o /r/ é rápido, vibrante, a língua, bate apenas. Já o /F/ é um som que chamamos de fricativo, pois o fluxo de ar é constante, mantido pela corrente de ar que expelimos. O ponto da língua nesse som é atrás dos dentes de baixo e a articulação é dentolabial, ou seja, os dentes superiores se aproximam do lábio inferior criando uma "canaleta" por onde o ar será comprimido e o som gerado.
Alguns hábitos que podem ajudar
1) Respiração adequada é realizada pelo nariz, de maneira que a boca fique fechada durante os períodos que estamos em repouso, ou seja, nem falando nem comendo. A saúde dos dentes também é extremamente importante;
2) A mastigação deve ser bilateral, ou seja, trituramos os alimentos um pouco em cada arcada.
3) Trabalho auditivo: ouça diferentes tipos de música, tente reproduzir melodias diferentes, ouça música clássica.
4) Treine: é preciso praticar. Comece a ler jornais e revistas lentamente em voz alta mexendo bem a boca. Pegue um dicionário e comece a treinar listas de palavras iniciadas pelos sons que você precisa praticar. Peça para um amigo soletrar as palavras que você precisa treinar e junte os sons na cabeça, ou você mesmo fale palavras em voz alta e depois soletre