Psicóloga pela Universidade Guarulhos (UNG). Personal e Professional Coach pela SBC – Sociedade Brasileira de Coaching....
iRedatora especialista em conteúdos sobre saúde, família e alimentação.
O interesse por pornografia é um dos mais lucrativos e explorados. Mais do que um simples entretenimento adulto, a pornografia entra no hall de prazeres imediatos e vai muito além de apenas do desejo de consumir conteúdos de nudez — especialmente quando tal prática se torna cada vez mais diária e constante.
Com uma conexão profunda com os produtos químicos em nosso cérebro, os efeitos da pornografia no sistema podem ser mais complexos do que você imagina. Para te ajudar a entender, o MinhaVida conversou com especialistas para explicar os malefícios do vício (e como tratar). Confira!
Pornografia faz mal?
Muitas pessoas, tanto homens quanto mulheres, consomem pornografia em seus tempos livres — mas isso não significa que todos esses indivíduos são compulsivos por conteúdos sexuais. É preciso saber dosar qual o limite do saudável, segundo Lilian Fiorelli, médica ginecologista e especialista em sexualidade feminina e uroginecologia pela USP.
A especialista aponta que a pornografia pode ser usada como estímulo sexual inicial, mas assim como qualquer outro vício ou abuso, ela passa a fazer mal quando se torna uma constante ou um escape — e quando tal hábito passa a afetar várias esferas da vida dessa pessoa.
“A pornografia pode levar ao desenvolvimento de um vício, em que a pessoa sente uma necessidade compulsiva de consumir cada vez mais conteúdo pornográfico. Isso pode levar a problemas de controle, afetando negativamente a vida pessoal, profissional e social”, explica a psicóloga Rosângela Casseano, terapeuta cognitiva comportamental e CEO da PsicoPass.
Entenda as impressões da pornografia no cérebro e quando o consumo excessivo de conteúdo adulto pode ser prejudicial para a saúde mental.
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1. Prazer imediato (que resulta em vício)
Segundo Lilian, a pornografia está intrisecamente ligada à dopamina. Isso porque esse tipo de conteúdo ativa uma área do cérebro que é a do prazer imediato, assim como algumas drogas, como a maconha e a cocaína.
A dopamina é uma substância química intimamente ligada ao prazer e à felicidade, e está associada com o centro de recompensa de nosso cérebro, o que a torna essencial no comportamento motivado por recompensas. Dessa forma, quando algo é saboroso ou agradável, a dopamina é liberada, o que nos encoraja a buscar essa ação novamente — o que pode resultar no vício.
2. Problemas na memória e disciplina
Por estar associado à dopamina, que é ligada ao centro de recompensa, o consumo exagerado de conteúdo sexual pode impactar no sistema de recompensa do cérebro.
Segundo um estudo realizado pela Universidade de Duisburg-Essen, e publicado no periódico Journal of Sex Research, após o envolvimento contínuo com pornografia, algumas pessoas relataram problemas como dificuldade para dormir e esquecimento de compromissos.
Além disso, de acordo com outra pesquisa realizada pelo periódico, assistir pornografia também pode fazer com que as pessoas valorizem recompensas imediatas — e quanto mais tempo se tem que esperar para recebê-las, menos valiosa ela se torna.
3. Impacto na performance sexual
O vício em pornografia envolve muito mais do que apenas querer ver vídeos e fotos de nudez e pode afetar diretamente a vida sexual. “O consumo excessivo pode resultar em disfunções sexuais, como dificuldades de ereção, diminuição do desejo sexual e dificuldade em se envolver em relações íntimas reais”, explica Rosângela.
Apesar de não ter uma idade específica para desenvolver essa dependência, o assunto pode ser ainda mais delicado quando se trata do período de descoberta e despertar sexual.
"Quando se está iniciando uma vida sexual, já iniciar pela pornografia e ficar viciado é péssimo, porque você vai passar a achar que isso é o modelo correto de relação sexual", esclarece Marina Vasconcellos, psicóloga psicodramatista e terapeuta familiar pela PUC-SP.
4. Transtornos psiquiátricos
Alguns estudos correlacionam a exposição a materiais sexualmente explícitos com transtornos psiquiátricos, como ansiedade social e depressão.
"O vício em pornografia é uma compulsão e, às vezes, até mesmo uma fuga da realidade, de uma depressão ou de uma ansiedade. Geralmente, tem muita relação com transtornos psiquiátricos, como qualquer outro tipo de abuso", explica Lilian.
Além disso, Rosângela acrescenta que o consumo excessivo pode levar a uma diminuição da autoestima e da confiança em si mesmo. “Isso ocorre porque a pessoa pode começar a se comparar aos atores pornográficos e a se sentir inadequada ou insatisfeita com o próprio corpo ou desempenho sexual”.
5. Relações sociais
Além de impactar na saúde sexual e mental, o vício em pornografia também pode prejudicar as relações interpessuais, pois pessoa passa a se limitar de suas atividades sociais — e às vezes até laborais —, para ficar consumindo tais conteúdos.
Lilian explica que o vício influencia no trabalho, onde já não se consegue mais focar nas atividades, bem como nas relações interpessoais, uma vez que a pessoa começa a ter uma tendência em se isolar cada vez mais e mais.
Além disso, a pornografia pode criar expectativas irreais sobre o sexo e o corpo, levando a comparações prejudiciais e à insatisfação com o parceiro, segundo Rosângela.
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Como tratar o vício em pornografia?
No início, pode ser difícil reconhecer a existência de um vício em pornografia, mas é indispensável procurar apoio profissional quando ele começa a afetar a qualidade de vida, interferindo em suas relações pessoais, profissionais ou prejudicando a saúde física e mental.
Alguns métodos de tratamento podem incluir terapia individual ou em grupo, programas de reabilitação, aconselhamento psicológico e uso de técnicas de controle dos impulsos. Um médico ou um profissional de saúde mental pode avaliar a situação e fornecer orientação adequada.
“Vale lembrar que cada pessoa é única e pode ter experiências e necessidades diferentes. É importante buscar ajuda profissional adequada para lidar com o vício em pornografia e seus efeitos na saúde”, finaliza Rosângela.