Graduado em Medicina pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) em 1991, com Residência Médica em Cirurgia Geral e...
iRedatora especialista em conteúdos sobre saúde, família e alimentação.
O que é Sepse?
A sepse, conhecida também como infecção generalizada ou septicemia, é uma síndrome clínica decorrente de complicações de infecções graves, de modo que o corpo inteiro reage contra o agente causador da doença.
Trata-se de uma infecção com alto potencial de morte, uma vez que pode afetar todo sistema imunológico e dificultar o funcionamento dos órgãos. Em resposta, o organismo provoca mudanças na temperatura, na pressão arterial, na frequência cardíaca, na contagem de células brancas do sangue e na respiração.
As formas mais graves de sepse também podem causar uma disfunção de órgãos, chamada choque séptico.
Atualmente a sepse é a principal causa de mortes nas unidades de terapia intensiva (UTI). O Brasil tem uma das mais altas taxas de mortalidade do mundo pelo problema - cerca de 55% dos casos, segundo dados do Instituto Latino Americano de Sepse publicado em estudo no periódico científico The Lancet.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, 11 milhões de pessoas morrem por ano por conta da sepse. No Brasil, as estatísticas apontam para 240 mil mortes ao ano.
Causas
Causas da sepse
No geral, a causa da sespe é uma infecção bacteriana, mas ela também pode ser causada por outros micro-organismos, como vírus e fungos. Quando esses micro-organismos invadem o corpo, as células liberam substâncias chamadas citocinas que, por um lado, ajudam no processo de defesa do organismo, mas que por outro podem ter efeitos nocivos.
Os problemas das citocinas são:
- Dilatação dos vasos sanguíneos e diminuição a pressão arterial
- Coagulação sanguínea em vasos pequenos dentro dos órgãos
Um quadro de sepse pode se originar a partir de qualquer quadro infeccioso. "Qualquer infecção bacteriana pode vir a se complicar com uma sepse, principalmente em pessoas com imunidade baixa", afirma Juliene Soares de Oliveira Veloso, médica especialista em medicina de família e comunidade.
Normalmente, as bactérias que levam à sepse são as que se instalam em pulmões, abdômen ou no trato urinário.
Saiba mais: Choque séptico: o que é, sintomas, causas e tratamento
Tipos
Tipos de sepse
A sepse pode ser classificada de acordo com a evolução do quadro em três níveis:
- Sepse: neste quadro há pelo menos dois sintomas de sepse, como taquicardia e febre, por exemplo
- Sepse grave: há comprometimento de um ou mais órgãos
- Choque séptico: há uma queda significativa da pressão arterial e o quadro pode levar à falência múltipla de órgãos e à morte
Sinais
Sintomas de sepse
Diversos sintomas de sepse são característicos do problema, como:
- Febre
- Calafrios
- Taquicardia
- Frequência cardíaca aumentada
- Dificuldade para respirar ou frequência respiratória aumentada
- Pressão arterial baixa (hipotensão)
- Diminuição da quantidade de urina
- Alterações neurológicas, que podem ser desde ansiedade e desorientação até confusão mental e perda de consciência
-
Em casos de choque séptico, o paciente fica com pressão arterial baixa, mesmo com tratamento em vigor
Diagnóstico
Diagnóstico de sepse
O primeiro passo para o diagnóstico da sepse é reconhecer os sinais clínicos, como febre, aumento da frequência cardíaca e diminuição da pressão arterial. Depois, o diagnóstico geralmente é confirmado com um exame se sangue.
Os exames de sangue que podem ser feitos incluem:
- Gasometria arterial
- Exames de função renal
- Contagem de plaquetas
- Contagem de leucócitos
- Diferencial sanguíneo
- Produtos de degradação da fibrina
- Lactato
- Culturas de bactérias
Dependendo dos sintomas e medicamentos que o paciente está tomando, podem ser feitos outros exames, como:
- Exame de urina
- Coleta de amostras de infecções e feridas
- Análise de secreções respiratórias
- Raio X
- Tomografia computadorizada
- Ultrassonografia
- Ressonância magnética
Embora a prevalência de sepse tenha aumentado nos últimos anos, a mortalidade a ela associada vem diminuindo. O prognóstico é também dependente da gravidade do quadro clínico, com mortalidades de 7% para síndrome inflamatória de resposta sistêmica, 16% para sepse, 20% para sepse grave e 46% para choque séptico.
Saiba mais: Pneumonia: o que é, sintomas, tratamento e se é contagiosa
Fatores de risco
Qualquer pessoa pode apresentar um quadro de sepse. Entretanto, algumas condições de saúde favorecem mais o aparecimento da infecção generalizada, tais como:
- Pneumonia
- Infecção abdominal
- Infecção renal
- Infecção da corrente sanguínea (bacteremia)
O risco de sepse também é maior em paciente que se enquadram nestes casos:
- Faz quimioterapia
- Está na UTI e/ou com com o estado de saúde geral comprometido
- Tem feridas ou lesões, como queimaduras
- Está utilizando dispositivos invasivos, tais como cateteres intravenosos ou tubos respiratórios
Alguns grupos de pessoas correm mais riscos de sofrer sepse. São eles:
- Bebês prematuros
- Crianças com menos de 1 ano
- Idosos com mais de 65 anos
- Portadores de doenças crônicas, como insuficiência cardíaca, insuficiência renal e diabetes
- Usuários de álcool e/ou drogas
- Portadores de doenças que afetam o sistema imunológico, como HIV positivo
Buscando ajuda médica
Na maioria dos casos a sepse ocorre em pacientes que já estão hospitalizados. Pessoas internadas na UTI são especialmente vulneráveis a desenvolver infecções que podem levar à sepse.
