Graduado em medicina pela Faculdade de Medicina de Santo Amaro (1979). Atualmente, é Diretor da Sociedade Brasileira de...
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O que é Antibiótico?
Os antibióticos são medicamentos e compostos naturais ou sintéticos utilizados para tratar infecções bacterianas. Ou seja, este tipo de medicamento é ineficaz contra infecções virais, fúngicas e demais infecções.
Para que servem
Os antibióticos destroem ou detêm a reprodução de bactérias, tornando mais fácil para as defesas do organismo eliminarem os microrganismos causadores de um determinado processo infeccioso.
Os antibióticos podem ser classificados de acordo com sua função: bactericidas, quando causam a morte da bactéria; ou bacteriostáticos, quando promovem a inibição do crescimento microbiano.
Tipos
Os antibióticos são divididos em grupos e classes segundo a sua estrutura química de base. Assim, cada antibiótico é eficaz apenas contra determinadas bactérias. Para escolher o tratamento mais adequado, os médicos calculam qual é a bactéria causadora da infecção.
Por vezes, é necessário um exame laboratorial que identifique a bactéria que está causando a infecção, feito através de amostras de sangue, exame de urina ou de tecido coletado. Entretanto, não existe uma fórmula definida, afinal cada paciente possui suas próprias peculiaridades, que o médico terá de analisar.
Os antibióticos podem ser separados por:
Antibióticos naturais ou semissintéticos
Lactâmicos: são a primeira classe de derivados de produtos naturais utilizados no tratamento de infecções bacterianas. Este grupo contém os agentes mais comumente utilizados. São medicamentos de amplo espectro de atividade antibacteriana, eficácia clínica e excelente perfil de segurança. Exemplos: penicilinas, cefalosporinas, carbapeninas, oxapeninas e monobactamas.
Tetraciclinas: são antibióticos bacteriostáticos, ou seja, que inibem o crescimento bacteriano, de amplo espectro e bastante eficazes frente a diversas bactérias aeróbicas e anaeróbicas. Seu uso não é recomendado em crianças e mulheres grávidas, uma vez que podem danificar dentes e ossos em formação. Houve aumento de resistência de bactérias frente às tetraciclinas, por isso, seu uso tem diminuído. Exemplos: clortetraciclina e tigeciclina.
Aminoglicosídeos: o uso contínuo de antibióticos aminoglicosídeos deve ser controlado, devido aos efeitos tóxicos no ouvido e nos rins, pois podem causar diminuição da função renal. São medicamentos mais efetivos contra bactérias Gram-negativo aeróbicas. Além disso, são de uso injetável. Exemplo: estreptomicina.
Macrolídeos: os macrolídeos são agentes bacteriostáticos, que são usados em infecções respiratórias como pneumonia, exacerbação bacteriana aguda de bronquite crônica, sinusite aguda, otite média, tonsilites e faringite. A eritromicina, um antibiótico macrolídeo, é segura para uso clínico e pode ser utilizada em crianças. Entretanto, pode provocar efeitos colaterais como influência na motilidade gastrointestinal, ações pró-arrítmicas e inibição do metabolismo de fármacos. Outros compostos do grupo possuem menos efeitos colaterais. Exemplos: eritromicina, roxitromicina, claritromicina e azitromicina.
Glicopeptídeos: este grupo tem sido utilizado para tratar infecções por bactérias Gram-positivo com resistência a diversos antibióticos. O desenvolvimento de resistência à esta classe é mais lento, porém, algumas bactérias hospitalares já se apresentam resistentes. Exemplos: vancomicina e teicoplanina.
Lipodepsipeptídeos: esta classe de antibióticos é utilizada para tratamento de infecções por bactérias Gram-positivo. Seu mecanismo de ação envolve desorganização de múltiplas funções da membrana celular bacteriana. Exemplo: daptomicina.
Estreptograminas: são antibióticos de uso oral e intravenoso, que combatem bactérias Gram-positivo. Exemplo: pritinamicina, quinupristina e dalfopristina.
Lincosamidas: possuem propriedades antibacterianas semelhantes aos macrolídeos e agem pelo mesmo mecanismo de ação. São geralmente de uso oral, escolhido para o tratamento de infecções periféricas causadas por bactérias resistentes à penicilina. Também pode ser usado topicamente para tratamento de acne. Exemplo: lincomicina e seu derivado semi-sintético clindamicina.
