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É muito difícil, para não dizer impossível, encontrar uma pessoa que nunca tenha passado por algum descontentamento com o próprio corpo. O grande problema por trás desse sentimento é que nem sempre ele é motivado pela satisfação pessoal, mas sim encarado como uma obrigatoriedade.
De acordo com a pesquisa Life Insights realizada pelo Minha Vida, das 539 mulheres com idade entre 25 a 54 anos que responderam a pesquisa, 82,6% estão insatisfeitas com seu peso atual. A mesma pesquisa realizada com 91 homens com idade entre 25 a 54 anos, aponta que 76,9% também se sente descontente.
O culto ao corpo perfeito é pregado a todo instante, muitas vezes fazendo com que as pessoas, em sua maioria mulheres, se submetam a "fórmulas mágicas", que colocam a saúde em risco, para atingir um modelo de corpo ideal.
Perguntamos aos nossos leitores no Facebook e no Instagram quais haviam sido as maiores loucuras que eles já fizeram para emagrecer e as práticas mais apontadas foram: uso de medicamentos sem prescrição médica, exagerar na prática de exercícios físicos, indução do vômito e dietas extremamente restritivas.
Mas antes de continuarmos, é de suma importância enfatizar que este conteúdo não tem como intuito julgar ou incentivar qualquer atitude exposta aqui. Nosso objetivo é alertar para os riscos que estas podem implicar, e mostrar que você pode, e DEVE, amar e cuidar de seu o corpo acima de qualquer padrão estético determinado pelo mercado.
E o que essas práticas têm em comum?
Riscos. A pressão para se encaixar nos padrões ditados pela mídia e para ser aceita em rodas sociais faz com que as pessoas passem a exigir cada vez mais de si. A psicóloga Lia Clerot alerta que essa cobrança excessiva pode ser o gatilho para problemas como distúrbios de imagem e distúrbios alimentares.
A auto indução de vômito, por exemplo, não necessariamente revela um quadro de bulimia nervosa. Para a pessoa receber esse diagnóstico é preciso cumprir uma série de critérios, e não somente a prática de vômitos. Por outro lado, a nutricionista comportamental Nathália Petry alerta que uma pessoa pode ter um quadro de bulimia nervosa sem apresentar a auto indução do vômito e ter outros sinais de compensação.
"Vivemos em uma sociedade onde se prega a magreza como referência de beleza. Existe um apelo maciço em torno do corpo magro, desfilando roupas que caem com perfeição, e pagam no corpo pelo sacrifício. Essa é uma situação que vem aumentando muito entre a população brasileira em função de uma mídia forte, que passa a imagem da mulher muito magra como saudável, bonita e feliz", alerta a psicóloga Luciana Kotaka.
A busca por remédios para emagrecer também é um fator preocupante. Seu uso só é indicado para pessoas com IMC acima de 30, ou pessoas com IMC acima de 27 e doenças metabólicas, pois somente nessas situações os efeitos colaterais dos medicamentos não superam os benefícios possíveis. E mesmo assim o medicamento nunca é a primeira opção para emagrecimento. Segundo a endocrinologista Andressa Heimbecher, o ideal é que primeiro o paciente experimente mudar hábitos como sua alimentação e grau de atividade física realizada no dia a dia. "Caso essas medidas não se mostrem eficazes, aí sim os medicamentos podem e devem ser indicados, respeitando o perfil de cada paciente", explica.
"Se a pessoa utilizar uma substância que cause taquicardia, por exemplo, e tiver uma alteração cardíaca de base que não fez diagnóstico porque não procurou um médico, ela está arriscando a própria vida", alerta a endocrinologista Tarissa Petry. De acordo com a especialista, as medicações que são derivadas de anfetamina geram saciedade, porém causam efeitos colaterais como taquicardia e hipertensão arterial, podendo aumentar o risco cardiovascular principalmente em quem já tem alto risco.
A importância de buscar ajuda
Mas, se a maioria de nós já conhece de cor e salteado todos esses riscos, por que ainda assim alguns ainda insistem nessas práticas? Lia alerta que a autocrítica realizada de forma incessante também pode refletir na distorção de valores. "A maioria das pessoas acredita que só será aceita pela sociedade se alcançarem aquilo que consideram uma imagem de corpo perfeita, não levando em consideração nenhum aspecto referente ao comportamento ou personalidade" explica a psicóloga.
A pressão para emagrecer é tão cruel e desumana que em alguns casos o emagrecimento se torna mais importante do que a saúde. E esse pensamento muitas vezes é reforçado por nós, mesmo que não intencionalmente. Quando elogiamos alguém que emagreceu, por exemplo, inconscientemente estamos passando a ideia de que uma pessoa precisa perder peso para ser elogiada ou se sentir bonita, independente de qual seja o real motivo de sua perda de peso.
Sendo assim, essas práticas podem acabar se naturalizando por quem passa por esse momento de insatisfação, a ponto de não notar que pode realmente adoecer. Lia propõe que caso pessoas próximas observem essa mudança de comportamento na outra, busquem ajudá-la a perceber e entender o que as induz a essas técnicas, para que se avalie a necessidade de um auxílio profissional.
