Médica graduada pela Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) desde 2012. Fez residência médica na especialid...
iRedatora de saúde e bem-estar, autora de reportagens sobre alimentação, família e estilo de vida.
O que é Dislexia?
Dislexia é um distúrbio genético que se caracteriza pela dificuldade de aprendizagem, que compromete a capacidade de leitura e escrita. Entre alguns dos sinais da dislexia estão lentidão no aprendizado, problemas de concentração, dificuldade em soletrar e confusão com letras, sons ou grafias parecidas.
Não se trata de uma doença, mas de uma característica genética configurada entre a décima sexta (16ª) e a vigésima quarta (24ª) semana de gestação do feto. Segundo a Associação Brasileira de Dislexia, a dislexia está presente entre 5% e 17% da população mundial, podendo afetar as áreas visual e auditiva.
Dislexia e TDAH: quais são as diferenças?
O TDAH, transtorno de déficit de atenção com hiperatividade, é um distúrbio que afeta a capacidade concentração, gerando inquietação, ansiedade e impulsividade. A dislexia, por sua vez, é um transtorno que afeta a capacidade de aprendizagem, o que resulta em problemas de escrita, fala e leitura.
Saiba mais: Saiba identificar e tratar a dislexia em crianças
Causas
As causas da dislexia ainda são desconhecidas. No entanto, acredita-se que o fator genético e o ambiental tenha relevância, já que é comum que pessoas diagnosticadas com dislexia tenham um histórico do diagnóstico na família. Grande parte dos estudiosos também concorda com a origem multifatorial da dislexia, ou seja, com a ideia que suas causas podem ser genéticas e ambientais.
Na prática, quem não tem dislexia utiliza três áreas do cérebro enquanto está lendo. A primeira faz a identificação das letras, a segunda parte faz com que entendamos o significado da palavra. Por fim, uma terceira área processa todas essas informações.
Em uma pessoa com dislexia, as duas primeiras áreas são menos ativas. Em compensação, a parte frontal é obrigada a trabalhar mais e até o lado direito do cérebro é ativado.
As prováveis causas da dislexia são:
- Origem neurobiológica
- Alterações cerebrais: mau funcionamento, atraso no amadurecimento do sistema nervoso central, ou falha na comunicação entre os neurônios, o que dificulta as funções de coordenação
- Perturbações no parto ou início da vida
Tipos
Os tipos de dislexia mais comuns são:
- Dislexia visual: causa dificuldades em diferenciar os lados direito e esquerdo e erros na leitura devido à má visualização das palavras
- Dislexia auditiva: ocorre devido à carência de percepção dos sons, o que também acarreta dificuldades com a fala
- Dislexia mista: é a união dos dois tipos de dislexia. Com isso, o portador poderá ter, por exemplo, dificuldades visuais e auditivas ao mesmo tempo
Sintomas
Sintomas da dislexia
Os sintomas da dislexia são iguais para crianças e adultos. A diferença é que, na infância, o distúrbio é acentuado e pode ser identificado mais facilmente, uma vez que a criança irá apresentar dificuldades na fase de aprendizagem e alfabetização.
Pesquisas científicas recentes concluíram que o sintoma mais conclusivo acerca do risco de dislexia infantil, seja em criança pequena ou mais velha, é o atraso na aquisição da fala e sua deficiente percepção fonética. Por isso, os responsáveis precisam estar atentos a este sintoma.
Os sintomas da dislexia são:
- Dispersão
- Falta de atenção
- Atraso da fala e linguagem
- Dificuldade em aprender rimas e canções
- Atraso na coordenação motora
- Falta de interesse por livros
- Dificuldade na aquisição e automatização da leitura e escrita
- Desatenção
- Dificuldade em copiar de livros e lousa
- Desorganização geral (dificuldade em manusear mapas, dicionários)
- Dificuldade em ler em voz alta e compreender aquilo que foi lido
- Baixa autoestima
Saiba mais: Distúrbios de aprendizagem: como distinguir das dificuldades comuns?
