Formada em Medicina pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Patrícia Consorte fez especialização em Terapia Intens...
iRedatora especialista em conteúdos sobre saúde, família e alimentação.
O que é Poliomielite?
A poliomielite, também chamada de pólio ou paralisia infantil, é uma doença contagiosa aguda causada por um enterovírus de alta infectividade, chamado poliovírus (sorotipo I, II e III), cujo principal reservatório de infecção encontra-se no gastrointestinal dos seres humanos.
Existem dois tipos de pólio: a paralítica e a não paralítica, que pode levar à paralisia total ou parcial dos membros inferiores. Apesar do nome, a doença pode afetar tanto crianças quanto adultos.
Saiba mais: Poliomielite pode voltar ao Brasil? Especialista comenta
Causas
A poliomielite é uma doença causada pela infecção do poliovírus, que se espalha por contato direto pessoa a pessoa, pela via fecal-oral, por alimentos, objetos ou água contaminados ou pelo contato oral-oral, por meio de gotículas de secreções da fala, tosse ou espirro de doentes ou portadores.
Segundo Patrícia Consorte, pediatra e especialista em nutrição materno-infantil, uma vez que o paciente contrai o vírus pela via oral, ele se dissemina pela faringe e intestino de uma a três semanas, sendo então excretado pela saliva e pelas fezes. O vírus pode ser liberado por até outras três semanas, sendo muito contagioso.
O vírus, após se disseminar pela garganta e pelo trato intestinal do paciente, alcança a corrente sanguínea e pode atingir o cérebro. Quando a infecção ataca o sistema nervoso, ela destrói os neurônios motores e provoca paralisia nos membros inferiores. A pólio pode, inclusive, levar o indivíduo à morte se forem infectadas as células nervosas que controlam os músculos respiratórios e de deglutição.
O período de incubação do vírus, ou seja, tempo que leva entre a infecção e surgimento dos primeiros sintomas, varia de cinco a 35 dias, mas a média é de uma a duas semanas. A falta de saneamento básico, higiene pessoal precária e más condições habitacionais são alguns dos principais fatores que contribuem para a transmissão do poliovírus.
Sintomas
Embora a poliomielite possa causar paralisia e até mesmo a morte, a maioria das pessoas infectadas com o poliovírus não fica doente e não manifesta sintomas, de modo que a doença passa muitas vezes despercebida. Segundo Consorte, 95% das infecções são assintomáticas.
Sintomas da poliomielite não paralítica
A maior parte das pessoas que foram infectadas pelo poliovírus apresenta o tipo não paralítico da doença. Caso o vírus chegue à corrente sanguínea, segundo Consorte, os sintomas aparentes são muitos similares aos da gripe e de outras doenças virais leves ou moderadas. Os sinais e sintomas, que costumam durar de um a dez dias, incluem:
- Febre;
- Garganta inflamada;
- Dor de cabeça;
- Vômitos;
- Fadiga;
- Dor nas costas ou rigidez muscular;
- Dor de garganta;
- Dor ou rigidez nos braços e nas pernas;
- Fraqueza muscular ou sensibilidade;
- Meningite.
Sintomas da poliomielite paralítica
Em casos raros, a infecção pelo poliovírus leva à poliomielite paralítica, a forma mais grave da doença. Sinais da poliomielite paralítica, como febre e dor de cabeça iniciais, muitas vezes imitam os da poliomielite não paralítica.
De acordo com Patrícia, em uma a cada 120 infecções o vírus pode invadir o sistema nervoso central e gerar danos no corno anterior das raízes da medula espinhal, onde o paciente pode iniciar apresentando rigidez de nuca, semelhante a uma meningite. A partir daí, surgem fortes dores musculares e espasmos, principalmente nos membros inferiores, evoluindo para perda intensa de força.
“A força e os reflexos do membro são perdidos, permanecendo a sensibilidade. Essa é a chamada forma paralítica, na qual pode se perder também o controle da bexiga e do intestino por acometimento das inervações”, explica Consorte. O período entre os primeiros sintomas nos membros e a perda da força é rápido, segundo a especialista, e ocorre em cerca de dois dias.
Em casos mais raros e graves, a perda de força pode ser mais intensa e acometer mais músculos, como braços e músculos respiratórios, podendo levar à insuficiência respiratória e à morte.
Síndrome pós-poliomielite
A Síndrome pós-poliomielite é um distúrbio neurológico específico caracterizado por uma nova fraqueza ou fadiga no membro, como sequela da poliomielite paralítica anos após o agravo, entre 15 a 40 anos, segundo Patrícia Consorte. “A prevalência na literatura é bem variável, com uma média de 42% dos pacientes com sequela desenvolvendo a doença”, acrescenta.
De acordo com a pediatra, após a lesão nervosa inicial desencadeada pela poliomielite paralítica, existe uma certa regeneração nervosa no local, com neurônios motores tentando aumentar a produção de fibras nervosas. Assim, pode ocorrer algum desequilíbrio nesse processo, gerando degeneração dos neurônios e resultando em nova disfunção e fraqueza.
Os sintomas mais comuns dessa síndrome incluem:
- Fraqueza muscular progressiva;
- Dor nas articulações;
- Fadiga geral e exaustão;
- Atrofia muscular;
- Dificuldade para respirar ou deglutir;
- Distúrbios respiratórios relacionados ao sono, como a apneia do sono;
- Intolerância ao frio;
- Problemas cognitivos, tais como dificuldades de concentração e de memória;
- Depressão ou oscilações de humor.
Além disso, outros fatores, como ganho de peso, estresse, desuso do membro e descondicionamento muscular também podem desempenhar um papel na fisiopatologia.
