A clínica Saúde Porã conta com ampla equipe de fonoaudiólogas especialistas nas diferentes áreas de atuação: audição e s...
iA dislexia é um transtorno de aprendizagem que se caracteriza por dificuldades na aquisição e fluência da leitura e escrita e os sintomas variam de acordo com os graus desse transtorno. O disléxico tem dificuldade em associar o som ao sinal gráfico da palavra, desta forma tende a confundir direita com esquerda, a escrever de forma invertida ("dado" pode virar "adod"), omitir sílabas, a confundir palavras. O déficit no processamento fonológico é outra característica predominante nos indivíduos que são diagnosticados com esse transtorno.
As causas exatas da dislexia ainda não estão completamente claras, porém estudos com neuroimagem demonstram que há diferenças no desenvolvimento e funcionamento cerebral. Também há forte indicativo de componente genético, uma vez que os estudos clínicos indicam que mais de 50% das crianças com dislexia têm pais e irmãos com o mesmo transtorno. Assim sendo, a presença de pai ou irmão com dislexia aumenta a probabilidade de ocorrência do transtorno.
No Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais - DSM-5, a dislexia está inserida dentro de uma categoria mais ampla, denominada de "Transtornos do Neurodesenvolvimento", sendo referida como "Transtorno Específico de Aprendizagem".
Sintomas da dislexia
Segundo o manual, o seu diagnóstico é feito logo após a fase de alfabetização ser concluída e requer a identificação de pelo menos um dos seguintes sintomas:
1. Leitura de palavras é feita de forma imprecisa ou lenta, demandando muito esforço. A criança pode, por exemplo, ler palavras isoladas em voz alta, de forma incorreta (ou lenta e hesitante); frequentemente, tenta adivinhar as palavras e tem dificuldade para soletrá-las;
2. Dificuldade para compreender o sentido do que é lido. Pode realizar leitura com precisão, porém não compreende a sequência, as relações, as inferências ou os sentidos mais profundos do que é lido;
3. Dificuldade na ortografia, sendo identificado, por exemplo, adição, omissão ou substituição de vogais e/ou consoantes;
4. Dificuldade com a expressão escrita, podendo ser identificados múltiplos erros de gramática ou pontuação nas frases; emprego ou organização inadequada de parágrafos; expressão escrita das ideias sem clareza.
Entretanto, a simples presença de um ou mais sintomas não significa que a criança tenha dislexia, uma vez que estes também podem ser decorrentes de outros fatores como: deficiência (intelectual e sensorial, por exemplo), outros distúrbios de aprendizado, síndromes neurológicas diversas, transtornos psiquiátricos, problemas emocionais e fatores de ordem socioambiental (pedagógico, por exemplo).
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Nesse sentido, o manual (DSM-5) considera que, além dos sintomas mencionados, se deve levar em consideração os seguintes critérios:
- Persistência da dificuldade por pelo menos 6 meses (apesar de intervenção dirigida)
- Habilidades acadêmicas substancial e qualitativamente abaixo do esperado para a idade cronológica (confirmado por testes individuais e avaliação clínica abrangente)
- As dificuldades iniciam-se durante os anos escolares, mas podem não se manifestar completamente até que as exigências acadêmicas excedam a capacidade limitada do indivíduo, como, por exemplo: baixo desempenho em testes cronometrados
- leitura ou escrita de textos complexos ou mais longos e com prazo curto
- alta sobrecarga de exigências acadêmicas
- As dificuldades não são explicadas por deficiências, transtornos neurológicos, adversidade psicossocial, instrução acadêmica inadequada ou falta de proficiência na língua de instrução acadêmica.
Os fatores de risco para dislexia são observados ainda na fase precoce, quando se observa dificuldade na consciência fonológica e no reconhecimento das letras. Mais tarde, a dificuldade na decodificação de palavras pode comprometer outros aspectos relacionados à leitura (soletração e fluência), expressão escrita e, em parte dos casos, à matemática.
Destaca-se que as alterações acadêmicas são os sintomas mais evidentes e, portanto, facilmente identificadas por pais e professores. Porém, há que se atentar também para outros aspectos que costumam afetar crianças com dislexia, dentre os quais merecem ser mencionados: comprometimento da linguagem oral, sintomas de desatenção, dificuldade de coordenação motora, prejuízo das funções executivas, alteração do processamento auditivo e comorbidades psiquiátricas (como depressão, ansiedade).
Avaliação Multidisciplinar
O diagnóstico é solicitado quando há necessidade de um laudo para auxiliar educadores, terapeutas e pais de pessoas com Dislexia e/outros Transtornos de Aprendizagem e é realizado por uma equipe multidisciplinar composta principalmente por médicos, fonoaudiólogos, psicólogos e psicopedagogos. Além disso, o indivíduo é encaminhado para exames clínicos, como audiometria, Processamento Auditivo Central, testes de visão entre outros.
Intervenção na Dislexia
Sejam quais forem as limitações no processo de aprendizagem a intervenção sempre se faz necessária. A escola sozinha não dá conta de acompanhar essas crianças, pois é necessário trabalhar os aspectos alterados de forma terapêutica. Para estas crianças, adolescente e até adultos com um desempenho deficitário, uma intervenção correta também ajudará na baixa autoestima que eles apresentam. É preciso também desenvolver estratégias para melhorar o desempenho do aluno como: respeitar o ritmo de aprendizagem, ressaltar seus pontos fortes e nunca dizer que ela é lenta ou não inteligente, trabalhar com atividades que desenvolva a consciência fonológica na sala de aula, incentivar a autoconfiança e evitar expor as dificuldades da criança na frente dos colegas como numa leitura em voz alta.
Referências
Juliana Ogau - Fonoaudióloga pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e Mestranda em Linguagem Infantil também pela Universidade de São Paulo. Fonoaudióloga da clínica Saúde Porã.
Juliana Durigan - Graduada em Letras/Língua Portuguesa pela Universidade de São Paulo (USP), Pedagoga e Especialista em Psicopedagogia Clínica e Educacional pela Universidade São Camilo. Experiência clínica na Saúde Porã.
Lima RF, Azoni CAS, Ciasca SM. Funções executivas na dislexia do desenvolvimento. In: Ciasca SM, Rodrigues SD, Azoni CAS, Lima RF, eds. Transtornos de aprendizagem. Neurociência e interdisciplinaridade. São Paulo: Book Toy; 2015. p.323-38
Farrell M. Estratégias educacionais em necessidades especiais. Dislexia e outras dificuldades de aprendizagem específicas. Porto Alegre: Artmed; 2008.