Esse auxílio pode partir de um nutricionista comportamental, um psicólogo ou até mesmo um psiquiatra. Lia esclarece que no caso de acompanhamento psicoterapêutico, o profissional ajuda o paciente a ter uma nova percepção da própria imagem, auxiliando-o a reconhecer e aceitar o próprio corpo, recuperando a autoestima e o valor de coisas simples do cotidiano. No caso da nutrição comportamental, o profissional trabalhará de acordo com os aspectos emocionais e fisiológicos da alimentação, buscando estabelecer uma melhor relação com a alimentação e a utilizando a favor da saúde e bem estar.
Para Nathalia Petry a alimentação não deve ser fonte de sofrimento. "Comer deveria ser um processo muito simples. Então, é importante a busca de ajuda de profissionais que ajudem a descobrir uma forma de se alimentar mais tranquila. Ou seja, é preciso reaprender e entender os sinais do corpo, fazer as pazes com os alimentos e redescobrir o que faz bem para o organismo. Tudo isso para que comer volte a ser algo prazeroso e tranquilo" explica.
Comer com culpa não é normal
Cuidar da alimentação é bom, mas não ter preocupações exacerbadas a ponto de prejudicar a saúde é fundamental. Portanto, coma bem e não coma com culpa. "É preciso reaprender a se conectar com os sinais da fome e da saciedade, para poder se alimentar com tranquilidade" complementa Nathália. Conheça 7 sinais que podem indicar que sua relação com a comida não anda muito bem.
Estabelecer uma boa relação com o alimento é também dedicar plena atenção a ele no momento da refeição. Essa prática é conhecida como Minduful Eating e um de seus benefícios é favorecer a percepção e a consciência do que está sendo ingerido, diminuindo o sentimento de culpa e arrependimento. Veja aqui seus benefícios e como praticar.
O movimento na medida certa
Nos últimos anos, as redes sociais foram dominadas por "musos fitness" que buscam passar para seus seguidores a mensagem de que é possível sim sentir prazer pela prática de exercícios - e eles estão completamente certos. Os exercícios físicos realmente podem ser prazerosos e promover a sensação de bem estar. Mas, devemos ter atenção para que isso também não reforce que o padrão estético ideal é o do corpo magro ou definido.
É preciso o que o exercício seja praticado de modo que o limite do corpo seja respeitado. Para o personal trainer Anderson da Costa, o exercício físico em excesso, como qualquer outra coisa na vida, apresenta malefícios. "Não é porque atividades se tornam prazerosas e promovem benefícios que devem ser feitas todos os dias e sem controle de volume. O esforço extremo e repetitivo pode resultar em graves lesões, é importante buscar resultados, mas sempre respeitando seu limite", alerta o profissional.
Ser magro não é o mesmo que ser feliz
Falar de nossa relação com alimentos e com nossa imagem é muito mais do que falar de dietas, peso e estética. É falar de nossas estruturas emocionais afetivas. "As formações de nossas estruturas emocionais dependem e muito do aprendizado e estímulos que recebemos e essas mensagens podem nos determinar na vida, gerando uma pessoa confiante ou insegura, com amor próprio ou culpada por ser quem é, e inclusive nos ensinando a julgar, cobrar, apontar e ofender outras pessoas", explica a psicóloga Raquel Baldo.
Proteja-se, pratique o auto amor
A autoconfiança é a sua maior arma contra os estereótipos da sociedade. E para isso, Lia explica que o mais importante é entender que por trás dessa exigência exacerbada está uma grande máquina financeira que te induz a acreditar que você sempre precisará mudar algo para ser aceito na sociedade. Ela afirma que exercitar a autoconfiança, o auto amor e o autoconhecimento é o melhor meio de se defender dessas armadilhas. "A maneira mais eficaz de desenvolver essas potencialidades é conhecendo e respeitando suas limitações, seu corpo e sua mente. Sempre mantendo o foco em sua essência, suas qualidades e em seu potencial" complementa.
"O problema é quando eu só consigo ser feliz se meu corpo estiver de tal forma", alerta a psicóloga Salma Cortez. Por isso, se amar passa por você viver um relacionamento leve com você mesmo. "O amor-próprio é uma qualidade da personalidade que precisa ser desenvolvida", complementa. Conheça dicas para começar a praticar o amor próprio.
Lia ressalta que o autoconhecimento é fundamental para desenvolver o amor por si mesmo e fortalecer a autoestima. E nas palavras dela, ter autoconfiança é ter certeza de quem você é. "É preciso se aceitar por completo. Sendo assim, o que o outro pensa a seu respeito não terá relevância para você. É importante que você seja responsável por sua própria felicidade e permita que ela se expanda para sua vida. Uma pessoa com uma boa relação com a aparência consegue harmonizar o seu interior com o mundo externo, trazendo equilíbrio e proporcionando realizações pessoais e profissionais", finaliza Lia. Veja aqui como praticar a terapia do espelho, método de autoconhecimento capaz de melhorar a autoestima.