Diagnóstico
O diagnóstico de dislexia é sempre feito por uma equipe multidisciplinar, que envolve profissionais de:
- Neurologia
- Neuropsicologia
- Fonoaudiologia
- Psicopedagogia
Segundo a psiquiatra Priscilla Dossi, o diagnóstico de dislexia é feito através de uma avaliação clínica. Nela, o profissional irá avaliar os sinais e observar o comportamento do paciente durante a realização de algumas atividades, como por exemplo:
“Quando a criança faz uma leitura imprecisa, é muito lenta, não consegue lembrar o que ela leu e tem dificuldade na compreensão do que ela lê. Na ortografia, a criança faz a letra espelhada (ao contrário), troca de fonemas, como as letras B e P. Além da dificuldade em escrever aquilo que ela quer pôr no papel”, explica.
Ainda segundo a especialista, na maior parte dos casos, a criança já apresenta um histórico de atraso na fala e na compreensão de comandos orais dados pelos pais. “Ela já apresenta uma dificuldade prévia e, ao chegar na escola, a dificuldade fica ainda maior''.
Feito o diagnóstico, é importante que o professor se junte ao profissional que tratará a criança e, dessa forma, combine uma maneira de aprendizado diferente. Não é só o psicólogo quem faz o diagnóstico, e sim o conjunto: professor, pais, fonoaudiólogo, psicopedagogo, etc.
Tratamento
Tratamento para dislexia
O tratamento para dislexia é multidisciplinar e visa a superação das dificuldades apresentadas, desenvolvendo as habilidades básicas necessárias para um aprendizado efetivo através de um programa de reabilitação, bem como orientação da família e escola.
É necessário ajustar os métodos de ensino de forma a corresponder às necessidades da pessoa. Embora isto não constitua uma cura para o problema, pode diminuir o grau dos sintomas.
Também vale ressaltar que existem dois métodos de alfabetização utilizados no tratamento para dislexia: o multissensorial e o fônico.
- Método multissensorial: é mais indicado para crianças mais velhas, que já possuem histórico de fracasso escolar
- Método fônico: é indicado para crianças mais jovens e preferencialmente deve ser introduzido logo no início da alfabetização
Atividades para crianças com dislexia
Durante o desenvolvimento da criança com dislexia, o profissional aplica uma série de atividades estratégicas, com o objetivo de cativar a atenção do paciente e fazer com que seu foco seja maior. Priscilla lista alguns:
“Algo com percepção melhor da parte auditiva ou visual, como músicas, rimas, atividades ritmadas. Na parte visual, coisas mais coloridas ou jogos para preencher. Jogos simples, como caça-palavras, chamam a atenção da criança para a questão fonética, fazendo-a focar nas vogais. Isso faz com que ela fixe a atenção de uma maneira não tradicional”.
Tem cura?
Dislexia tem cura?
A dislexia não tem cura. No entanto, com o acompanhamento médico adequado, como o auxílio de fonoaudiólogos e psicólogos, é possível que o paciente viva uma vida normalmente, adaptando-se às dificuldades provocadas pelo distúrbio.
Saiba mais: Dislexia tem cura? Entenda mais sobre o transtorno
Convivendo (Prognóstico)
O apoio da família é indispensável para o desenvolvimento e sucesso do tratamento. Os familiares devem incentivar cada sucesso obtido, tendo sempre muita paciência, lendo e se informando sobre o assunto.
Nas atividades que podem ser desenvolvidas, é preciso levar em conta a diferença entre ler para os filhos e ler com os filhos. É importante visitar livrarias ou bibliotecas com os filhos e escolher um livro adequado para que leiam juntos, trocando impressões sobre a leitura.
Os pais devem se sentar ao lado do filho para acompanhar a leitura com ouvidos, olhos e coração. Feita a leitura, os pais podem propor jogos de perguntas e respostas sobre cada parágrafo do texto, pedir para que o filho conte o que leu e o que ouviu, buscar na memória assuntos relacionados com o tema da leitura atual, descobrir palavras no texto, entre outras coisas que tornem a leitura uma atividade familiar, uma leitura compartilhada.
Além da leitura, existem jogos de tabuleiro que envolvem conhecimentos gerais e podem auxiliar na assimilação, como palavras cruzadas. Eles tornam a leitura e a escrita uma coisa prazerosa, e não um simples "dever de casa".
Na escola, o ideal é que crianças com qualquer tipo de necessidade especial sejam incluídas naturalmente nas atividades do grupo, não perdendo de vista as suas dificuldades específicas. Contando com bom senso pedagógico, sensibilidade e formação do professor, ele saberá distribuir as tarefas de acordo com as possibilidades de cada um.