Doutor em cardiologia pela Universidade Federal de São Paulo / Escola Paulista de Medicina, tem título de especialista e...
iArritmias cardíacas são qualquer variação do ritmo ou frequência cardíaca. Cada batimento cardíaco é causado por um impulso elétrico que percorre todo o músculo, "forçando" este a diminuir de tamanho. No coração isso serve para impulsionar sangue. Considerando que o sangue chega ate o coração proveniente de todo o corpo de forma regular, e que tudo que chega ate o coração deve seguir em frente, vemos como acontecem os sintomas da arritmia.
Se um batimento chega antes do tempo, ele vai empurrar menos sangue para o corpo (cérebro, rins e músculos). O batimento que segue, se esperar o tempo certo de bater, vai acumular o sangue que não saiu no anterior (por que este não tinha chegado) junto com a quantidade habitual fora da arritmia. Nesse caso o paciente vai sentir um ?pulo? no peito ou na garganta. Se a arritmia for rápida demais, o sangue não vai conseguir ser empurrado a tempo e vai acumular nos pulmões e às vezes nas pernas também. Se o coração estiver muito lento, o espaço entre uma batida e outra vai ser tão grande que a pressão dentro da aorta vai subir e descer gradualmente e em tanta quantidade que vai gerar cansaço: não tem fluxo pra chegar até os dedinhos ou até o cérebro.
Então síncope, palpitações ou falta de ar podem ser causados por arritmias. Ainda que a maioria seja benigna, algumas podem levar à morte.
O tema desse capítulo é estresse e arritmias. E como ligar um a outro? Estresse pode ser um importante mimetizador de sintomas, ansiedade pode criar todos os sintomas descritos acima. A síndrome de "Burnout" (em tradução livre, esgotamento), frequentemente causa hipertensão arterial, doenças coronarianas (infarto, angina), e mantém o paciente com elevado nível de catecolaminas - leia-se adrenalina. A adrenalina que serve para aumentar a pressão arterial, preparar mecanismos de luta e fuga, reduzir o limiar de dor, aumentar a frequência cardíaca e facilitar reflexos do sistema nervoso autônomo.
A pressão elevada pode facilitar a doença cardíaca em vários níveis, até o molecular. O convívio com situações estressantes e os níveis de adrenalina elevados facilitam "disparos" elétricos no coração, e estes viram contrações prematuras; Essas contrações podem se perpetuar e até ficar sustentadas, substituindo o ritmo normal do coração por ritmos aleatórios.
O estresse físico em excesso e mantido (como pode ser visto em atletas de alta performance) deixa a pessoa mais propensa a arritmias como fibrilação atrial. Estresse crônico como em casos de apneia do sono, hipertensão arterial e insuficiência cardíaca podem levar a todos os tipos de arritmia, e mesmo morte súbita. Estresse emocional já é um fator comprovado para alterações arrítmicas e mesmo do formato do coração, como a "Síndrome do coração partido" - que por incrível que pareça existe mesmo!
Muitas pessoas também acabam utilizando antidepressivos para tratar de condições psiquiátricas. A maioria dos antidepressivos têm efeitos facilitadores de arritmias, bem como algumas medicações utilizadas em quadros neurológicos.
Saiba mais: Arritmias cardíacas: cuidados ao fazer exercícios
Existem grupos hoje mesmo em São Paulo que apostam em tratamentos não convencionais como psicoterapia e acupuntura, que visam compensar a psique ou a energia do paciente como forma de reduzir o ônus da doença. Ainda hoje estes trabalhos não têm peso científico, mas acredito que a visão sobre a causa e tratamento das arritmias tende a observar que algumas são dependentes do estado do individuo como um todo, não apenas um coração.