Diagnóstico
O diagnóstico de poliomielite, segundo Patrícia Consorte, é sempre suspeitado quando houver paralisia flácida de surgimento agudo, normalmente antecedida de um quadro gripal e na presença de sintomas como dor e rigidez no pescoço, reflexos anormais lentos ou inexistentes e dificuldade de deglutição e respiração.
Para confirmar o diagnóstico, é enviada para análise laboratorial uma amostra de secreções da garganta, fezes ou líquido cefalorraquidiano, um líquido incolor que envolve o cérebro e a medula espinhal. Uma eletroneuromiografia (ENMG), exame que estuda o nervo desde a saída da medula ou cérebro e todo seu caminho até chegar aos músculos, pode ser necessária. O ideal é que a coleta seja feita em até 14 dias do início do quadro de paralisia.
Fatores de risco
Uma pessoa está em maior risco de contrair poliomielite se não foi devidamente imunizada contra a doença. Em áreas com más condições de saneamento básico e com ausência de programas de imunização, a população torna-se mais vulnerável ao poliovírus, principalmente crianças até os cinco anos de idade — razão que originou o nome “paralisia infantil”.
Mulheres grávidas, idosos e pessoas com sistema imunológico enfraquecido, como portadores de HIV, são especialmente suscetíveis a contrair a doença. Sem a vacina, outros fatores também podem aumentar o risco, como:
- Viajar para uma área onde a poliomielite é comum;
- Viver ou cuidar de alguém que possa estar infectado com o poliovírus;
- Ter extraído as amígdalas por amigdalectomia;
- Estresse extremo ou atividade física extenuante após ter sido exposto ao vírus, uma vez que o esgotamento pode deprimir o sistema imunológico e tornar o corpo mais vulnerável à infecção.
Tratamento
Não existe tratamento específico para a poliomielite, de modo que as ações possíveis para atuar num quadro da doença são diminuir a sensação de desconforto, acelerar a recuperação e garantir a qualidade de vida do paciente através de:
- Uso de analgésicos para aliviar a dor;
- Ventiladores portáteis para auxiliar na respiração;
- Exercício moderado (fisioterapia) para evitar deformações e perda da função muscular, em caso de poliomielite paralítica;
- Dieta nutritiva.
O tratamento deve ser iniciado o quanto antes para evitar complicações, mesmo porque, se uma pessoa infectada com o vírus não for atendida ao primeiro sinal da doença, ela estará sob risco aumentado de morte. Cuidados caseiros e acompanhados pelo médico podem ajudar na recuperação do paciente com pólio.
Saiba mais: Pólio: entenda o que é necessário para combater a paralisia infantil
Tem cura?
O prognóstico depende do tipo de poliomielite e do local afetado pelo vírus. Se a medula espinhal e o cérebro não estiverem envolvidos, o que acontece em mais de 90% das vezes, a recuperação completa é bastante possível.
O envolvimento do cérebro ou da medula espinhal é uma emergência médica que pode resultar em paralisia temporária ou permanente e até mesmo em morte (normalmente por dificuldades respiratórias). “A sequela da paralisia, infelizmente, não tem cura, podendo gerar a longo prazo, deformidades, dor e osteoporose. A melhora na qualidade de vida irá necessitar de acompanhamento de fisioterapia e terapia ocupacional”, explica Patrícia Consorte.
A paralisia é uma consequência mais comum que a morte. A infecção em uma parte alta da medula espinhal ou no cérebro aumenta o risco de problemas respiratórios.
Prevenção
A vacinação é a única forma de prevenir a poliomielite. As campanhas nacionais de vacinação ocorrem anualmente e todas as crianças menores de cinco anos de idade devem ser imunizadas. O esquema vacinal contra a poliomielite é de três doses da vacina injetável. VIP, aos 2, 4 e 6 meses, e mais duas doses de reforço com a vacina oral bivalente, a VOP (em gotinha).
O que é a vacina contra a poliomielite?
A vacina contra poliomielite, também conhecida como VIP ou VOP, protege a criança de três diferentes tipos de poliovírus. É produzida a partir de vírus vivos atenuados em culturas de células derivadas especialmente de tecido renal de macacos da espécie Cercopthecos aethiops. Contém os três tipos de poliovírus atenuados (tipos I, II e III). Contém, além disso, conservantes (antibióticos) e termo estabilizadores, como cloreto de magnésio e aminoácidos ou sacarose.
É apresentada sob a forma líquida, habitualmente em um conjunto de frasco, aplicador e tampa rosqueável moldados em plástico maleável e resistente, contendo 20 ou 25 doses.
Convivendo (Prognóstico)
Sequelas da poliomielite
As sequelas da poliomielite não têm cura e estão relacionadas com a infecção da medula e do cérebro pelo vírus causador da doença. As principais sequelas são:
- Problemas e dores nas articulações;
- Pé torto, ou pé de aquilo, em que a pessoa não consegue encostar o calcanhar no chão;
- Osteoporose;
- Atrofia muscular;
- Hipersensibilidade ao toque;
- Paralisia em uma das pernas;
- Crescimento diferente nas pernas;
- Dificuldade de fala.
Complicações possíveis
A poliomielite paralítica pode levar à paralisia muscular temporária ou permanente, incapacidade e deformidades dos quadris, tornozelos e pés.
Embora muitas deformidades possam ser corrigidas com cirurgia e fisioterapia, esses tratamentos podem não ser opções em algumas partes do globo, especialmente países não industrializados, onde a pólio ainda é comum. Como resultado, as crianças que sobrevivem à poliomielite podem passar a vida com deficiências graves.
Referências
Patricia Consorte, pediatra e especialista em nutrição materno-infantil. CRM: 1495.