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Conhecido como BDS (Deep Brain Stimulation - em tradução livre, Estimulação Cerebral Profunda), este tratamento para Parkinson chamou a atenção na internet após a divulgação do vídeo de um idoso de Luisiana, nos Estados Unidos. O senhor recebeu os eletrodos e, assim que o sistema foi ligado pelos médicos, seu corpo parou de tremer em questão de instantes.
Como funciona a cirurgia?
A cirurgia, que dura de 4 a 8 horas, consiste na colocação de eletrodos acompanhados de fios condutores em núcleos específicos do cérebro, responsáveis pelos movimentos automáticos. Estes eletrodos são conectados a um dispositivo estimulador, como um tipo de marca-passo, que é alocado geralmente no tórax, no tecido subcutâneo.
"A colocação dos eletrodos é feita através de um rigoroso mapeamento cerebral de imagem e principalmente de dispositivos, que fazem a captação das atividades dos neurônios ao redor do eletrodo. Todos estes cuidados visam atingir o máximo de acerto no posicionamento dos eletrodos, uma vez que a sua eficácia está diretamente relacionada a este acerto", diz Edson Issamu, neurologista da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo.
Na Doença de Parkinson, a falta de um neurotransmissor (dopamina) e o aumento de outro (acetilcolina) faz com que exista um desbalanceamento nos circuitos cerebrais. Alguns ficam hiperestimulados, causando tremores, e outros inibidos, causando lentidão. "A eletroestimulação busca fazer a inibição das áreas hiperestimuladas, buscando novamente um equilíbrio neuronal que não se conseguiu com uso de medicações", afirma o médico.
O resultado já é visto na hora?
Sim! Em geral, o paciente permanece acordado durante a cirurgia e, após o posicionamento dos eletrodos, ainda dentro da sala cirúrgica, os médicos contam com a ajuda do paciente no procedimento de teste, atendendo as solicitações dos especialistas. "Em muitos casos a pessoa já sai do centro cirúrgico com melhora significativa dos sintomas", de acordo com Issamu.
A taxa de sucesso do procedimento é acima de 85%, mas o especialista ressalta que alguns estudos mostram o retorno dos sintomas do paciente após alguns anos de uso da DBS. "Isso pode ocorrer mesmo com os sucessivos ajustes do estimulador e esse problema seria contornado com o uso das medicações anti-parkinsonianas", conta o neurologista.
Técnica brasileira premiada aprimorou o tratamento
Em um projeto conjunto entre o Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Sírio-Libanês e o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), liderado pelo neurocirurgião Erich Fonoff, a equipe brasileira desenvolveu uma nova técnica para a implantação de eletrodos no cérebro dos pacientes. A novidade diminuiu o tempo de cirurgia em até 40% e ainda aumentou a segurança e a precisão do procedimento.
O implante dos eletrodos era feito separadamente em cada lado do cérebro, mas a equipe de conseguiu desenvolver um mecanismo para fazer os implantes nos dois lados do cérebro simultaneamente. A descoberta recebeu até um prêmio no Congresso Bi-anual da Sociedade Europeia de Neurocirurgia Estereotáxica e Funcional, em 2014. A diminuição do tempo do processo cirúrgico torna o procedimento menos penoso para o paciente.
Contraindicações
- Pacientes que apresentam comprometimento cognitivo moderado ou severo (constatado através de teste neuro-psicológico)
- Pacientes que apresentam comorbidades importantes (como hipertensão arterial severa, cardiopatias ou pneumopatias graves) que aumentam o risco cirúrgico
- Presença de graves doenças cérebro-vasculares (Acidente Vascular Encefálico)
- Diagnóstico de Atrofia de Múltiplos Sistemas
- Diagnóstico de Parkinsonismo atípico ou Parkinson Plus (Parkison + Demência)
- Pouca ou nenhuma resposta ao teste com Carbidopa-Levodopa
- Dificuldade de manter a calma e cooperação durante as várias horas que duram o procedimento (apesar de haver possibilidade de realizar o procedimento com anestesia geral, mas obviamente com grande prejuízo à fase de testes intra-operatório dos eletrodos)
- Pouco recomendado para pacientes acima de 80 anos