Danilo Höfling é endocrinologista e doutor em ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. É Membro...
iA ultrassonografia (US) vem evoluindo de forma muito rápida nos últimos anos e está assumindo um papel cada vez mais importante no diagnóstico das doenças da glândula tireoide. Os equipamentos de ultrassom estão sendo aperfeiçoados progressivamente, tanto na qualidade da imagem quanto nos programas que permitem análises objetivas da glândula. Esses aprimoramentos estão possibilitando a visualização de pequenas alterações da tireoide, cada vez mais precocemente.
O exame de ultrassonografia revolucionou a pesquisa de doenças da tireoide, especialmente quando inclui a análise pelo Doppler colorido e pelo Doppler pulsado. Este exame, denominado dúplex Doppler colorido da tireoide (DDT), é superior à US simples, pois fornece importantes informações adicionais.
Em minha opinião, quando há algum indício de problema na tireoide, pelo menos uma ultrassonografia simples deve ser solicitada. Se disponível, a realização de um DDT é, sem dúvida, melhor. Esses exames podem mostrar alterações da tireoide antes que a pessoa mostre sintomas e sinais de doença e mesmo antes dos exames de sangue.
Quando ocorre grande aumento dos níveis dos hormônios tireóideos no sangue (hipertireoidismo) ou grande diminuição (hipotireoidismo) vários sintomas e sinais estão presentes (ver nos artigos anteriores). Contudo, pequenos aumentos ou diminuições dos hormônios podem passar despercebidos. O mesmo acontece com os nódulos de tireoide. Quando grandes, podem até ser visíveis, mas nódulos pequenos podem não ser notados, mesmo pelo exame de palpação de um médico experiente.
Como exemplo da importância da ultrassonografia, vale lembrar que a simples palpação da tireoide é capaz de identificar nódulos em, aproximadamente, 5% das mulheres e 1% dos homens. Já a US de alta resolução permite a detecção de nódulos em 19 a 67% de indivíduos selecionados ao acaso. Ou seja, utilizando-se apenas a palpação, muitos nódulos deixariam de ser identificados.
Na verdade, a grande maioria dos nódulos é benigna, porém é necessário excluir a presença do câncer de tireoide que representa 5% a 10% dos nódulos tireóideos. Na presença de um nódulo, o DDT além ser capaz de detectar o nódulo, pode mostrar várias características que aumentam a probabilidade de se tratar de um câncer ou de um nódulo benigno. Na suspeita de um câncer, a biopsia (punção aspirativa) de tireoide é necessária para esclarecer a natureza do nódulo.
O mesmo acontece para outras doenças da glândula, quando o DDT é de extrema importância tanto para diagnosticá-las, como para diferenciá-las. Entre elas estão: a tireoidite de Hashimoto, a doença de Graves, a tireoidite pós-parto, a tireoidite subaguda, a tireoidite aguda entre outras. A tireoidite de Hashimoto, por exemplo, pode estar evidente ao DDT e passar despercebida no exame de sangue, especialmente na fase inicial.
O DDT é necessário até mesmo quando o exame de sangue acusa alguma doença na tireoide, pois além de confirmar o diagnóstico, permite verificar se outras alterações estão presentes. Assim, se uma pessoa tem indícios de tireoidite de Hashimoto ou doença de Graves no sangue, além de o DDT contribuir para confirmar a doença, enseja ainda identificar nódulos que poderiam passar despercebidos ao exame de palpação da tiroide.
Desse modo, um exame simples, rápido, seguro, eficaz e não invasivo, pode ser de extrema utilidade para o diagnóstico precoce das doenças da tireoide. Entretanto, para que o DDT tenha as qualidades acima referidas é fundamental que seja realizado em equipamento adequado e, principalmente, por um bom ultrassonografista. Caso contrário, pode mostrar falsos resultados que confundem o diagnóstico.
Saiba mais: Hipotireoidismo: oito dúvidas sobre a doença da tireoide
Portanto, a US ou o DDT são exames indispensáveis que, nas mãos de um profissional experiente, podem ser decisivos para o diagnóstico das doenças da glândula tireoide.