Formada em psicologia pelo Centro Universitário Paulistano e em psicanálise pelo Centro de Estudos em Psicanálise.Especi...
iA morte sempre é uma questão delicada, especialmente para nossa cultura, apesar de sabermos ser a única certeza da vida, socialmente é um assunto evitado, negado e que carrega muitos tabus.
Quando a morte acontece com uma pessoa próxima e querida sempre irá causar muita tristeza. A perda de um filho, marido, esposa, mãe, pai, um grande e intimo amigo é uma enorme e dolorida angustia. E essa sensação será vivida por qualquer pessoa que se encontre em tal situação, seja por uma morte acidental ou por doença.
O luto é um processo de angustia inevitável e necessário quando vivemos uma perda significativa em nossa vida, possui fases ou etapas, pode ser menos ou mais intenso e tudo isso irá depender da particularidade de cada pessoa envolvida na perda e também da história em torno da morte.
Não há prazo ideal para se viver um luto e nem mesmo uma forma melhor para passar pelo processo, há somente a necessidade de encarar a perda, sentir a dor da falta e a partir de então viver o luto, para poder em algum momento seguir adiante com sua vida sem maiores sofrimentos.
As fases ou etapas do luto podem ser negação, raiva, barganha/camuflagem, depressão/tristeza, aceitação e esperança, as fases não são necessariamente vividas por todas as pessoas e nem mesmo possuem uma ordem, as vezes uma pessoa pode ficar meses numa única fase sem se dar conta ou mesmo pode viver rapidamente algumas fases e superar a perda.
A religiosidade costuma ser uma vivência que possui grande influência na forma como uma pessoa pode lidar com a morte e com o processo de luto.
As religiões possuem uma explicação ou um conceito a respeito da morte, muitas vezes considerando a vida como uma passagem para outra dimensão ou vida, onde somos todos esperados e poderemos continuar nossa existência de alguma outra forma. A morte para algumas religiões e culturas pode ser vista como algo bom e bonito e ser motivo de agradecimento pela experiência vivida, mas acima de tudo por já ter ido para um outro lugar imaginado como melhor, onde se recebe graça, recompensa, pode encontrar uma força superior ou entes queridos.
Compreender o significado da morte para cada religião é fundamental para entender a visão de morte de uma pessoa e poder entender assim seu processo do luto.
Vale lembrar que não necessariamente uma pessoa irá passar pelo processo de luto chorando, acamada ou sofrendo, apesar de ser uma reação muito comum, não é sempre assim. Um luto pode ser vivido e sentido em sua dor através de sorrisos, trabalhos, orações, gratidão, músicas..., para sentir a dor da perda uma pessoa não precisa se desesperar em prantos, a dor do luto pode ser sentida no dia a dia sem desconstruir a estrutura da vida que continua.
Normalmente as pessoas mais religiosas ou com uma fé na vida e em uma força superior, tendem a reagir com menos sofrimento e desespero. Sua crença e ideia de vida acabam favorecendo um olhar para a morte com menos negação e revolta, pelo contrário, costumam reagir com esperança e gratidão pela oportunidade de ter conhecido a pessoa que morreu e também pela oportunidade de ir para um possível lugar melhor e mais acolhedor, sustentado por amor e reconhecedor daquele que estará chegando, assim apesar da dor e tristeza, tendem a sofrer menos pois são conduzidos por sua fé.
Ter uma religião ou religiosidade não é garantia para não sofrer no luto ou mesmo para ter fácil aceitação da morte, muitas pessoas religiosas se desestruturam em um momento de perda, principalmente quando esperavam uma solução, salvamento ou milagre em relação a não morte. Também não há uma religião ou crença que facilite mais ou menos, a ideia da morte, apesar de algumas delas trabalharem com mais frequência a aceitação desta ideia.
O que realmente conta em um processo de luto e de morte, de uma forma mais saudável, é a fé! Fé que a pessoa possui na vida, no meio, na pessoa que morreu, nela mesma e também em sua cultura e crença. Quando se possui fé, e não falo aqui de religião, mas sim no sentido mais amplo da palavra, fé na existência, a pessoa tende a confiar mais na vida que possui, na história que vive e nas oportunidades que recebe, costuma aproveitar e reconhecer mais que outras pessoas, cada experiência sentida. E assim a tendência é temer menos uma perda ou a morte, pois não se prende a ideias de posse sobre as pessoas em seu meio, nem mesmo a ideias cronológicas ou tempo de vida. Acabam entendendo com mais facilidade que a morte faz parte de estar vivo e sua chegada independe idade ou condição. Reconhecem mais aquilo que possuem e enquanto podem viver, assim quando a morte chega, por mais que a tristeza venha junto ( e ela sempre vem, pois nos traz a falta e a saudade) recordam que tiveram bons momentos e experiências valiosas até então e essa é a sensação predominante.
Nos últimos dias ficamos sabendo pelas notícias que uma pessoa religiosa perdeu seu jovem filho, em poucos dias após a descoberta da doença e a noticia entristeceu a muitos seguidores. Podemos pensar que o tempo que ela teve desde a notícia da doença até a morte do seu filho, não foi suficiente para poder considerar a ideia de perda dele. Mas podemos sim pensar que sua fé, em si, no seu filho, na vida com ele até então e em sua crença foram fortes motivadores para que ela reagisse com pouco sofrimento a notícia da morte, apesar de muito provável estar sentindo muito a falta (uma falta dolorida) de seu querido filho.
Muitos se perguntam onde está o sofrimento dela, uma mãe que perdeu seu filho? Dizem ser a maior dor que alguém pode viver.
Sua experiência e reação nos apresenta e relembra que uma morte não precisa ser sofrimento quando se tem uma segurança e fé em sua própria vida, quando se tem consigo que aproveitou até então a oportunidade do seu viver junto ao viver deste outro alguém. O sofrer acontece, quando se descobre que ali, no momento do fim, a vida não foi vivida e não foi aproveitada, esse costuma ser o maior motivo do sofrimento do luto, a vida que termina e não foi vivida!