Graduado em Medicina pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF//MG) em 2002. Residência Médica em Neurologia pela...
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O que é Síndrome de Guillain-Barré?
A síndrome de Guillain-Barré é uma doença autoimune, ou seja, em que o sistema imunológico ataca as células do próprio sistema nervoso. Geralmente a condição está associada a um processo infeccioso prévio, sendo caracterizada por fraqueza muscular e perda de sensibilidade, principalmente nos braços e nas pernas.
Apesar de grave, a síndrome de Guillain-Barré é considerada uma doença rara. Acredita-se que ela seja causada por uma reação autoimune devido a uma infecção anterior, fazendo com que o sistema imunológico ataque os nervos periféricos após aproximadamente uma semana de uma infecção viral das vias respiratórias ou do intestino.
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Causas
As causas da síndrome de Guillain-Barré são muito estudadas pela medicina. Até o momento, os possíveis gatilhos identificados para a reação autoimune que leva à doença são as infecções pelos seguintes vírus:
- Campylobacter (que causa diarreia, sendo a causa mais comum)
- Zika
- Dengue
- Chikungunya
- Citomegalovírus
- Vírus Epstein-Barr
- Sarampo
- Vírus da Influenza A
- Mycoplasma pneumoniae
- Enterovírus D68
- Hepatite A, B e C
- HIV
Em 2015, o Ministério da Saúde confirmou que a infecção pelo Zika poderia provocar também a síndrome de Guillain-Barré. Além disso, durante a pandemia de COVID-19, também foram relatados casos da doença após a infecção pelo novo coronavírus.
Na síndrome de Guillain-Barré, o sistema imunológico de uma pessoa, que é responsável pela defesa do corpo contra organismos invasores, começa a atacar os próprios nervos, danificando-os gravemente. As causas deste ataque ainda não são bem estabelecidas, mas envolvem desde mimetismo molecular passando por uma disfunção do próprio sistema imunológico.
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O dano nervoso provocado pela doença leva a formigamento, fraqueza muscular e até mesmo paralisia. A síndrome de Guillain-Barré costuma afetar mais frequentemente o revestimento do nervo (chamado de bainha de mielina).
Essa lesão é chamada de desmielinização e faz com que os sinais nervosos se propaguem mais lentamente. Embora uma parte considerável dos pacientes recupere as funções motoras e sensitivas, outra parte fica com sequelas definitivas que levam principalmente a dores, dificuldade para caminhar e formigamentos.
Tipos
Antigamente, acreditava-se que a Síndrome de Guillain-Barré era uma doença de um tipo só. Agora sabe-se que ela pode ocorrer de diversas formas, como:
- Polirradiculoneuropatia Desmielinizante Inflamatória Aguda (AIDP): é o tipo mais comum nos Estados Unidos. O sinal mais comum dessa forma da doença é a fraqueza muscular que começa na parte inferior do seu corpo e se espalha para cima
- Síndrome de Miller Fisher (MFS): aqui, a paralisia começa nos olhos. A MFS também está associada ao caminhar instável e ocorre em cerca de 5% dos pacientes com a Síndrome de Guillain-Barré. É mais comum na Ásia do que em qualquer outro lugar no mundo
- Neuropatia Motora Axonal Aguda: é um dos tipos menos comuns, afetando mais jovens e adultos, ela é mais frequentes na China, no Japão e também no México. Esse tipo de neuropatia é caracterizada por atacar os nódulos de ranvier dos nervos motores
- Neuropatia Motora-sensorial Axonal Aguda: é um dos tipos menos comuns, afeta principalmente adultos, ela é mais frequentes na China, no Japão e também no México. É semelhante à neuropatia motora axonal aguda, atingindo os nervos sensoriais e as raízes dos nervos. Neste caso, a recuperação é mais lenta.
Sintomas
Sintomas de síndrome de Guillain-Barré
Os principais sintomas de síndrome de Guillain-Barré são:
- Perda de reflexos em braços e pernas
- Hipotensão ou baixo controle da pressão arterial
- Em casos brandos, pode haver fraqueza em vez de paralisia
- Dormência
- Alterações da sensibilidade
- Sensibilidade ou dor muscular (pode ser cãibra)
- Movimentos descoordenados
A perda de reflexos e a fraqueza muscular podem começar nos braços e nas pernas ao mesmo tempo e podem piorar entre 24 e 72 horas. Porém, também podem começar primeiro nos braços e descer para as pernas ou fazer o caminho contrário, começando pelos pés até chegarem aos braços e à cabeça.