Contudo, qualquer tipo de infecção, leve ou grave, pode evoluir para um quadro de sepse. As mais comuns são a pneumonia, infecções na barriga e infecções urinárias. Por isso, quanto menor o tempo com infecção, menor a chance de surgimento da infecção generalizada.
Caso o paciente perceba alguns dos sintomas, como febre, calafrios, alteração da frequência cardíaca e respiratória, o conselho é procurar um médico o quanto antes. O tratamento rápido das infecções é uma estratégia que deve ser adotada.
Tratamento
Tratamento para sepse
Não existe tratamento para a sepse. Seu manejo envolve o tratamento da infecção subjacente com antimicrobianos e drenagem cirúrgica, além de medidas de suporte, de acordo com as manifestações apresentadas pelos pacientes.
A escolha apropriada do agente antimicrobiano é de fundamental importância, pois o uso não criterioso está associado a um aumento de mortalidade de 10% a 15%. Inicialmente, utiliza-se um antibiótico de amplo espectro até a determinação do agente causador da infecção e do tecido atingido, o que possibilita a administração de um antibiótico mais específico.
O tratamento de suporte depende do estado e dos sintomas do paciente, e pode incluir reposição volêmica, uso de esteroides, vasopressores, suporte renal e respiratório, uma vez que a sepse gera sobrecarga nos pulmões, frequentemente evoluindo para taquipneia e hipóxia. Cerca de 85% dos pacientes necessitam de algum suporte ventilatório, como intubação e ventilação mecânica.
Pessoas com sepse grave e choque séptico necessitam uma estreita vigilância e tratamento em uma UTI do hospital e podem precisar de medidas de salvamento para estabilizar as funções orgânicas.
Saiba mais: Febre: quando é preocupante e como baixar a temperatura
Medicamentos
Remédios para sepse
Os medicamentos para sepse mais usados para o tratamento são:
- Bactrim
- Ceftriaxona Dissódica
- Ceftriaxona Sódica
- Ciprofloxacino
- Clocef
- Cloridrato de Dopamina
- Clavulin
- Meropeném
Somente um médico pode dizer qual o medicamento mais indicado para o caso, bem como a dosagem correta e a duração do tratamento.
Tem cura?
Sepse tem cura?
Quanto mais rapidamente for realizado o diagnóstico e tratamento da sepse, melhores as expectativas para a condição geral do paciente. O inverso também é verdadeiro, fazendo com que o risco de morte aumente caso haja demora para o atendimento, sobretudo em pessoas com o sistema imunológico debilitado ou com uma doença crônica.
Também é comum que pacientes com sepse tenham sequelas depois de finalizado o tratamento. Elas podem diminuir ou desaparecer com o tempo ou acompanhar a pessoa para o resto da vida. Tudo depende do estado geral do paciente antes do problema, da gravidade, tempo de internação e local em que ocorreu a infecção.
Dentre as possíveis sequelas estão:
- Dificuldade de mobilidade (por perda de massa muscular)
- Problemas de memória
- Alterações cognitivas
Pacientes mais jovens tendem a se recuperar melhor destas sequelas do que pessoas com mais idade.
Fisioterapia, nutrição adequada e acompanhamento psicológico são medidas que podem ajudar a pessoa a se recuperar melhor, inclusive das sequelas. Bebês e crianças novas e em idosos têm uma tendência maior a sofrer os efeitos mais graves da sepse.
Prevenção
Dá para prevenir sepse?
O risco de sepse pode ser reduzido, principalmente em crianças, respeitando-se o calendário de vacinação. Uma higiene adequada das mãos e cuidados com o equipamento médico podem ajudar a prevenir infecções, inclusive hospitalares, que levam à sepse.
Além disso, fazer o tratamento adequado de infecções que podem parecer simples, como uma infecção urinária ou gripe, pode ajudar a prevenir o seu agravamento e a sepse.
Ter uma vida saudável, com prática de atividades físicas, alimentação balanceada, sem cigarro e evitando o consumo de álcool ajuda na condição de saúde total do corpo, o que também pode ajudar a prevenir o agravamento de infecções e a sepse.
Complicações possíveis
Caso o paciente não responda ao tratamento, ele pode evoluir para um choque séptico. A morte associada à sepse advém de disfunção orgânica aguda ou falência de múltiplos órgãos devido a infecções secundárias ou complicações decorrentes da doença de base.
Referências
Marcelo Maia, médico intensivista e coordenador médico do Centro de Tratamento Intensivo (CTI) do Hospital Santa Luzia, em Brasília - CRM: 10161/DF.
Decio Diament, infectologista e coordenador do Comitê Científico de Infecções em UTI da Sociedade Brasileira de Infectologia - CRM: 39049/SP.
José Ribamar Branco, infectologista da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo - CRM: 61663/SP.
Dra. Silvia Calichman, clínico geral e gastroenterologista - CRM 134021/SP
Ministério da Saúde / Agência Nacional de Saúde Suplementar
Instituto Latino Americano da Sepse
Levy MM, Dellinger RP, Townsend SR, et al; Surviving Sepsis Campaign: International Guidelines for Management of Severe Sepsis and Septic Shock: 2012. Crit Care Med February 2013, Volume 41 , Number 2.
Manual MSD: oferece informações médicas da época para uma ampla gama de usuários, incluindo profissionais médicos e alunos de medicina, veterinários e alunos de veterinária e público leigo