Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal do Paraná (2004). Concluiu no ano de 2008 a Residência em Clínica...
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O que é Hipoglicemia?
A hipoglicemia é um distúrbio provocado pela baixa concentração de glicose (açúcar) no sangue, que pode afetar pessoas portadoras de diabetes ou não.
É considerada por muitos como um efeito colateral do tratamento de diabetes, mas diversos outros fatores também podem levar uma pessoa a desenvolver um quadro hipoglicêmico. Isso porque, a hipoglicemia não é uma doença em si, e sim um indicador de que pode haver algum problema de saúde mais grave.
Ignorar os sintomas da hipoglicemia pode acarretar em consequências graves, como a perda de consciência. Isso porque o cérebro necessita de glicose para funcionar propriamente.
Causas
Muitos cenários podem levar a causas para que uma pessoa desenvolva hipoglicemia, principalmente o jejum, mas para entender melhor esse distúrbio é bom saber exatamente como funciona a regulação de açúcar em nosso sangue.
Durante a digestão, o corpo absorve nutrientes de tudo o que comemos. Alimentos como arroz, pães, massas, vegetais, frutas e derivados do leite são muito ricos em carboidratos, que são convertidos pelo nosso corpo em várias moléculas de açúcar. Uma dessas moléculas é a glicose, que é também a nossa principal fonte de energia. Na digestão, a glicose entra na corrente sanguínea e se espalha por todo o organismo, entrando nas células e conferindo ao nosso corpo a energia de que precisa.
Só que isso não seria possível sem a insulina, um hormônio produzido pelo pâncreas e que é responsável pela regulação de açúcar no sangue. Quando comemos, a taxa de glicose em nosso sangue aumenta instantaneamente. Por essa razão, a insulina está sempre alerta e pronta para agir imediatamente após a digestão. Ela ajuda as células a absorver glicose e, assim, mantém os níveis de açúcar no sangue estáveis e dentro da faixa considerada normal, que varia entre 70 e 100 mg/dL.
Saiba mais: Sete hábitos que podem causar hipoglicemia
Hipoglicemia de jejum com diabetes
Quando as taxas de glicose na corrente sanguínea ficam acima de 126 mg/dL no jejum por duas ocasiões consecutivas, o paciente é diagnosticado com diabetes. Se ficam abaixo de 45 mg/dL, então a pessoa pode ter hipoglicemia. No entanto, é possível apresentar quadro hipoglicêmico mesmo tendo diabetes. Mas como?
No diabetes, as taxas de glicose presentes na corrente sanguínea estão mais altas que o normal. Para controlar esse problema, alguns medicamentos ou insulina são prescritos pelos médicos para ajudar na regulação dos níveis de açúcar.
A dose de insulina que a pessoa irá aplicar depende sempre da quantidade de carboidrato ingerido no dia. Pode acontecer, no entanto, de uma pessoa acabar injetando mais insulina do que o necessário, levando-a, assim, a um quadro de hipoglicemia.
Mesmo que a dose ministrada tenha sido a ideal para manter as taxas de glicose no sangue estáveis, se a pessoa não comer uma quantidade razoável durante as refeições ela também pode acabar desenvolvendo o distúrbio, pois não terá produzido glicose suficiente.
Por essa razão, também é recomendado que, após tomar os medicamentos, pacientes não pratiquem exercícios físicos intensos, que demandam maior uso da glicose presente na corrente sanguínea. Por isso, é necessário que médico e paciente atuem juntos para descobrir meios que permitam ao diabético comer bem e praticar exercícios sem que haja queima desnecessária de glicose.
Hipoglicemia de jejum sem diabetes
Mas a hipoglicemia não é um problema associado exclusivamente ao diabetes. Diversos outros fatores podem contribuir para que uma pessoa apresente níveis baixos de açúcar no sangue. Veja abaixo:
Medicamentos: Tomar acidentalmente remédios para diabetes de outras pessoas pode levar a um quadro de hipoglicemia, principalmente em crianças e adultos com problemas renais. O consumo de outros medicamentos, como a quinina, usada para tratar malária, também pode levar ao desenvolvimento do distúrbio.
Consumo excessivo de álcool: Beber álcool em excesso sem ter se alimentado antes pode fazer com que o pâncreas torne-se incapaz de produzir insulina.
