Cirurgiã plástica, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e da Sociedade Brasileira de Laser, mestre em cir...
iO bullying é uma condição antiga, porém cada vez mais evidente na atualidade, gerando sintomas danosos ao desenvolvimento psicossocial das crianças como falta de apetite, isolamento social, agressividade e baixo rendimento escolar. Normalmente as vítimas de bullying são perseguidas por alguma alteração física ou comportamental que foge de determinado padrão. Nas crianças ou mesmo em adultos, a presença das orelhas proeminentes, mais conhecidas como “orelhas de abano”, constitui importante causa para que se tornem alvo deste tipo de ato intimidador e muitas vezes agressivo.
As orelhas proeminentes são uma questão geralmente congênita, de causa genética, que acomete de 2 a 5% da população. Embora seja comum as pessoas acreditarem que as orelhas são abanadas por serem grandes e, sendo assim, necessitam ser diminuídas para serem corrigidas, na maioria das vezes o problema não é o tamanho da orelha em si, mas sim a falta das “dobras” que a compõem, associada ao seu posicionamento mais afastado da cabeça, gerando um aumento do ângulo existente entre a implantação da orelha e o osso do crânio. Geralmente a orelha proeminente se torna mais evidente quando a distância entre a orelha e a cabeça, observando-se por trás, é de 2 ou mais centímetros.
Na opinião da cirurgiã plástica, a idade pré-escolar pode ser um momento-chave para a cirurgia de correção
A otoplastia – cirurgia para correção das orelhas de abano, é uma das poucas cirurgias plásticas indicadas e realizadas em crianças. Um fato curioso é que aos 7 anos de idade a orelha humana já apresenta 90% do tamanho que apresentará na vida adulta. Desta forma, poucas modificações irão ocorrer após esta idade.
Por outro lado, sabendo-se do impacto da correção desta alteração sobre a qualidade de vida das pessoas, é importante que seja realizada na idade pré-escolar, quando se iniciam os relacionamentos sociais, as crianças passam a ter uma percepção maior do seu corpo e aumentam as chances de serem alvo de brincadeiras inadequadas.
Recomenda-se, portanto, que a cirurgia seja realizada em uma fase precoce da vida, mas em um momento no qual a criança já se mostre estimulada a realizar a correção e ainda não se sinta traumatizada pela condição física. Esta motivação partindo da própria criança favorece que ela aceite o procedimento e colabore com os cuidados pós-operatórios.
Como funciona a cirurgia de correção das orelhas
A cirurgia de correção das orelhas de abano consiste em construir as dobras ausentes nas orelhas que apresentam tais alterações, encurvando a orelha para trás, tentando reproduzir o relevo de uma orelha naturalmente bem posicionada e aproximar, através de pontos, a estrutura da orelha ao crânio. Trata-se de um procedimento simples, normalmente realizado sob anestesia local e sedação, utilizando-se uma incisão por trás da orelha, posição onde se localizará a cicatriz final.
No pós-operatório, o paciente permanece com a cabeça enfaixada por 3 a 4 dias. Após retirado este enfaixamento, é indicado o uso de uma faixa elástica para manter a orelha na posição adequada durante o sono e a prática de exercícios físicos. É uma cirurgia de recuperação rápida, de resultado visível em poucas semanas, mas que pode gerar algum grau de dor nos primeiros dias após a sua realização.
Correção das orelhas pode ser feita desde o início da vida até a idade adulta
Em alguns casos escolhidos, quando identificado em uma fase muito precoce da vida, é possível tratar as orelhas abanadas de bebês através de moldagem da cartilagem, sem a necessidade de uma cirurgia. Este método é menos invasivo, mas apresenta limitações significativas na indicação e nos resultados obtidos. Por outro lado, não há contraindicação a se realizar a cirurgia de otoplastia na fase adulta. Nesta idade, a cartilagem é mais rígida, algumas vezes dificultando a remodelação, porém há técnicas específicas para lidar com esta característica.
Os adultos, quando submetidos a este procedimento, costumam apresentar um alto grau de satisfação, além de alívio ao rememorar os constrangimentos sofridos ao longo da vida, passando, a partir de então, a vislumbrar a possibilidade de usar penteados, cortes de cabelo e adornos que lhe convier, sem a necessidade de buscar sempre uma forma de ocultar as orelhas.
Muito acima da visão estética, muito mais do que uma cirurgia plástica embelezadora, a otoplastia tem ajudado a aprimorar o desenvolvimento e socialização de crianças e também de adultos, melhorando sua autoestima, sua qualidade de vida, trazendo uma visão mais positiva de si mesmas e fortalecendo sua estrutura emocional.
Contribuir para aumentar a autoaceitação e autoconfiança de uma criança, corrigindo uma condição física que a incomoda, através de um procedimento simples, é algo que enobrece a prática da cirurgia plástica. Afinal, segundo a OMS, o conceito de saúde inclui o bem-estar físico e mental e não apenas a ausência de doença.
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