Médico Infectologista com Mestrado e Doutorado pela Universidade de São Paulo. Médico Supervisor da Clínica de Doenças I...
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O que é Leishmaniose?
A leishmaniose é uma doença infecciosa não contagiosa, causada por parasitas do gênero Leishmania. Os parasitas, que normalmente são transmitidos pela picada de mosquitos-palha infectados, vivem e se multiplicam no interior das células que fazem parte do sistema de defesa do indivíduo, chamadas macrófagos.
A doença é dividida em dois tipos: leishmaniose cutânea, que se manifesta através de úlceras na pele e nas mucosas das vias aéreas superiores, e leishmaniose visceral, que acomete diversos órgãos internos e provoca sintomas como perda de peso não intencional, febre de longa duração e fraqueza muscular.
Causas
O que causa leishmaniose?
A leishmaniose é transmitida por insetos hematófagos (que se alimentam de sangue), conhecidos como flebótomos ou flebotomíneos. Seus nomes podem variar de acordo com a localidade, mas os mais comuns são mosquito-palha, asa branca e palhinha.
Eles medem de dois a três milímetros de comprimento e, em função disso, podem atravessar as malhas de telas e mosquiteiros. Apresentam cor amarelada ou acinzentada e, quanto estão em repouso, as asas permanecem abertas.
O mosquito-palha é mais encontrado em lugares úmidos, escuros, onde existem muitas plantas. As fontes de infecção das leishmanioses são, principalmente, os animais silvestres e os insetos flebotomíneos que abrigam o parasita em seu tubo digestivo. Contudo, o hospedeiro também pode ser o cão doméstico.
Na leishmaniose cutânea, os animais silvestres que atuam como reservatórios são os roedores silvestres, tamanduás e preguiças. Na leishmaniose visceral, a principal fonte de infecção é a raposa do campo.
Tipos
Os principais tipos de leishmaniose são:
Leishmaniose cutânea ou tegumentar
A leishmaniose cutânea caracteriza-se por feridas na pele que se localizam com maior frequência nas partes descobertas do corpo. Tardiamente, podem surgir feridas nas mucosas do nariz, da boca e da garganta. Essa forma de leishmaniose é conhecida como "ferida brava".
Ela pode ser causada por três espécies diferentes do micro-organismo: Leishmania amazonensis e Leishmania guyanensis na região amazônica, e Leishmania braziliensis, distribuído por todas as regiões do país.
Este último parasita causa a leishmaniose monocutânea, que se manifesta de forma muito parecida com a tegumentar. “A diferença é que, ao mesmo tempo ou meses depois, surgem lesões nas mucosas da nasofaringe que destroem a cartilagem do nariz e do palato, provocando deformações graves”, aponta a infectologista Regia Damous.
Leishmaniose visceral ou calazar
A leishmaniose visceral é uma doença sistêmica, pois acomete vários órgãos internos — principalmente o fígado, o baço e a medula óssea. Esse tipo de leishmaniose acomete essencialmente crianças de até dez anos, após esta idade se torna menos frequente. Ela é causada pelo protozoário Leishmania chagasi e, se não tratada adequadamente, a leishmaniose pode levar a óbito até 90% dos casos.
Sintomas
Sintomas da leishmaniose
Os sintomas de leishmaniose variam de acordo com o tipo da doença. Confira:
Leishmaniose cutânea
Em quadros de leishmaniose cutânea, a infectologista Regia Damous explica que o primeiro sinal da forma cutânea costuma ser uma única ou várias lesões na pele, quase sempre indolores. Inicialmente são feridas pequenas, com fundo granuloso e purulento e bordas avermelhadas — que vão aumentando de tamanho até formar uma ferida recoberta por crosta ou secreção purulenta.