Além disso, outros sintomas de síndrome de Guillain-Barré incluem:
- Visão turva
- Descoordenação e quedas
- Dificuldade para mover os músculos do rosto
- Contrações musculares
- Palpitações (sentir os batimentos cardíacos)
- Dificuldade para fechar o olho.
Os sintomas da Síndrome de Guillain-Barré podem piorar rapidamente. Os sintomas mais graves podem demorar apenas algumas horas para aparecer, mas a fraqueza que aumenta ao longo de vários dias é normal.
A fraqueza muscular ou a paralisia afeta os dois lados do corpo. Na maioria dos casos, a fraqueza começa nas pernas e depois se propaga para os braços. Isso é chamado de paralisia ascendente.
Os pacientes podem notar formigamento, dor nos pés ou nas mãos e descoordenação. Se a inflamação afetar os nervos do diafragma e do peito, e se houver fraqueza nesses músculos, a pessoa poderá necessitar de assistência respiratória.
Diagnóstico
A síndrome de Guillain-Barré pode ser difícil de diagnosticar em seus estágios iniciais, isso porque os sinais e sintomas são semelhantes aos de outras desordens neurológicas e podem variar de pessoa para pessoa. O diagnóstico pode ser feito, inicialmente, pela história clínica. Um histórico de fraqueza muscular crescente e paralisia pode ser um sinal da síndrome de Guillain-Barré, principalmente se houver uma doença recente.
Além disso, um exame médico pode confirmar o diagnóstico e mostrar fraqueza muscular e problemas nas funções involuntárias (autonômicas) do corpo, como pressão arterial e frequência cardíaca. O exame também pode mostrar se os reflexos, como os do joelho, estão diminuídos ou ausentes.
Os seguintes exames podem ser solicitados para diagnosticar a doença:
- Amostra do líquido cefalorraquidiano (punção lombar), provavelmente o exame principal
- Eletrocardiograma (ECG)
- Eletromiografia (EMG), que testa a atividade elétrica nos músculos
- Exame de velocidade de condução nervosa
- Exames de função pulmonar
- Em alguns casos, exames de imagem do crânio e da coluna/medula serão necessários para excluir outras causas
Buscando ajuda médica
Especialistas que podem diagnosticar a síndrome de Guillain-Barré são:
- Clínico geral
- Neurologista
- Infectologista
Alguns sintomas são emergenciais. Isso quer dizer que, se você senti-los, você deve procurar ajuda médica imediatamente. São eles:
- Diminuição da força muscular
- Alteração da sensibilidade
- Respiração interrompida temporariamente
- Não conseguir respirar profundamente
- Dificuldade para respirar
- Dificuldade para engolir
- Babar
- Desmaios
- Sentir vertigem ao se levantar
- Perda de movimentos
Tratamento
Tratamentos para síndrome de Guillain-Barré
Os tratamentos para a síndrome de Guillain-Barré visam aliviar os sintomas e impedir o avanço da doença e, para isso, é essencial que o diagnóstico seja precoce. Nos estágios iniciais da doença, tratamentos que removam ou bloqueiem a ação dos anticorpos que estão atacando as células nervosas podem reduzir a gravidade e a duração dos sintomas.
Um desses métodos é bloquear os anticorpos produzidos pelo próprio paciente usando altas doses de imunoglobulina. Nesse caso, as imunoglobulinas são adicionadas ao sangue em grandes quantidades, bloqueando os anticorpos que causam a inflamação.
Outro método igualmente eficaz é chamado de plasmaferese e é usado para remover os anticorpos do sangue. O processo envolve extrair sangue do corpo, geralmente do braço, bombeá-lo a uma máquina que remove anticorpos e depois enviá-lo novamente ao corpo.
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Quando os sintomas são graves, a hospitalização será recomendada para dar continuidade a um tipo de tratamento mais específico, que pode incluir aparelhos de respiração artificial. Outros tratamentos disponíveis têm por objetivo prevenir complicações.