Algumas doenças crônicas: Problemas no pâncreas e nos rins, como tumor e hepatite severa, também podem causar hipoglicemia. Além disso, passar um longo período sem se alimentar também pode contribuir para o desenvolvimento do distúrbio, principalmente em casos de anorexia.
Deficiências endócrinas: Problemas no funcionamento das glândulas adrenais podem provocar deficiências em hormônios-chave para a produção de glicose. Crianças são mais suscetíveis a essas deficiências do que pessoas adultas.
Hipoglicemia pós-prandial ou reativa
Apesar de menos comum que a hipoglicemia de jejum, este tipo do distúrbio ocorre em média de três a cinco horas após as refeições, como resultado do desequilíbrio entre os níveis de glicose e de insulina no sangue.
Além disso, pode aparecer também em pessoas que passaram por cirurgias bariátricas, procedimento que reduz o tamanho do estômago com o objetivo de fazer o paciente emagrecer. No entanto, pessoas que nunca fizeram esse tipo de cirurgia também podem desenvolver o distúrbio. Depende muito do organismo em questão.
Saiba mais: Diabetes associado à depressão aumenta risco de hipoglicemia
Sinais
O corpo humano precisa de uma quantidade específica de açúcar para funcionar propriamente. Quando há hipoglicemia, podem aparecer alguns sintomas comuns, como:
- Confusão mental;
- Comportamento anormal;
- Dificuldade em realizar atividades simples e de cumprir tarefas rotineiras.
Pode ser que apareçam outros sintomas, ainda que estes sejam bem menos comuns, como convulsões, perda de consciência e coma.
Sintomas como palpitações, tremores, ansiedade, suor frio, fome excessiva e formigamento ao redor da boca também podem ser causados pela hipoglicemia. Mas cuidado: estes não são sintomas exclusivos deste distúrbio. Recomenda-se um exame de sangue específico para saber se a causa é realmente a hipoglicemia ou não.
Quando buscar um médico?
Em caso de suspeita, procure um médico imediatamente. Afinal, é melhor prevenir do que remediar. Hipoglicemia pode ser um indicador de algum problema de saúde mais grave.
Diagnóstico
Para o diagnóstico, o especialista poderá fazê-lo levando em consideração três etapas:
Surgimento dos sintomas
O paciente, em princípio, pode não apresentar os sintomas da hipoglicemia logo que chega à consulta médica. Neste caso, o médico poderá optar por deixá-lo em observação, internado durante uma noite, a fim de esperar os sintomas se manifestarem para fazer o diagnóstico preciso. Pode ser também que o paciente tenha de ficar internado por mais tempo, no caso do especialista optar por observar os sintomas de forma mais precisa. Se os sintomas do paciente corresponderem à hipoglicemia reativa, o médico pode querer, ainda, testar os níveis de glicose no sangue do paciente.
Exames
O diagnóstico de hipoglicemia é feito geralmente por meio da observação clínica. No entanto, poderá ser necessário que o médico peça exames para diagnosticar o distúrbio. O mais comum dos exames feitos para este tipo de problema é a glicemia de jejum, em que uma amostra de sangue é enviada para análise em laboratório. Lá, uma máquina automatizada verifica a glicemia e libera o resultado entre 30 minutos a 24 horas após a realização do exame.
Desaparecimento dos sintomas
A terceira e última parte do processo de diagnóstico acontece ainda quando o paciente está sob observação médica, que foi submetido durante todo o processo de diagnóstico a um tratamento para elevar os níveis de glicose no sangue. Nesta etapa, espera-se que o paciente tenha respondido ao tratamento e que o índice de açúcar no sangue já tenha subido, fazendo com que os sintomas desapareçam. Neste caso, o médico poderá finalizar o diagnóstico como positivo para hipoglicemia.
Na consulta médica
Durante a consulta, é importante que a pessoa descreva todos os sintomas que esteja apresentando, especificando quando eles começaram e com que frequência eles aparecem.
Detalhar medicamentos e eventuais tratamentos que tenha feito nos últimos meses também deve ser levado em consideração durante a conversa com o especialista, mesmo que tenham sido para doenças sem qualquer vínculo com hipoglicemia.