Entre outros: Cloranfenicol e Rifamicinas (utilizado no tratamento para tuberculose).
Antibióticos sintéticos
Sulfonamidas: as sulfonamidas são também conhecidas como sulfas e são agentes bacteriostáticos. Foram utilizadas para tratamento de pacientes com infecções no trato urinário e também em portadores do vírus HIV que apresentam infecções bacterianas. Exemplos: sulfametoxazol e trimetoprim.
Quinolonas e fluoroquinolonas: estes fármacos são comumente utilizados para tratamentos de infecções do trato urinário e contra bactérias resistentes a outros antibióticos comuns. O derivado ciprofloxacina, por exemplo, atua em infecções do trato urinário, respiratório e gastrointestinal, além de infecções de pele, ossos e articulações. Exemplos: enoxacina e ciprofloxacina.
Oxazolidinonas: trata-se de um agente bacteriostático que apresenta um amplo espectro de ação frente a bactérias resistentes a outros antibióticos. A linezolida apresenta boa atividade contra bactérias Gram-positivo, pode ser administrada por via oral, porém, apresenta efeitos colaterais. Exemplo: linezolida.
Tratamento com antibiótico
Quando o antibiótico é indicado? O antibiótico só pode ser usado por indicação médica. Após realizar uma avaliação do paciente, o especialista pode ou não recomendar o medicamento para o tratamento de uma infecção. Assim, os antibióticos são vendidos apenas mediante apresentação de receita médica.
Em quanto tempo o antibiótico começa a fazer efeito? A farmacêutica Heloisa Olivan explica que existem alguns fatores que influenciam na ação do remédio, como o tipo de antibiótico (bactericida ou bacteriostático), as características pessoais de quem está fazendo uso dele, o tipo de bactéria e seu perfil de resistência, o local da infecção, a via de administração, entre outros.
Portanto, o tempo para efeito dos antibióticos é variável, pois considera quando ele começa a agir contra as bactérias e quanto tempo demora para o paciente sentir o alívio.
Em geral, o medicamento que atua inibindo a proliferação bacteriana começa a atuar no organismo cerca de 30 minutos após a sua ingestão. Porém uma regressão significativa dos sintomas é notada pelos pacientes apenas 48 horas após o início do tratamento.
Forma correta de fazer o tratamento
É preciso tomar o remédio até o fim
O intuito do tratamento é acabar com as bactérias no corpo, por isso, é importante seguir as recomendações médicas quanto ao tempo de uso da medicação. Inclusive, o processo de eliminação total da bactéria pode levar alguns dias após o desaparecimento dos sintomas.
Utilizar o antibiótico "até o fim" implica fazer o tratamento completo recomendado pelo médico, seja ele de 7 dias, 14 dias ou o tempo indicado.
Alguns pacientes, no entanto, acabam interrompendo o trat amento quando sentem o alívio dos sintomas e isso pode ter consequências graves.
O desaparecimento dos sinais apenas significa que não há quantidade de bactérias presentes suficiente para provocar sintomas. Mas, existe ainda uma porção de bactérias que precisam ser eliminadas.
Assim, a interrupção precoce do tratamento pode provocar uma reincidência da infecção e a bactéria pode criar maior resistência aos efeitos farmacológicos daquele antibiótico, tornando-o ineficaz.
Siga sempre o mesmo horário
É preciso ficar atento ao horário de tomar a medicação. Como existe uma meia vida para cada antibiótico (tempo para que sua concentração no sangue caia pela metade), é necessário manter os mesmos horários sempre, a fim de evitar que diminua a concentração do remédio no sangue e que a bactéria ganhe resistência.
O que fazer se esquecer uma dose
A dose do antibiótico que foi esquecida deve ser tomada assim que possível, mantendo as demais doses nos horários anteriormente marcados. Mas, tente manter-se nos horários estabelecidos. Pois o intervalo entre as doses leva em conta a meia vida do antibiótico e o tempo para eliminar as bactérias do organismo.
Assim, uma dose ingerida antes do horário estabelecido pode causar intoxicação ou pode não ser absorvida. E quando o paciente esquece de tomar, pode sofrer com a volta dos sintomas ou as bactérias podem ter chance de se reproduzir novamente.
Principais preocupações durante o tratamento com antibiótico
Não se automedique: antibióticos só devem ser utilizados sob orientação médica para o tratamento de infecção bacterianas. A avaliação clínica e os exames laboratoriais são as ferramentas mais indicadas para que o profissional escolha qual será o melhor tratamento.
Siga rigorosamente a prescrição médica. antibióticos só devem ser usados nas doses prescritas e no prazo determinado pelo médico. Em geral, as primeiras doses eliminam as bactérias mais frágeis e os sintomas melhoram. Por isso, se o tratamento for interrompido, as bactérias mais fortes ganham espaço para continuar se multiplicando e transmitindo a resistência para organismos da mesma geração e das seguintes.
Respeite os horários das doses: as doses do antibiótico são calculadas para manter a concentração do medicamento necessária para combater as bactérias e evitar que se tornem resistentes à medicação. Encurtar o intervalo entre uma dose e outra não acelera o processo de recuperação - pelo contrário, favorece a resistência das bactérias.
Não reutilize antibióticos: descarte os antibióticos com prazo de validade vencido e as sobras de medicamento. Afinal, a quantidade de sobra pode não ser suficiente para outro tratamento e pode ser que uma infecção diferente exija outro medicamento.
Na dúvida, questione: leia a prescrição e certifique-se de que compreendeu como usar o antibiótico. Nela, devem constar o nome do medicamento, a quantidade, os horários de cada dose e a via de aplicação.
Antibiótico de emergência
Os antibióticos de emergência são medicamentos geralmente injetáveis (intramuscular ou intravenoso) utilizados em pronto socorros, internações hospitalares e unidades de terapia intensiva, com intuito de combater doenças bacterianas graves, como pneumonias complicadas, pielonefrites e sepse (infecções generalizadas).
Efeitos colaterais
Os antibióticos podem alterar o funcionamento dos rins, do fígado, da medula óssea e de outros órgãos de forma mais ou menos intensa. Os efeitos colaterais mais comuns desses medicamentos incluem:
- Dor de estômago
- Diarreia (colites)
- Vaginites por fungos
- Alergias em pessoas com hipersensibilidade à substância ou composição de um antibiótico
- Rubor
- Dor de cabeça
- Náusea e vômito
- Batimento cardíaco acelerado
- Aumento da pressão sanguínea.
Antibióticos em bebês e crianças
Existem antibióticos que são contraindicados para bebês e crianças por causarem eventos adversos nesta faixa etária. Antes de administrar qualquer dose, consulte o pediatra. Além disso, há certos cuidados ao oferecer esses medicamentos para crianças.
Um estudo realizado na Inglaterra testou o uso de antibióticos em crianças e descobriu que o excesso de medicamento reduziu a qualidade do efeito da terapia em 30%. Por consequência, alguns dos tratamentos foram prolongados e outras crianças tiveram que ser internadas.
Os pesquisadores também observaram que a maioria das crianças era medicada com antibiótico para tratar infecções comuns, como dor de garganta, ouvido e tosse.
Outra pesquisa encontrou que o risco de uma criança desenvolver doenças alérgicas era muito maior se ela tomou antiácidos ou antibióticos até os primeiros seis meses de vida. Acontece que estes remédios podem causar impactos negativos no sistema imunológico.
Superbactérias: resistência aos antibióticos
O principal fator para o surgimento de bactérias resistentes aos medicamentos é o mau uso dos antibióticos. Se o paciente encerra o tratamento antes do período estipulado pelo médico, as bactérias presentes no organismo sobrevivem e podem sofrer mudanças estruturais que lhes conferem imunidade ao remédio. Assim, com o passar do tempo, podem surgir novas gerações de bactérias resistentes.
As principais causas da resistência microbiana incluem:
- Uso indevido de antibiótico, sem necessidade ou por um período diferente do recomendado
- Falhas no controle de infecções em hospitais e clínicas
- Capacitação insuficiente de alguns profissionais de saúde para a prescrição correta de antibióticos para os pacientes internados ou nos ambulatórios
- Falhas nas medidas de prevenção e controle de infecções em hospitais e clínicas, principalmente a higiene das mãos pelos profissionais de saúde
- Má higiene, como a falta de lavagem de mãos após o uso do banheiro e antes das refeições
- Ausência da descoberta de novas moléculas pela indústria farmacêutica
- Excesso de antibióticos em animais destinados à alimentação humana.
