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A perda da pequena Laura, que faleceu por sepse aos 18 dias de vida, foi o grande pontapé inicial para que seu pai, Jacson Fressatto, desse início ao projeto que hoje já transformou o destino de diversas vidas: o Robô Laura. O pai passou muitos meses pesquisando e investigando os processos hospitalares: "Queria achar um culpado, quem tinha errado", lembra ele.
Mas foi assim que ele entendeu que não existiam culpados, mas sim um sistema com muitas lacunas. "No dia que a Laura foi internada, a pediatra que tratava do caso pediu para eu ser o doador de plaquetas, mas esse pedido formal chegou só 14 dias depois. Então quis entender a demora, a dinâmica, a lógica, os profissionais envolvidos, os recursos usados, tudo para ter a definição desse processo", diz.
Para você ter uma noção, a sepse é a principal causa de mortes nas unidades de terapia intensiva (UTI) e o Brasil tem uma das mais altas taxas de mortalidade do mundo pelo problema - cerca de 55% dos casos, segundo dados do Instituto Latino Americano de Sepse. Anualmente, surgem 400 mil novos casos e até 240 mil mortes. Também conhecida como infecção generalizada ou septicemia, a sepse acontece quando um quadro de infecção é agravado, fazendo com que o organismo não consiga controlá-lo.
A busca pela solução para esse problema resultou em 7 anos de auditoria na área da saúde, em que paralelamente iam sendo criadas saídas tecnológicas para essas questões. Foram muitas noites, finais de semana, protótipos e testes, até que a versão definitiva nascesse.
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O Hospital Nossa Senhora das Graças, em Curitiba, foi o primeiro a usar a tecnologia, e em alguns meses já foi possível notar a redução de 17% na mortalidade por sepse e de 85% no tempo entre a alteração no organismo e a administração do antibiótico, fator determinante para as chances de recuperação do paciente.
Como a Laura funciona?
Laura é um robô super-sensível que utiliza tecnologia cognitiva. Em outras palavras, ele é capaz de aprender e identificar padrões e conversar diretamente com a área operacional de uma instituição.
Quando instalado o robô tem como objetivo acessar todos os dados do hospital, inclusive as máquinas dos laboratórios. A partir desse mapeamento, ele consegue analisar todos os dados dos pacientes e avisar à equipe assistencial caso haja alguma piora.
Esse aviso acontece graças a uma funcionalidade presente no robô chamada "Ansiedade de Laura". "Qualquer alteração mínima ele já coleta as informações e cruza os dados para entender", conta o criador.
Sonho de Laura
O projeto já ganhou diversos prêmios, como o SESI ODS edição de 2017, em que foi reconhecido que o Robô Laura ajuda o mundo a alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que são 17 objetivos para promoção da sustentabilidade econômica e ambiental com sociedades pacíficas e inclusivas, promovidos pela ONU. Também ganhou o Prêmio Desafio Pfizer 2016 - Categoria Commitment, Prêmio Referências da Saúde 2016 - Qualidade Assistencial e Segurança do Paciente e Prêmio Ozires Silva 2017 - Líder Globalmente Responsável.
E daqui para frente Jacson quer muito mais. "Vamos apresentar o Robô Laura para um grupo da ONU e nosso maior sonho é reduzir em 5% a mortalidade de sepse no Brasil", revela ele. "Onde quero chegar? Onde tiver gente morrendo de sepse", finaliza.