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Cientistas holandeses identificaram microplásticos na corrente sanguínea de humanos pela primeira vez. O estudo que fez esta descoberta inédita foi publicado na revista Environmental International na última quinta-feira (24).
Para chegar ao achado, a pesquisa analisou amostras de sangue de 22 doadores anônimos. Em 17 delas, foram encontradas partículas micro e nanoplásticas, com concentração de 1,6 microgramas por mililitro - o que é equivalente a uma colher de chá em mil litros de água.
Na maior parte das amostras, foi possível detectar até três tipos de plásticos diferentes: PET (garrafas plásticas), polietileno (comum em sacolas de supermercado e embalagens plásticas de alimentos) e polímeros de estireno (isopor). Também foram analisadas amostras para identificar polipropileno, um polímero bastante usado em embalagens e rótulos de produtos, porém, neste caso, as concentrações foram muito baixas.
Na prática, a descoberta indica que os microplásticos podem circular pelo organismo de seres humanos. Em entrevista ao jornal britânico The Guardian, Dick Vethaak, ecotoxicologista da Vrije Universiteit Amsterdam, na Holanda, afirmou que é "razoável se preocupar" com o resultado da pesquisa. "As partículas estão lá e são transportadas por todo o corpo", afirmou o especialista.
O próximo objetivo dos pesquisadores é entender os impactos dessa contaminação para a saúde humana. "As partículas ficam retidas no corpo? Elas são transportadas para certos órgãos? (...) E esses níveis são suficientemente altos para desencadear doenças? Precisamos urgentemente financiar mais pesquisas para que possamos descobrir [as respostas]", afirmou Vethaak ao The Guardian.
Outras detecções de microplásticos
Vale lembrar que, em 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou que microplásticos já haviam sido identificados na água marinha, esgoto, água doce, em alimentos e, inclusive, no ar. Antes disso, um estudo de 2017 revelou a presença dessas partículas na água potável de diversos países - tanto na engarrafada, quanto na água da torneira.
Mais recentemente, diferentes pesquisas realizadas na Europa descobriram as primeiras evidências da presença de microplásticos na placenta de mulheres grávidas e até mesmo no organismo de bebês. Diante desse dado, uma das hipóteses dos cientistas é de que as partículas podem "passar" do organismo materno para os fetos durante a gestação.
Microplásticos: o que são e malefícios
Os microplásticos são partículas muito pequenas de plástico ? menores do que 5 milímetros e, em alguns casos, invisíveis a olho nu. Eles são originados de diversos produtos feitos do material, como embalagens, garrafas, sacolas e outros itens já fabricados em tamanho milimétrico, como os microplásticos presentes em esfoliantes e no glitter.
Atualmente, eles são considerados um dos principais poluentes do meio ambiente, já estando presente em oceanos, rios e ar. Um estudo publicado na revista Frontiers in Marine Science, em 2020, estima que existem cerca de 14 milhões de toneladas métricas de microplásticos no fundo dos oceanos. Segundo a pesquisa, esse valor é igual a 35 vezes mais plástico do que se acredita estar flutuando na superfície.
Um outro estudo publicado na revista Proceeding of the National Academy of Sciences indicou que 11% dos microplásticos presentes no ar vieram da pulverização atmosférica do mar, enquanto 5% foram derivados da poeira do solo agrícola.
A poluição por microplásticos pode afetar a saúde de diversos animais, especialmente os marinhos, causando problemas na reprodução e o aumento da mortalidade de algumas espécies. Já em humanos, o microplástico pode ser ingerido ou inalado, porém os efeitos para a saúde a longo prazo ainda são desconhecidos.