- Podem ser utilizados anticoagulantes para prevenir coágulos sanguíneos
- Se o diafragma estiver debilitado, pode ser necessário o uso de um auxílio respiratório ou até mesmo de um tubo e um ventilador respiratórios
- A dor é tratada com remédios anti-inflamatórios e narcóticos, se necessário
- O posicionamento adequado do corpo ou um tubo de alimentação podem ser empregados para evitar engasgar durante a alimentação se os músculos usados para deglutição estiverem debilitados.
Pessoas com Síndrome de Guillain-Barré precisam de ajuda física e terapia antes e durante a recuperação. Os cuidados podem incluir:
- Movimento dos braços e pernas pelos profissionais de saúde antes da recuperação, para ajudar a manter os músculos flexíveis e fortes
- Fisioterapia durante a recuperação para ajudá-lo a lidar com a fadiga e recuperar a força e o movimento adequado. Em alguns casos pode ser indicado a fisioterapia neurofuncional
- Treinar com dispositivos adaptativos, como uma cadeira de rodas ou suspensórios, para oferecer habilidades de mobilidade e autocuidado.
Medicamentos
Medicamento para síndrome de Guillain-Barré
O medicamento mais usado para o tratamento da síndrome de Guillain-Barré são:
Somente um médico pode dizer qual o medicamento mais indicado para o seu caso, bem como a dosagem correta e a duração do tratamento. Siga sempre à risca as orientações do seu médico e NUNCA se automedique. Não interrompa o uso do medicamento sem consultar um médico antes e, se tomá-lo mais de uma vez ou em quantidades muito maiores do que a prescrita, siga as instruções na bula.
Tem cura?
Síndrome de Guillain-Barré tem cura?
Não existe cura para a síndrome de Guillain-Barré, mas o tratamento ajuda a aliviar os sintomas e a conter o avanço e o agravamento da doença. No entanto, a maioria das pessoas sobrevive e se recupera bem. Os sintomas de fraqueza podem persistir em algumas pessoas por muitos anos mesmo com tratamento.
Quanto tempo dura a síndrome de Guillain-Barré?
A recuperação pode demorar semanas, meses ou anos, mas não existe cura para a síndrome de Guillain-Barré. É mais provável que o prognóstico do paciente seja muito bom se os sintomas desaparecerem dentro de três semanas do início da doença.
Entre os adultos que se recuperam da síndrome de Guillain-Barré:
- Aproximadamente 80% podem andar independentemente seis meses depois do diagnóstico
- Cerca de 60% recuperam totalmente a força motora um ano após o diagnóstico
- Cerca de 5% a 10% têm uma recuperação muito atrasada e incompleta
- As crianças, que raramente desenvolvem síndrome de Guillain-Barré, geralmente se recuperam mais completamente do que os adultos
Prevenção
Não existe prevenção específica para a doença, entretanto a prevenção de infecções como a gripe, dengue e zika pode ajudar a reduzir a chance de apresentar a Síndrome de Guillain-Barré.
Convivendo (Prognóstico)
Após os primeiros sinais e sintomas, a doença tende a agravar-se progressivamente para cerca de duas semanas. Os sintomas atingem seu ápice em aproximadamente quatro semanas.
A recuperação começa logo depois, geralmente com duração de seis meses a um ano, embora para algumas pessoas possa demorar até três anos. As crianças, que raramente desenvolvem síndrome de Guillain-Barré, geralmente se recuperam mais completamente do que os adultos.
Complicações possíveis
Se não for tratada, a síndrome pode evoluir algumas complicações de saúde graves:
- Dificuldade para respirar (insuficiência respiratória)
- Contraturas das articulações ou outras deformidades
- Trombose venosa profunda (coágulos sanguíneos que se formam quando alguém está inativo ou confinado a uma cama)
- Maior risco de infecções
- Pressão arterial baixa ou instável
- Paralisia permanente
- Pneumonia
- Lesões na pele (úlceras)
- Aspiração de alimentos ou líquidos para dentro do pulmão
Existe alguma relação entre vacinação e a Síndrome de Guillain-Barré?
A vacinação estimula o sistema imunológico e pode, raramente, desencadear a Síndrome de Guillain-Barré. Portanto, não há contraindicação para qualquer forma de vacinação.
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