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Um estudo publicado na revista Addiction indica que o consumo de álcool aumenta as chances de uma pessoa ter relações sexuais inseguras, que é a principal porta de entrada do vírus HIV, além de ser fator de risco para uma série de outras doenças sexualmente transmissíveis, como gonorreia e HPV.
Para chegar a esses resultados, os pesquisadores analisaram outros 12 experimentos que avaliavam essa relação de causa e efeito entre álcool e sexo inseguro. Nos resultados, o consumo de álcool afetava a tomada de decisões, levando os indivíduos a terem vontade de fazer relações sexuais sem proteção. A influência aumentava conforme a quantidade ingerida - quanto mais álcool, maior a vontade de se envolver em relações sexuais sem usar camisinha.
Nesses experimentos, os participantes foram alocados aleatoriamente em dois grupos: um que consumiu álcool durante o estudo e o outro que não. Durante seis meses, os pesquisadores mediram a quantidade de álcool ingerida e a frequência de relações sexuais feitas com e sem proteção.
Os pesquisadores perceberam que um aumento no nível de álcool no sangue de 0,1 mg/mL resultou em um aumento de 5% na probabilidade de se engajar em relações sexuais desprotegidas.
Para os estudiosos, os resultados mostram que o consumo de álcool tem consequências importantes da vida dos indivíduos e deveria, inclusive, ser incluído como fator para prevenção do HIV.
Por que o excesso de álcool causa tantos danos?
Para entender como a ingestão de bebidas alcoólicas consegue causar danos a tantas partes do nosso corpo, é preciso explicar o processo de metabolização do álcool ou etanol, ou seja, como o nosso corpo absorve, metaboliza e excreta essa substância.
A médica Ana Cecilia, pesquisadora da Unidade de Álcool e Drogas (Uniad) da Unifesp e especialista em dependência química da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (Abead), explica que o órgão responsável por metabolizar o álcool é o fígado, e que ele só metaboliza em média uma dose de bebida alcoólica por hora - entenda uma dose como uma lata de cerveja (360ml), uma taça de vinho (100ml) ou de destilado (40ml).
Portanto, se tomarmos seis latas de cerveja, por exemplo, nosso fígado irá levar as mesmas seis horas para metabolizar todo o álcool presente em nosso corpo. "E enquanto o fígado metaboliza a primeira latinha, o resto do álcool fica circulando no sangue e intoxicando, causando alterações e danos em diferentes órgãos", explica Ana Cecília.
Abuso do álcool é diferente do alcoolismo
Como já foi dito anteriormente, o abuso do álcool é quando a pessoa bebe em grandes quantidades e tem problemas, mas não é dependente.
O alcoolismo é a doença crônica, a dependência pela bebida. E as consequências são individuais, tanto para os abusadores como para os dependentes.
"Quando a pessoa é dependente de álcool é diferente. Ele tem uma tolerância maior pelo etanol, que demora em média, cinco anos para se desenvolver", conta Ana Cecilia.
Os órgãos e sistemas comprometidos são os mesmos citados acima, porém, quando os problemas aparecem, as complicações são bem mais graves e muitas vezes irreversíveis.
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Dentre as doenças que podem surgir do alcoolismo estão gastrite crônica, hepatite crônica que pode evoluir para cirrose, hipertensão arterial, diabetes por alteração crônica no funcionamento do pâncreas e problemas de memória que podem evoluir para demência alcoólica - não só quando está sob os efeitos da bebida, como é o caso do abuso. Além disso, o álcool também altera a imunidade, abrindo caminho para o surgimento de outras doenças.