Graduado em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), tendo concluído a residência em Pn...
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O que é Tabagismo?
O tabagismo é uma doença crônica associada à dependência de nicotina, que é uma droga psicoativa presente nos produtos derivados do tabaco. Na classificação internacional de doenças (CID), ela integra o grupo dos transtornos mentais e de comportamento decorrentes do fumo.
Segundo o pneumologista João Marcos Salge, do Fleury Medicina e Saúde, para ser considerada tabagista, a pessoa precisa fazer uso de, ao menos, um produto com tabaco regularmente, independente do tempo.
Entre os itens que se encaixam nessa categoria estão cigarros, charutos, cachimbos, cigarros de palha, cigarrilhas, bidis, tabaco para narguilés, rapés, fumos-de-rolo, dispositivos eletrônicos para fumar e outros. Todos fazem mal à saúde.
No período de consumo desses produtos, são introduzidas no organismo mais de sete mil substâncias tóxicas, incluindo nicotina (responsável pela dependência química), monóxido de carbono (o mesmo gás venenoso que sai do escapamento de automóveis) e alcatrão (que é constituído por aproximadamente 70 substâncias pré-cancerígenas, como agrotóxicos e substâncias radioativas relacionadas ao câncer).
Tabagismo passivo
A inalação da fumaça de derivados do tabaco por indivíduos que não fumam, mas convivem com fumantes em ambientes fechados, é o chamado tabagismo passivo. Conforme explica o pneumologista João Marcos Salge, “essa exposição às toxinas do cigarro, ainda que em menor quantidade, está comprovadamente associada ao desenvolvimento de reações alérgicas, câncer de pulmão, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e infarto do miocárdio”.
As crianças, por terem uma frequência respiratória mais elevada, são as mais atingidas, sofrendo com bronquite, pneumonia, desenvolvimento e exacerbação da asma, infecções do ouvido médio e maior probabilidade de ter doença cardiovascular na idade adulta.
Quanto maior o tempo em que o não fumante fica exposto às toxinas do tabaco, maior a chance de adoecer. A situação é tão comum que faz com que o tabagismo passivo seja a terceira maior causa de morte evitável do mundo, atrás apenas do tabagismo ativo e do consumo excessivo de álcool.
Dessa forma, para proteger os não fumantes, é muito importante a existência de ambientes específicos para o fumo (fumódromos), principalmente em espaços com aglomeração de pessoas. Só vale ressaltar que eles fazem efeito apenas quando são isolados dos outros ambientes e contam com um sistema de ventilação separado, não permitindo que o ar poluído se espalhe.
Causas
Os derivados do tabaco podem causar dependência por conter nicotina, que afeta o corpo em pelo menos três esferas:
- Fisiológica: por estimular o cérebro de maneira análoga à cocaína e à heroína, ativando neurotransmissores, como a dopamina, que provocam uma forte sensação de prazer e euforia;
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Psicológica: por aliviar temporariamente sensações de angústia, ansiedade, tristeza, medo e estresse;
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Comportamental: por servir como distração em situações corriqueiras do cotidiano, como tomar café, comer, assistir à televisão, falar ao telefone, ingerir bebidas alcoólicas, dirigir ou mesmo relaxar.
Com a ingestão contínua dessa substância, o cérebro se adapta e passa a precisar de doses cada vez maiores para manter o mesmo nível de satisfação que tinha no início - um efeito conhecido como tolerância à droga.
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Sinais
Segundo o Manual Estatístico e Diagnóstico (DSM-IV) da Associação de Psiquiatria Americana (APA),, os critérios para diagnósticos de dependência química se aplicam também ao tabagismo. Por isso, o quadro é confirmado quando há:
- O uso contínuo da nicotina, apesar da consciência de ter um problema físico ou psicológico causado ou exacerbado por ela;
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Esforços para manter o uso diário da substância;
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Tolerância, definida por uma necessidade de quantidades progressivamente maiores dos produtos para adquirir o efeito desejado;
- Esforços malsucedidos para reduzir ou controlar o consumo da substância;
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Sintomas de crise de abstinência.
Sintomas de crise de abstinência
Ao parar de fumar, é natural que o corpo reaja à falta da nicotina a partir das crises de abstinência - o que leva à manifestação de diversos sintomas, incluindo:
- Dor de cabeça;
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Tontura;
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Irritabilidade;
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Agressividade;
- Alteração do sono;
- Dificuldade de concentração;
- Tosse;
- Indisposição gástrica;
- Fissura.
Nem sempre os fumantes em tratamento serão afetados por esses sintomas e, quando forem, a situação tende a se normalizar entre uma e duas semanas (alguns casos podem chegar a quatro).
Tratamento
Para parar de fumar, é necessário seguir um tratamento multidisciplinar que vai além do uso de adesivos, chicletes ou medicamentos anti nicotina, promovendo mudanças nas crenças e a quebra de vínculos comportamentais com o cigarro. E isso pode acontecer de duas formas:
- Imediata: quando a pessoa marca uma data para deixar de fumar e, a partir dela, não consome mais nenhum derivado do tabaco. O ideal é não ter cigarros por perto nesse momento para reduzir as chances de ceder à vontade;
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Gradual: em que é reduzido progressivamente o número de cigarros fumados por dia. Por exemplo: uma pessoa que fuma 30 cigarros por dia, no primeiro dia fuma os 30 cigarros usuais e depois diminui cinco unidades por cada dia até chegar a zero. Os especialistas recomendam que o processo não dure mais de duas semanas, senão ele pode se tornar uma forma de adiar a interrupção do tabagismo.
