Adriana Stavro é nutricionista funcional e fitoterapeuta, especialista em Doenças Crônicas não Transmissíveis (DCNT) pel...
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O que é Mastruz?
O mastruz, também conhecido como erva-de-santa-maria, é uma planta subarbustiva com crescimento espontâneo em regiões de clima tropical e subtropical. Possui folhas alternas e de diferentes tamanhos, com flores pequenas e de cor esbranquiçada.
É uma planta medicinal nativa da América Latina, bastante utilizada em regiões brasileiras, como o Nordeste. Em função de seus diversos efeitos terapêuticos, o mastruz foi recentemente incluído na Relação de Plantas Medicinais de Interesse do Sistema Único de Saúde (SUS), o que estimulou mais pesquisas com o objetivo de demonstrar a segurança e a eficácia da planta no tratamento de doenças e no reforço imunológico.
Propriedades
De acordo com Adriana Stavro, nutricionista mestre pelo Centro Universitário São Camilo, a erva-de-santa-maria também é fonte de:
- Folato: também conhecido como ácido fólico, muito utilizado por gestantes e para melhorar a imunidade;
- Vitaminas do complexo B: as vitaminas B2 e B6 são usadas para metabolizar enzimas e dar mais energia ao corpo;
- Monoterpenos: ascaridol, p-cimeno, limoneno e terpineno são excelentes para combater parasitas, como vermes intestinais;
- Betacaroteno e vitamina A: ambos os compostos têm propriedades que combatem o envelhecimento precoce e melhoram a saúde da pele e dos cabelos;
- Minerais: cálcio, magnésio, potássio, cobre, ferro, manganês, fósforo, sódio, selênio e zinco.
O mastruz é uma planta rica em compostos antioxidantes, sendo eficaz no combate aos radicais livres produzidos pelo organismo. Além de ser fonte de vitamina C e vitamina A, ela também contém diversos nutrientes essenciais à saúde.
Em função de seu perfil nutricional, o mastruz apresenta as seguintes propriedades, segundo Thaís Carretoni, nutricionista da Amparo Saúde:
- Propriedades vermífugas;
- Reforço imunológico;
- Efeito expectorante;
- Potencial anti-inflamatório;
- Potencial digestivo;
- Propriedades hipotensoras;
- Propriedades antissépticas;
- Potencial em prevenir contra a osteoporose.
Benefícios
De acordo com Carretoni, embora o mastruz seja uma planta já reconhecida pelo SUS e amplamente utilizada na medicina tradicional, ainda existem poucos estudos comprovando seus efeitos terapêuticos no corpo humano. Ainda assim, já foram realizados vários estudos com a planta em animais, revelando efeitos terapêuticos importantes. Segundo a especialista, são eles:
Ação vermífuga
Esta é uma das utilidades mais populares do mastruz e, de acordo com alguns resultados demonstrados por estudos em humanos, o consumo da planta apresenta uma potente ação contra diferentes vermes intestinais, principalmente áscaris e ancilostomídeos.
Este efeito se dá pela presença de sua principal substância ativa, o ascaridol, que tem demonstrado eficácia semelhante à de alguns remédios vermífugos de farmácia, como o albendazol.
Reforço imunológico
O mastruz é fonte de vitamina C e de antioxidantes flavonoides, nutrientes que ajudam a fortalecer o sistema imunológico. Segundo estudos conduzidos em animais, o uso do extrato de mastruz mostrou-se capaz de regular a produção de algumas células importantes para o sistema imunológico, como os macrófagos e os linfócitos, fortalecendo o sistema imune.
Auxílio no tratamento de problemas respiratórios
Devido ao seu efeito expectorante, a erva-de-santa-maria é popularmente utilizada para auxiliar no tratamento de rinite, gripe, resfriado, sinusite, bronquite e tuberculose. Em algumas regiões, é comum o consumo de mastruz com leite para auxiliar no tratamento de doenças respiratórias.
“Cientificamente, não existem estudos comprovando o efeito isolado desta receita. O extrato de mastruz por si só é rico em vitamina C e em antioxidantes flavonoides, que trazem benefícios em relação ao reforço do sistema imunológico, além de conter propriedades expectorantes, o que ajuda a eliminar muco”, explica Thaís.
Redução de inflamações
Outro uso popular do mastruz é o seu uso para aliviar inflamações, principalmente problemas articulares, como a osteoartrite. Além disso, a planta também traz o potencial de aliviar a dor inerente à inflamação. Essa ação analgésica foi observada no uso do extrato alcoólico da planta, que parece atuar nos receptores NMDA (receptores relacionados com a percepção de dor).
Melhora dos sintomas de má digestão
Embora ainda não existam trabalhos comprovando o efeito da planta sobre a má digestão, esta é uma de suas utilidades mais populares. De acordo com esta forma de utilização, o chá de mastruz pode ser ingerido depois de grandes refeições com a finalidade de melhorar a digestão, uma vez que demonstra potencial em elevar a produção de suco gástrico.
Reduzir a pressão arterial
No Marrocos, país do Norte da África, o mastruz é bastante utilizado como coadjuvante no tratamento de hipertensão. De acordo com trabalhos feitos com ratos, essa propriedade se refere à estimulação de receptores muscarínicos de tipo 2 no coração, que diminuem discretamente a frequência cardíaca, além de propiciarem relaxamento do músculo cardíaco.
Ação antiséptica
Tanto a utilização na forma de extratos de mastruz como na forma de óleo essencial tem demonstrado potente ação antimicrobiana capaz de eliminar vários tipos de bactérias, vírus e fungos.
Evitar osteoporose
Em estudos conduzidos com ratos de laboratório, o uso do extrato hidroalcoólico de mastruz apresentou potencial em evitar a perda de densidade óssea, podendo ser utilizado para prevenir a osteoporose, especialmente em mulheres próximas do período da menopausa.
Mastruz e a COVID-19
Em 2020, pesquisadores da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e da Secretaria Municipal de Saúde de Itabirito (MG), em conjunto com o Instituto Oswaldo Cruz, publicaram um estudo confirmando a hipótese de que os flavonoides presentes no mastruz poderiam evitar a replicação do novo coronavírus, acelerando a recuperação e a cura da COVID-19.
A decisão por conduzir este estudo partiu justamente do conhecimento de que tal planta auxilia no tratamento de doenças respiratórias. De acordo com Ana Luisa Duque Vieira, nutricionista da Pineapple Medicina Integrada, os pesquisadores descobriram que os flavonoides presentes no mastruz, como a rutina e a nicotiflorina, apresentaram boa capacidade de inibir as enzimas do vírus. Todavia, o estudo foi realizado em um modelo computacional e não foi testado em laboratório e nem em organismos vivos.
“Por esse motivo, não se conhece qual a dose necessária para o tratamento e nem os possíveis efeitos colaterais. É por isso que nenhum órgão de saúde recomenda o uso de mastruz como forma de tratamento para a COVID-19 até que novos estudos sejam realizados”, ressalta a nutricionista Adriana Stavro.
Como consumir ?
Na culinária mexicana, a erva-de-santa-maria costuma ser utilizada como tempero para feijão, carnes, sopas e outras receitas típicas. Porém, no Brasil, o modo mais popular de se beneficiar das propriedades do mastruz é por meio da infusão de suas folhas na preparação de chás.
O chá de mastruz é mais utilizado no tratamento de problemas estomacais. Além das folhas, as flores e as sementes também podem ser usadas em infusões, misturadas com leite, tintura, xarope, extrato ou essência, segundo Stavro. Seu modo de uso pode ser interno ou através de compressas.
Outra maneira eficaz de utilização do mastruz é de forma tópica a partir do óleo essencial, que possui ótimas propriedades fotoquímicas e pode ser usado na produção de pomadas e cremes.
“O óleo essencial feito do mastruz também pode ser utilizado na pele e, por ter uma ação emoliente, promove uma melhor cicatrização de feridas. Por ter uma ação antifúngica, melhora possíveis irritações na pele”, aponta Adriana Stavro.
Quantidade recomendada
Para uso na forma de chá, a nutricionista Adriana Stavro recomenda usar 3g (uma colher de sopa) das folhas em 200mL de água fervente e tomar uma xícara duas vezes ao dia antes das principais refeições.
Na forma de xarope, adiciona-se água fervente a uma xícara de café (50mL) contendo uma colher de sopa (3g) da planta e duas xícaras de café de açúcar, levando-se ao fogo até dissolver o açúcar. Stavro recomenda a administração de uma colher de sopa três vezes ao dia.
Já para uso externo, na forma de cataplasma, deve-se amassar em um recipiente, três colheres de sopa da planta fresca em um pouco de água até formar uma pasta, aplicando-a, em gaze, sobre a área afetada por duas horas.
Riscos do consumo em excesso
Em altas doses, o óleo essencial apresenta grande toxicidade, sobretudo em pessoas debilitadas. Segundo Stavro, os sintomas mais comuns incluem:
- Náuseas;
- Vômitos;
- Depressão do Sistema Nervoso Central;
- Lesões hepáticas e renais (síndrome nefrítico reversível);
- Surdez;
- Transtornos visuais;
- Convulsões;
- Coma;
- Insuficiência cardiorrespiratória.
“É importante destacar também que a planta não deve ser utilizada para tratamento contínuo, pois seu uso prolongado pode fazer mal ao organismo”, diz Adriana Stavro.
Onde encontrar ?
O mastruz pode ser comprado em mercados ou em lojas de produtos naturais, na forma natural, como folhas secas, ou na forma de óleos essenciais. Ademais, a planta também pode ser cultivada em casa e utilizada após ser bem higienizada.
Contraindicações
Em altas doses, as propriedades do mastruz podem atuar alterando o poder de contração dos músculos. Devido a este fator, de acordo com Thaís, considera-se no meio científico que é provável que tal planta possa ter efeito abortivo. Por isso, seu uso é contraindicado para gestantes.
Lactantes, crianças menores de três anos e pessoas com diagnóstico de doenças hepáticas, renais e auditivas também devem evitar a utilização do mastruz, seja de forma interna ou externa.
“Por ser considerada uma planta com ação tóxica, principalmente quando usada em doses maiores do que as recomendadas ou por tempo prolongado, deve ser sempre utilizada com orientação de um médico, fitoterapeuta ou de outro profissional de saúde experiente em plantas medicinais”, finaliza a nutricionista Ana Luísa Duque Vieira.
Referências
Adriana Stavro, nutricionista Funcional e Fitoterapeuta - CRN- 43576
Thaís Carretoni, nutricionistas da Amparo Saúde | Rita Saúde
Ana Luisa Duque Vieira, nutricionista da Pineapple medicina integrada.