Se tiver diabetes, o ideal é conversar com o médico especificamente sobre o histórico de tratamento da doença e mostrar também os últimos resultados de exames de sangue.
Tratamento
Para tratar hipoglicemia, são necessários dois tipos de tratamento: inicial e imediato. Isso ajuda a aumentar as taxas de glicose no sangue e na identificação da condição que está causando a hipoglicemia, a fim de tratá-la para que não reincida.
O tratamento inicial depende, primeiramente, dos sintomas apresentados. Sinais mais simples da doença podem ser tratados por meio da ingestão de açúcar, como doces e sucos de frutas. No entanto, se os sintomas forem mais severos, o paciente talvez necessite de injeções de glucagon ou de glicose intravenosa, além de mudanças na dieta e na rotina de exercícios físicos.
Prevenir a reincidência de hipoglicemia requer outras medidas. Se um medicamento for a causa da hipoglicemia, o médico poderá sugerir a troca deste por outro.
Saiba mais: Bomba de insulina reduz episódios de hipoglicemia
Agora, se a causa for um tumor no pâncreas, o tratamento é feito por intervenção cirúrgica.
Prevenção
Quando a hipoglicemia é desencadeada por muitas horas sem se alimentar, a pessoa deverá ingerir alimentos que aumentem a glicose, como um copo de suco, um pedaço de chocolate ou mesmo um copo de água com açúcar. Para quem tem tendência à hipoglicemia em jejum o correto é não deixar de se alimentar de 3 em 3 horas.
No caso da hipoglicemia pós-prandial ou reativa, trocar alimentos com altas doses glicêmicas, como açúcares, massas e bolos, por carboidratos de baixa carga glicêmica e ricos em fibras, que diminuem a velocidade de liberação da insulina no organismo, como legumes e verduras, cereais integrais e leguminosas (feijões, ervilha, soja, lentilha), são a melhor saída. É bom também cortar os sucos e os doces, diminuir os intervalos entre as refeições para que coma de três em três horas e alimentar-se bem antes de realizar exercícios físicos.
Convivendo (Prognóstico)
O diagnóstico de hipoglicemia requer mudanças nos hábitos alimentares e na rotina do paciente. É necessário seguir à risca as orientações do médico para que o tratamento seja bem-sucedido.
Diabetes
Se você tem diabetes, alguns cuidados devem ser tomados para evitar complicações:
- Coma antes de dormir. Ir para a cama em jejum pode causar aquilo que médicos chamam de hipoglicemia noturna, caracterizada por pesadelos, transpiração intensa e dor de cabeça ao levantar
- Não pule refeições. Ficar muito tempo sem comer faz com que o índice de açúcar no sangue caia naturalmente. O ideal, de acordo com especialistas, é alimentar em intervalos regulares
- Pacientes com diabetes precisam tomar cuidado especial com o consumo de carboidratos, mas é um erro achar que este nutriente deva ser evitado definitivamente da dieta. Muito pelo contrário. Para aqueles que praticam atividade física, a ingestão de carboidratos antes e depois dos exercícios é de extrema importância, do contrário pode haver um caso de hipoglicemia
- É importante ficar sempre atento à taxa de glicose no sangue, mesmo durante a prática de exercícios físicos
- O consumo de bebidas alcóolicas deve ser evitado, pois o fígado, para metabolizar o álcool, deixa de lado outras funções, como o fornecimento de glicose às células, além de prejudicar a absorção de diversos minerais e vitaminas pelo corpo
- Cuidado na aplicação de insulina! Quantidades maiores que as necessárias podem causar o efeito avesso da diabetes e diminuir em excesso o índice de açúcar no sangue, levando o paciente a um quadro de hipoglicemia.
Complicações possíveis
Ignorar os sintomas da hipoglicemia pode acarretar em consequências graves, como a perda de consciência. Isso porque o cérebro necessita de glicose para funcionar propriamente.
Saiba mais: Hipoglicemia pode aumentar risco de demência
A hipoglicemia pode levar ainda a outras complicações, como convulsões, coma e até mesmo à morte.
Referências
Andressa Heimbecher - CRM: 123579
American Diabetes Association
Organização Mundial da Saúde (OMS)
Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia