Graduado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, onde também realizou mestrado em Psiquiatria. Doutor e...
iFalar de novas medicações que ajudem fumantes* a largar o vício é muito importante, uma vez que o tabagismo é uma das principais causas de morte evitável no mundo: cerca de seis milhões de pessoas anualmente. Aproximadamente cinco milhões delas morrem em resultado da ação direta do tabaco e cerca de 600 mil devido à exposição passiva ao fumo. São cerca de 30 milhões de fumantes apenas no Brasil.
Surgimento da Citisina
Apesar da citisina, fabricada na Bulgária, já estar disponível na Europa Oriental desde 1964 para o tratamento da dependência de nicotina, países como Estados Unidos e Brasil ainda não liberaram o seu uso. Contudo, tendo em vista os vários estudos que apontam para a grande utilidade da droga, é possível que seja comercializada num futuro próximo.
A citisina é uma substância parecida com a nicotina e chegou a ser fumada por soldados alemães e russos durante a Segunda Guerra Mundial. (6) Ela está presente numa série de plantas e seu nome vem do gênero Cytisus, que comporta uma série aparentadas da acácia, da qual é extraída. (7)
Forma que funciona
Seu mecanismo de ação é semelhante ao da vareniclina, chamada de agonismo parcial: ela se liga às mesmas regiões das células nervosas que a nicotina e as estimula levemente. A consequência disto é que, ao mesmo tempo que proporciona um alívio para a falta da nicotina no organismo de quem parou de fumar, ela diminui o efeito da nicotina. Em outras palavras, se a pessoa fumar, a nicotina terá menos ação, pois haverá uma outra molécula ocupando o lugar normalmente ocupado pela nicotina. Este mecanismo se chama "competição". Quem toma este tipo de medicação e usa o tabaco geralmente diz que sentiu menos prazer do que normalmente sentiria. Esta diminuição do efeito reforçador da nicotina diminui a probabilidade de a pessoa fumar novamente.
Posologia usual
A citisina, extraído da acácia chuva-de-ouro, é utilizada, geralmente, na dose de um comprimido a cada duas horas (num total de seis por dia) por um a três dias e, depois, a quantidade é diminuída gradualmente, recomendando-se que a pessoa pare de fumar no quinto dia do tratamento. Ela deverá estar tomando um a dois comprimidos por dia, entre o 21º e o 25º dia. Não está determinada ainda a duração ideal do tratamento. (6,7)
Efeitos colaterais
Não há evidências de que a citisina possa causar dependência e, em termos de efeitos colaterais, os mais claramente relacionados ao uso da medicação são os gastrintestinais, como náuseas. Em doses muito altas pode ser tóxica. (8)
A citisina não parece ser mais eficaz que os tratamentos medicamentosos convencionais, mas a grande vantagem é que promete ser mais barato e pelo menos igualmente eficaz.
Tratamentos disponíveis hoje no Brasil
Os tratamentos para o tabagismo envolvem técnicas comportamentais (como as cognitivo-comportamentais e as motivacionais), utilização de meios acessórios como os cigarros eletrônicos - que não têm efeito definitivamente comprovado e devem ter o seu uso acompanhado por profissionais habilitados - e tratamentos medicamentosos. Estes últimos são especialmente desejáveis em casos de pessoas que usam mais de dez cigarros por dia, devendo ser evitados em todos aqueles que tenham algum problema físico que o contraindique ou que tiverem efeitos colaterais graves. No caso de mulheres grávidas e adolescentes, os prós e contras devem ser pesados. (5)
Os tratamentos medicamentosos considerados padrão-ouro, até recentemente, eram a vareniclina ou a associação do antidepressivo bupropiona com dois tipos de reposição de nicotina (a substância do tabaco que mais leva à dependência), geralmente o adesivo de nicotina e a goma ou pastilha de nicotina. (Nos Estados Unidos há também o inalador e o aerossol de nicotina.) (5)
Números sobre o tabagismo
Cerca da metade dos fumantes morre em função de doenças causadas pelo tabaco. Assim, por exemplo, apesar de que nem todos que têm câncer de pulmão fizeram uso de tabaco, fumantes têm cerca de 25 a 26 vezes mais chance de desenvolver esta doença que não-fumantes. (1,2,3)
O Brasil tem tido grandes progressos nesta área. Entre os anos de 1989 e 2013, o número de fumantes na população foi reduzido de cerca de 35% para menos de 15%. Entretanto, 15% de fumantes no Brasil representam cerca de 30 milhões de pessoas. (4)
* Nota: no texto se utiliza os termos "fumar" e "fumante" por uma questão de simplicidade mas se sabe que outros produtos do tabaco (fumo de corda, cigarro de palha, rapé, charutos, cachimbos, narguilé) também trazem prejuízos semelhantes.
Referências
1. United States of America, Office of the Surgeon General, Treatment for Tobacco Use and Dependence, http://www.surgeongeneral.gov/library/reports/50-years-of-progress/sgr50-chap-14-app14-4.pdf
2. American Cancer Society, http://www.cancer.org/cancer/cancercauses/tobaccocancer/tobacco-related-cancer-fact-sheet , acessado em 11/04/2016
3. World Health Organization, http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs339/en/ , acessado em 11/04/2016
4. Brasil, Observatórioda Política Nacional de Controle do Tabacohttp://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/observatorio_controle_tabaco/site/home/dados_numeros/prevalencia-de-tabagismo , acessado em 11/04/2016.
5. Clinical Guidelines for Prescribing Pahrmacotherapy for Smoking Cessation http://www.ahrq.gov/professionals/clinicians-providers/guidelines-recommendations/tobacco/prescrib.html (acessado em 12/04/2015)
6. Prochaska JJ, Das S, Benowitz NL.Cytisine, the world's oldest smoking cessation aid. BMJ. 2013 Aug 23;347:f5198. doi: 10.1136/bmj.f5198
7. Tabex https://www.tabex.net/
8. Hajek P, McRobbie H, Myers K. Efficacy of cytisine in helping smokers quit: systematic review and meta-analysis. Thorax. 2013 Nov;68(11):1037-42. doi: 10.1136/thoraxjnl-2012-203035. Epub 2013 Feb 12..