Leishmaniose visceral
Os principais sintomas da leishmaniose visceral são:
- Febre irregular, prolongada
- Anemia
- Indisposição
- Palidez da pele e ou das mucosas
- Falta de apetite
- Perda de peso
- Inchaço do abdômen devido ao aumento do fígado e aumento do baço
Diagnóstico
O diagnóstico da leishmaniose é realizado por meio de exames clínicos e laboratoriais, variando de acordo com o tipo da doença. No caso de leishmaniose cutânea, é feita a retirada da borda das lesões para determinar a presença do parasita causador da leishmaniose. Além disso, também é realizado um exame imunológico para detectar se a pessoa entrou em contato com a Leishmania.
No caso de leishmaniose visceral, além dos sinais clínicos, existem exames laboratoriais para confirmar o diagnóstico, como:
- Testes sorológicos (verificar a presença de anticorpos no sangue)
- Punção da medula óssea para detectar a presença do parasita e de anticorpos
- Cultura e reação de cadeia em polimerase (PCR)
É de extrema importância estabelecer o diagnóstico diferencial, pois os sintomas da doença são semelhantes aos de doenças como malária, esquistossomose, doença de Chagas e febre tifoide.
Na consulta médica
Especialistas que podem diagnosticar a laishmaniose são:
- Clínico geral
- Infectologista.
Buscando ajuda médica
As leishmanioses são doenças potencialmente graves, cujo diagnóstico deve ser precoce, principalmente no caso da leishmaniose visceral. Uma situação de feridas que não cicatrizam ou um quadro de febre a esclarecer são sinais importantes para procurar um serviço de saúde.
Tratamento
O tratamento de leishmaniose é feito a partir da administração dos medicamentos antimoniais pentavalentes ou anfotericina B. Contudo, a indicação deve ser feita por um médico especialista em função dos efeitos colaterais que eles podem causar.
De acordo com o Manual MSD, fluconazol e medicamentos antifúngicos administrados por via oral podem ser eficazes em alguns casos de leishmaniose cutânea — mas não são utilizadas para leishmaniose visceral.
Já nos quadros de leishmaniose visceral, segundo o Ministério da Saúde, os medicamentos utilizados atualmente para tratar a doença não eliminam por completo o parasita nas pessoas e nos cachorros. Contudo, o ser humano não possui importância como reservatório no Brasil — ao contrário do cão, que é o principal reservatório em áreas urbanas.
Tem cura?
A leishmaniose tem cura se tratada adequadamente. Quadros de leishmaniose cutânea podem se curar espontaneamente. Contudo, a situação é mais complicada em alguns casos em que existe depressão do sistema imune permanentemente, como indivíduos infectados pelo vírus do HIV ou transplantados e pacientes com doenças crônicas em que necessitam utilizar medicação que compromete a imunidade.
É importante destacar que, em quadros de leishmaniose cutânea, as feridas podem retornar em até seis meses — mesmo com tratamento adequado.
Prevenção
A prevenção de leishmaniose pode ser feita a partir de algumas medidas simples, como:
- Evitar construir casas e acampamentos em áreas muito próximas à mata
- Fazer dedetização, quando indicada pelas autoridades de saúde
- Evitar banhos de rio ou de igarapé, localizado perto da mata
- Utilizar repelentes na pele, quando estiver em matas de áreas onde há a doença
- Usar mosquiteiros para dormir
- Usar telas protetoras em janelas e portas
- Manter a casa limpa: o mosquito-palha vive nas proximidades das residências, preferencialmente em lugares úmidos, mais escuros e com acúmulo de material orgânico. Ataca nas primeiras horas do dia ou ao entardecer
- Cuidar da saúde de seu cão, principal hospedeiro urbano da doença. Além disso, deve-se fazer uso de coleiras com princípios ativos contra mosquitos e parasitas – com efetividade de quase 100% na proteção – e vacinar o cão a partir de quatro meses de idade, com a vacina contra leishmaniose – que deve ser aplicada anualmente, contando a partir da primeira dose
Referências
Infectologista Valdir Amato, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia - CRM 69843 SP
Infectologista Regia Damous, do Hospital e Maternidade São Luiz Itaim (SP)
Veterinária Ana Claudia Balda, consultora da MSD Saúde Animal