Ter uma orientação médica pode facilitar. Na consulta, serão feitas perguntas sobre quando você começou a fumar, quantos cigarros consome por dia, quantas vezes já tentou parar e quais métodos foram usados na época. É a partir dessas informações que o profissional definirá o tratamento mais adequado, avaliando, inclusive, a necessidade de tomar remédios e fazer exames para investigar a existência de doenças relacionadas ao tabaco.
Segundo o pneumologista João Marcos Salge, é normal passar por esse processo várias vezes até interromper definitivamente a dependência. Isso porque as pessoas têm formas distintas de lidar com o tabaco, mas, a cada tentativa, elas têm a chance de entender melhor as suas dificuldades e como contorná-las. Nas mulheres, por exemplo, o uso de cigarro muitas vezes está associado a uma mudança de humor e essa tendência pode criar dificuldades diferenciadas diante da abstinência.
Felizmente, algumas práticas costumam ajudar nesse processo, como:
- Fazer exercícios de relaxamento: esse é um ótimo recurso para afastar o nervosismo de um jeito saudável. Assim, quando for necessário, respire fundo pelo nariz, contando até seis e depois deixe o ar sair lentamente pela boca até esvaziar totalmente os pulmões. Estique também os músculos até sentir a tensão ir embora;
-
Buscar outras fontes de prazer: procure incluir ou retomar atividades que sejam prazerosas da sua rotina (artesanato, dança, leitura, jardinagem, yoga etc.);
-
Se distrair: quando surgir a vontade de fumar, você ainda pode buscar distrações, como chupar gelo, escovar os dentes, beber água gelada, comer uma fruta, conversar com um amigo ou manter as mãos ocupadas rabiscando algo.
Depois de tudo, quando você conseguir parar, o importante é se proteger, afinal, uma simples tragada é capaz de levar a uma recaída. Portanto, é fundamental evitar qualquer contato com cigarro.
Parar de fumar aumenta o peso?
Com a diminuição do consumo de cigarro, é comum a melhora do paladar e a regularização do metabolismo, o que pode resultar em um aumento de peso. Apesar disso, durante o processo de parada, é importante procurar não comer mais do que de costume, além de evitar doces e alimentos gordurosos.
A manutenção de uma dieta equilibrada, com alimentos naturais e de baixa caloria, também pode ajudar no controle do peso, assim como a prática regular de atividades físicas e a ingestão de bastante líquidos, de preferência água e sucos naturais.
Existe tratamento gratuito para parar de fumar?
Atualmente, o Brasil conta com o Programa Nacional de Controle do Tabagismo (PNCT), que oferece tratamento gratuito para parar de fumar pelo SUS. Nele, estão incluídas avaliações clínicas, orientações individuais ou em grupo e, se necessário, o oferecimento de medicamentos. O melhor é que o serviço está disponível em todos os estados e no Distrito Federal.
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Complicações possíveis
Diariamente, segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), 443 pessoas morrem por quadros clínicos relacionados ao tabagismo, que contribui para o desenvolvimento de diversas doenças. As estatísticas revelam que os tabagistas comparados aos não fumantes apresentam um risco:
- 10 vezes maior de adoecer de câncer de pulmão;
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5 vezes maior de sofrer de infarto;
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5 vezes maior de sofrer de bronquite crônica e enfisema pulmonar, que podem resultar em doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC);
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2 vezes maior de sofrer AVC (derrame cerebral).
Entre as outras doenças que o tabagismo favorece, estão:
- Leucemia mieloide aguda;
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Câncer de bexiga;
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Câncer de pâncreas;
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Câncer de fígado;
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Câncer do colo do útero;
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Câncer de esôfago;
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Câncer de rim e ureter;
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Câncer de laringe (cordas vocais);
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Câncer na cavidade oral (boca);
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Câncer de faringe (pescoço);
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Câncer de estômago;
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Câncer de cólon e reto;
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Câncer de traqueia e, brônquios e pulmão;
- Tuberculose;
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Infecções respiratórias;
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Úlcera gastrointestinal;
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Impotência sexual;
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Infertilidade em mulheres e homens;
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Osteoporose;
- Catarata.
De acordo com os especialistas, o simples ato de parar de fumar oferece uma série de benefícios que podem ser sentido a curto, médio e longo prazo, como:
- após 20 minutos, sua pressão sanguínea e a pulsação voltam ao normal;
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após 2 horas, não há mais nicotina no seu sangue;
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após 8 horas, o nível de oxigênio no sangue se normaliza;
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após 2 dias, seu olfato já percebe melhor os cheiros e seu paladar já degusta a comida melhor;
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após 3 semanas, a respiração fica mais fácil e a circulação sanguínea melhor;
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após 10 anos, o risco de sofrer infarto será igual ao de quem nunca fumou, e o risco de desenvolver câncer de pulmão cai pela metade;
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após 20 anos, o risco de desenvolver câncer de pulmão será quase igual ao de quem nunca fumou.
As mulheres grávidas que fumam, além de correr o risco de abortar, têm uma maior chance de ter bebês de baixo peso, menor tamanho e com anomalias congênitas. As pesquisas ainda apontam que os filhos de fumantes adoecem duas vezes mais do que os de não fumantes. É justamente por essa razão que, durante o pré-natal, os médicos sempre pedem para os pais pararem de fumar.
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Referências
INCA (instituto Nacional de Câncer do Ministério da Saúde)
Sociedade Brasileira de Cardiologia
Aliança de Controle ao Tabagismo
Centro Estadual de Vigilância em Saúde - Rio Grande do Sul
Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia
Centro Estadual de Vigilância em Saúde
João Marcos Salge, pneumologista do Fleury Medicina e Saúde; CRM-SP: 82.728.