Consequências da resistência bacteriana
A alta presença dessas bactérias resistentes em ambientes hospitalares tem sido uma grande causa de mortes por infecções. Uma bactéria frequente nestes locais, e que já foi encontrada no Brasil, é a Klebsiella pneumoniae (KCP), principal causadora de infecções na corrente sanguínea, no trato urinário e de pneumonia em pacientes internados em Unidades de Terapia Intensiva (UTI).
Entre os sintomas causados pela KCP estão:
- Febre ou hipotermia
- Piora do quadro respiratório
- Taquicardia
- Em casos mais graves, falência múltipla de órgãos.
Além disso, o ritmo do aumento da resistência a antibióticos por bactérias tem agravado problemas de saúde pública e ainda pode causar:
- Mais doenças graves
- Tratamentos prolongados
- Hospitalizações mais frequentes e por maior período
- Mais visitas ao médico
- Tratamentos mais caros.
Perguntas frequentes
Uso de antibiótico pode causar alergia?
Sim. Uma alergia ao antibiótico pode se manifestar em poucas horas, podendo ser leve, com lesões de pele (vermelhidão), ou mais severa, com edema nos lábios, olhos e até dificuldade para respirar.
Antibiótico engorda?
Antibióticos não engordam, nem emagrecem.
Antibiótico corta o efeito de anticoncepcional?
Alguns antibióticos realmente podem interferir no efeito do anticoncepcional, inibindo seu efeito. Por isso, é importante falar com o médico no momento da prescrição e indicar todo e qualquer tipo de medicamento que você já usa.
Os antibióticos da classe quinolonas podem atuar na flora intestinal, destruindo bactérias que são responsáveis pela absorção dos hormônios, o que compromete o ciclo do estrógeno vindo do anticoncepcional no corpo feminino.
Pode beber álcool enquanto faz tratamento com antibiótico?
Alguns antibióticos são metabolizados pelo fígado, assim como o álcool, então é melhor evitar o consumo de bebidas alcóolicas durante o tratamento.
Apesar de não atrapalhar a eficácia dos antibióticos, pequenas quantidades de álcool podem reduzir sua energia e retardar sua recuperação.
Antibióticos causam sono?
Não há registros científicos de que antibióticos possam causar sono no paciente.
Antibióticos causam diarreia?
Alguns antibióticos podem interferir na microbiota intestinal e, assim, causar um pouco de diarreia. No entanto, se este sintoma persistir, é importante reportar ao médico e considerar uma mudança no tratamento.
Pode tomar antibióticos durante a gravidez?
Antibióticos são comumente receitados durante a gravidez, porém devem ser prescritos com cautela. Alguns medicamentos podem ser utilizados na gestação, enquanto outros não. Isto depende de vários fatores, como o tipo de antibiótico, o tempo de gravidez, tempo do tratamento, efeitos colaterais, entre outros.
Antibióticos considerados seguros durante a gravidez:
- Penicilinas, incluindo amoxicilina, ampicilina
- Cefalosporinas, incluindo cefaclor, cefalexina
- Eritromicina
- Clindamicina.
Já antibióticos como tetraciclinas podem trazer riscos à gravidez, como descoloração dos dentes do bebê. Este tipo de medicamento não é recomendado após a 15ª semana de gestação.
Referências
Manual MSD
GUIMARAES, Denise Oliveira; MOMESSO, Luciano da Silva; PUPO, Mônica Tallarico. Antibióticos: importância terapêutica e perspectivas para a descoberta e desenvolvimento de novos agentes. Quím. Nova, São Paulo, v. 33, n. 3, p. 667-679, 2010. Disponível em. Acesso em 20 Abril de 2020. https://doi.org/10.1590/S0100-40422010000300035.
Daniel Boczar, clínico geral do Hospital Anchieta
Heloisa Olivan, farmacêutica e bioquímica especialista em desenvolvimento nutracêuticos e cosméticos, Mestre em Ciências Biológicas pela USP e especialista em Estética e Ciências da Pele pelo Instituto de Cosmetologia.
Marcos Antonio Cyrillo, infectologista do Igesp
SANTOS, Valter Garcia. A importância da orientação farmacêutica às pacientes que fazem uso concomitante de anticoncepcional e antibiótico da classe das quinolonas. Revista Ceciliana Jun 4(1): 86-89, 2012. Disponível em . Acesso em 20 de abril de 2020.