Pediatra especializada em medicina do adolescente, conhecida como hebiatria. Formada pela Pontifícia Universidade Católi...
iPara nós, adultos, a adolescência é vista como a melhor fase da vida. Anos de diversão, de descobertas, de irreverência. Avaliada como um evento passado parece exatamente assim. Poucos se lembram do outro lado de ser adolescente, da ânsia de ser adulto e independente lutando com o medo de crescer e perder os benefícios da infância. Da sensação de se olhar no espelho e não mais se reconhecer ou de olhar seus antigos amigos e pensar: "Não tenho nada a ver com eles!". A maioria de nós não se lembra disso.
De fato a adolescência é uma fase marcante. É o momento de busca da identidade adulta, da personalidade, mas não deixa de ser sofrida. O mundo conhecido durante a primeira década de vida começa a desabar: seu corpo não é mais o mesmo e não há meios de modificar isso. Seus pais também não são mais os mesmos, aqueles heróis da infância se mostram como seres... normais! E a sociedade? Não acham mais bonitinho quando você derruba comida no chão ou um barulhinho escapa da sua boca na mesa de jantar!
Para lidar com todas estas novidades o adolescente passa a manifestar alguns comportamentos que muitas vezes incomodam aqueles à sua volta. Tende a ficar mais isolado em casa, dar mais valor aos amigos do que aos próprios pais e apresentar modificações de seu comportamento, seja em relação às roupas, às comidas, ao grupo de amigos ou aos resultados escolares. Tudo isso faz parte da busca de si mesmo.
O adolescente é um indivíduo em formação e em constante transformação. Ninguém sabe onde vai chegar, muito menos ele mesmo, e isso é assustador. São tantos sonhos, tantos medos e tão pouca experiência de vida! E daí aparece uma das principais características dessa fase: a experimentação.
Para descobrir sua individualidade e sua personalidade o jovem precisa experimentar. E errar. Saber o que não quer para si é um bom começo e descobrir o que quer é o grande objetivo. Mas para isso é preciso vivenciar as mais diversas situações, experimentar novos comportamentos, novos relacionamentos, novo estilo de ser. E daí aparece a variação de humor.
As alterações de humor da adolescência são resultado do seu dia a dia. Não, não é culpa dos hormônios, nem da noite mal dormida. Muito menos da fome provocada por um almoço de má qualidade. É claro que isso pode interferir, mas a causa principal é a experiência deste mundo novo.
Diariamente o adolescente vivencia situações de conquista e de frustração e lidar com elas leva a uma oscilação de humor que, quando apresentadas em outra faixa etária, são consideradas patológicas. Mas para ele é construtivo. Imaginem um indivíduo na seguinte situação: adolescente de 15 anos vai fazer um teste para entrar no time de futebol do clube e consegue. Chega em casa e é parabenizado por todos. Seu amigo, que também passou no teste, liga para ele e o convida para comemorarem juntos na balada, mas seus pais não o deixam ir porque é aniversário da bisavó. Pronto, da sensação de euforia, de poder, ele passa para a frustração, afinal ele queria muito comemorar com seus amigos, mas a realidade o puxa de volta mostrando que faz parte de uma família e tem que honrar seus compromissos. E seus pais não estão errados, faz parte da sua obrigação colocar limites e passar seus valores. E lá vem mais uma onda de mau humor!
Quem não se lembra de situações como esta? Todos passam por isso para aprendermos a viver no mundo dos adultos. Existem regras não escritas de comportamento e de respeito ao outro e a nós mesmos que só são aprendidas com a experiência. Se os pais, familiares e professores tiverem conhecimento destas características do adolescente, a intensidade das crises tende a ser menores e o apoio para a formação de um adulto saudável será maior.
Uma das belezas do ser humano é a diversidade. Nenhum ser humano é igual ao outro, em nenhuma fase da vida e ninguém sabe como será seu próprio filho. Com o conhecimento das características desta faixa etária e sem abrir mão de seus princípios, pais podem dividir com seus filhos anos de felicidade e orgulho. Ainda que na adolescência.